Venezuela tenta retomar negociações da dívida com credores
O governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem se aproximado de alguns dos credores do país em uma tentativa de estabelecer as bases para um acordo de dívida caso as sanções sejam flexibilizadas após as eleições nos Estados Unidos em novembro.
Sua equipe entrou em contato por telefone com credores de títulos locais nas últimas semanas, bem como com investidores da Colômbia, Argentina e Europa, segundo pessoas a par do assunto.
Investidores de peso, como a Fidelity Investments, de Boston; Goldman Sachs e BlackRock, de Nova York; e Pacific Investment Management, de Newport Beach, Califórnia, não estão incluídos nas negociações devido às restrições impostas pelo governo Trump. Porta-vozes dessas empresas não quiseram comentar.
As novas discussões refletem a tentativa de evitar um série de processos judiciais de credores exigindo reembolsos por pagamentos não realizados, juntamente com a esperança de que um possível governo de Joe Biden reconsidere as sanções dos EUA que prejudicaram a reestruturação da dívida de US$ 60 bilhões.
Quase três anos após o default, Maduro começa a se afastar do seu socialismo do século 21 e abraçar o capitalismo enquanto o país sente o impacto da campanha de “pressão máxima” do governo Trump.
No início deste mês, a Assembleia Constituinte – formada por aliados de Maduro em 2017 para rivalizar com a Assembleia Nacional liderada pela oposição – aprovou uma lei antibloqueio para abrir mais setores ao investimento privado.
Mudança de realidade
As medidas coincidem com uma realidade em mudança no exterior: embora os EUA tenham reunido dezenas de nações em apoio ao presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, no início do ano passado, a posição do líder da oposição entre a comunidade empresarial internacional está desmoronando.
Gestores de ativos, executivos de empresas e empreendedores de tecnologia com dinheiro em jogo na Venezuela estão cada vez mais migrando para o lado de Maduro, de acordo com pessoas envolvidas nas negociações.
Além disso, três dos principais assessores de Guaidó – Ricardo Hausmann, Alejandro Grisanti e José Ignacio Hernández – se afastaram. Seu time sofreu uma derrota na sexta-feira, quando um juiz federal de Nova York determinou que a PDVSA deve abrir mão de sua participação na Citgo Holding como resultado do default da dívida no ano passado.
Uma autoridade do Ministério de Economia e Finanças da Venezuela disse que não havia ninguém disponível para comentar. Representantes da estatal Petróleos de Venezuela, a assessoria de imprensa de Guaidó e o Comitê de Credores da Venezuela não responderam a pedidos de comentário.
Qualquer discussão entre credores de títulos e o governo socialista poderia atrair a atenção das autoridades americanas, que ameaçaram com sanções secundárias. Novos contratos também podem ser rejeitados por um futuro governo em Caracas.
Uma reestruturação da dívida não é prática enquanto alguns dos principais credores do país – com sede nos EUA – forem deixados de fora das negociações devido às sanções.
“O universo de empresas – domésticas e estrangeiras – que estariam dispostas a aprofundar os laços com Maduro é provavelmente bastante limitado”, disseram Risa Grais-Targow e Laura Duarte, analistas do Eurasia Group, em relatório.