Vender VALE3 e comprar MGLU3? Ações domésticas devem ganhar força nos próximos meses; e as commodities?
A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu um susto no mercado, na expectativa por um sinal claro de que o corte da Selic vai acontecer em agosto.
Com um comunicado interpretado como hawkish (postura mais agressiva em relação aos juros) pelos investidores, a Bolsa local devolveu parte dos ganhos acumulados ao longo dos últimos meses. Aos poucos, no entanto, volta a ganhar confiança com os próximos passos do BC.
Apesar da volatilidade no curto prazo, agentes do mercado seguem otimistas com a recuperação das ações. Antecipando-se ao movimento de corte de juros (que os especialistas acreditam que vai acontecer muito em breve), investidores estão movimentando suas carteiras para aproveitar a nova dinâmica.
Foco em ações domésticas
Ativos cíclicos locais voltaram ao radar do mercado. Varejo e construção civil, especialmente, ganharam mais posição nos portfólios.
No início do mês passado, Isabel Lemos, da Fator Administração de Recursos, disse ao Money Times que a gestora, por meio do fundo Fator Ações, está com posição em nomes de consumo (Grupo Soma [SOMA3] e Lojas Renner [LREN3]) e do setor imobiliário (Direcional [DIRR3] e Eztec [EZTC3]). As empresas em questão são as que têm mais a se beneficiar com a perspectiva de juros em queda, explicou.
Enquanto isso, o gestor de renda variável Rodrigo Mello, da Tenax Capital, comentou que a gestora chegou a comprar muitas small caps, seguindo um movimento que tem ganhado força na Bolsa.
Para Mello, o Índice Small Cap (SMLL) pode seguir “outperformando” (ter desempenho maior) em relação ao Ibovespa nos próximos meses, até pela definição do arcabouço fiscal.
O gestor avaliou que, conforme o governo vai se frustrando quanto às novas arrecadações, será preciso lançar novas medidas para financiar o arcabouço. Nesse caso, na falta de receita, a probabilidade de o governo buscar recursos em ativos voltados a large caps é maior do que a perspectiva de apoio nas small caps.
Analistas também estão mais construtivos com ativos cíclicos domésticos e small caps. João Piccioni, da Empiricus Research, avaliou que os investidores ainda vão continuar colocando dinheiro nas ações cíclicas domésticas. O analista cita como exemplo a onda de ofertas subsequentes de ações (follow-on, em inglês) pela qual o mercado está passando agora.
“Isso, de certa forma, sinaliza que tem apetite do investidor para fazer essa alocação em cíclicas domésticas”, disse.
A Empiricus recentemente voltou a acompanhar as ações do Magazine Luiza (MGLU3), um dos calls mais penalizados pelo ambiente macro desafiador, de acordo com a casa de análise. Apesar de a ação não fazer parte das carteiras da casa, Piccioni defendeu que a empresa se provou capaz de passar por momentos difíceis antigamente e “tem tudo para repetir a dose”.
O desempenho do papel foi fraco em junho, mas Piccioni disse acreditar haver espaço para recuperação mais à frente.
Commodities merecem o benefício da dúvida?
Nesse novo ciclo, investidores devem enxugar a exposição a ativos ligados a commodities. Isso não quer dizer, no entanto, que elas sairão do radar do mercado.
Bruno Di Giacomo, CIO da Nero Capital, afirmou que a queda de exposição das commodities, consideradas as “grandes campeãs” da Bolsa, ocorre por uma escolha de estratégia de setores e não necessariamente reflete um ceticismo por parte do mercado.
“Acho que as grandes campeãs não deixaram de ser cavalos amplamente considerados pelo mercado, mas a proporção de alocação nelas será menor”, comentou.
A Vale (VALE3), por exemplo, é uma das ações mais penalizadas do Ibovespa em 2023. A companhia é diretamente afetada pela oscilação dos preços do minério de ferro, que sofreram uma forte correção desde o pico de US$ 130/tonelada, no início do ano.
Preocupações com o ritmo de recuperação da economia chinesa têm feito o mercado virar a cara para a mineradora.
Piccioni, da Empiricus, explicou que investidores estão olhando para a China e esperando uma reação mais intensa depois do período de lockdown por conta do coronavírus.
Para o analista, a situação tende a melhorar para a China no fim do ano – se não houver problemas com o cenário macro global (ciclo de aperto monetário, desaceleração da economia). Nesse caso, as commodities seguiriam a esteira.
Apesar do curto prazo pressionado, a ação da Vale é um investimento oportuno pensando em prazos mais alongados, defendeu Piccioni.
Na opinião do analista, a Vale, atualmente negociada na casa dos R$ 65, é um ativo bom para manter na carteira.
“Vai continuar barato por um bom tempo e, dada a capacidade de gerar caixa, acho legal”, disse, em live ao Giro do Mercado.
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