Internacional

Venezuela enfrenta risco de falta de acesso a vacinas

21 jan 2021, 17:56 - atualizado em 21 jan 2021, 17:56
Vacinas Coronavírus
A Venezuela fica atrás do mundo no início da vacinação de seus profissionais de saúde e dos mais frágeis (Imagem: Reuters/Pascal Rossignol)

Uma disputa entre o governo venezuelano e a oposição sobre os testes de Covid-19 enviados pelo Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) ameaça também restringir o acesso às vacinas tão necessárias ao país dilacerado pela crise.

Os termos de um raro acordo fechado em junho passado entre o governo do presidente Nicolas Maduro e o líder da oposição Juan Guaido, para o uso de fundos offshore congelados pelas sanções dos EUA para a compra de testes para distribuição em hospitais venezuelanos, não foram mantidos, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto.

Após a chegada na Venezuela em final de outubro, o governo assumiu o controle total dos testes e mal os distribuiu, disseram as pessoas, contrariando o acordo com a oposição e as diretrizes da OPAS.

Desde que 340.000 testes de antígenos chegaram à Venezuela no final de outubro, apenas cerca de 3.000 foram usados, ou cerca de 1%, de acordo com a OPAS.

Enquanto a Venezuela fica atrás do mundo no início da vacinação de seus profissionais de saúde e dos mais frágeis, a OPAS está negociando caminhos para obter vacinas por meio de um fundo, pois o prazo para acesso à iniciativa Covax, da Organização Mundial de Saúde, já terminou, disse Ciro Ugarte, diretor de emergência da organização com sede em Washington, em uma entrevista coletiva em 19 de janeiro.

Mas o precedente com os testes e as dívidas acumuladas com a OPAS, de cerca de US$ 11 milhões, tornam essa opção impossível no momento, disseram as pessoas.

O Ministério da Informação da Venezuela não respondeu aos pedidos de comentários.

Maduro, por sua vez, pode não ver a necessidade de trabalhar com a OPAS ou a OMS para providenciar as vacinas. Seu governo anunciou um acordo com o Instituto Gamaleya da Rússia para comprar cerca de 10 milhões de doses da Sputnik-V, que devem chegar nos primeiros três meses do ano. Cuba também irá fazer testes para sua própria vacina na Venezuela.

A Venezuela registra 121.691 casos e 1.122 mortes por coronavírus (Imagem: Freepik/www.slon.pics)

Com 121.691 casos e 1.122 mortes por coronavírus, a Venezuela – um país com cerca de 27 milhões de habitantes – ou teve a sorte de evitar uma disseminação maior devido ao seu relativo isolamento e bloqueios impostos pelo governo ou não está rastreando e relatando a doença com precisão.

Na vizinha Colômbia, com uma população de 49 milhões de pessoas, foram registrados quase 2 milhões de casos com quase 50.000 mortes.

Até 7 de janeiro, apenas cerca de 485 mil testes de PCR haviam sido realizados desde que o primeiro caso de coronavírus foi notificado em março, de acordo com um documento do Ministério da Saúde visto pela Bloomberg. Isso significa 17 testes por 1.000 pessoas – uma das taxas de testes mais baixas relatadas na América do Sul. A Bolívia fez 37 testes por 1.000.

“O governo falhou em proteger a população ao não administrar testes que teriam identificado os portadores do vírus e prevenido novas infecções”, disse o médico e ex-ministro da Saúde Felix Oletta.

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