Venda do Makro: Em meio ao Carrefour (CRFB3) e GPA (PCAR3), Muffato vai sobreviver em São Paulo?
O mercado recebeu na última segunda-feira (25) uma notícia que já era iminente: a saída definitiva do Makro do Brasil dois anos após vender a primeira metade de suas operações. A surpresa, no entanto, envolve o possível comprador: o Grupo Muffato, do Paraná.
Caso pague entre R$ 2 e R$ 3 bilhões, o Grupo Muffato arremata as cerca de 24 lojas restantes do Makro, todas em São Paulo. É certo que nem todos os pontos de venda são competitivos, mas nesse contexto estão as unidades da Vila Maria e Butantã, na capital.
Caso o negócio se concretize, o grupo paranaense poderá fincar bandeira em um dos mercados mais competitivos do Brasil: São Paulo (capital e região metropolitana).
O peso da entrada em São Paulo:
Caso tal aquisição se concretize, o Muffato entrará em um nicho extremamente sensível, que é o de varejo alimentar em uma região que desconhece. Existem alguns ofensores a serem considerados:
Mercado bilionário
Diferente do varejo de vestuário, onde é inimaginável que uma rede de lojas entre as cinco maiores do Brasil não esteja presente em um estado como São Paulo, no varejo alimentício há cifras bilionárias vindas de operações que ninguém, salvo os interessados no assunto, conhece.
Das cinco maiores redes supermercadistas do Brasil, 40% não possuem uma loja sequer em São Paulo. Segundo relatório do Ranking ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados), o quinto colocado, Supermercados BH, com forte presença na capital e interior de Minas, fatura R$ 11,1 bilhões.
Já o Grupo Mateus, quarto colocado, tem sua loja mais próxima da capital de São Paulo, a 1.317 quilômetros – na cidade baiana de Teixeira de Freitas.
Tal fenômeno se justifica por vários fatores. O principal é o mais visível durante a pandemia: por serem artigos de primeira necessidade, toda família vai pelo menos uma vez ao mês ao supermercado enquanto a compra de roupas sempre pode esperar (desde a data de pagamento do salário até a chegada de alguma data comemorativa).
Ainda que haja sonhos de vários empresários das empresas citadas de entrar em São Paulo, a medida é vista com cautela. É sim possível fazer muito dinheiro, inclusive de ordem de grandeza nacional, sem estar em São Paulo. Logo, por que a pressa de se arriscar em um mercado novo e tão concorrido?
Se o Grupo Mateus (GMAT3) ainda não entrou em São Paulo, não haveria motivo que justificasse esse conservadorismo, que contrasta com a abertura acelerada de lojas no Nordeste, onde dominam?
Tradição
Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) encabeçam a lista dos varejistas com maior faturamento no Brasil – e desta vez, sim, todos possuem endereços em São Paulo e grandes laços com a região.
O Grupo Carrefour, que é francês, tem sua história entrelaçada com a operação do Brasil. A primeira loja na França abriu em 1959 e no Brasil em 1975 – em São Paulo, mais precisamente na Marginal Pinheiros, na Chácara Santo Antônio.
Independentemente de altos e baixos ao longo dessa trajetória, o Grupo Carrefour tem sua força inquestionável: além da capilaridade da rede de hipermercados, a marca ainda tem é dona do Atacadão e recentemente concluiu a aquisição do BIG.
Além disso, há dezenas de lojas do Carrefour Express em São Paulo. Seja lá qual for o perfil do consumidor (o de ir a hipermercados, atacarejos ou minimercados), o Carrefour possui uma bandeira para ele.
Já o Casino é dono do Grupo Pão de Açúcar e do Assai. Juntas, as duas redes faturam mais de R$ 120 bilhões ainda que tenham operações apartadas.
A primeira loja do Pão de Açúcar foi aberta em 1948 e existe até hoje na Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Com mais de 70 anos de tradição, mesmo com a mudança de controlador (de Abílio Diniz e sua família para o Casino), o Pão de Açúcar segue na Brigadeiro.
Fracasso de concorrentes
A vida dos concorrentes do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour nunca foi fácil no Brasil – e isso pode prejudicar o Muffato, seja lá qual for a estratégia desejada para se entrar aqui.
O Walmart, por exemplo, chegou ao Brasil cheio de expectativas em 1995. Maior varejista do mundo, com capital em dólar para investir em um país que começava a se estabilizar com o real, o que poderia dar errado? Tudo.
A loja de Osasco, por exemplo, chegou a vender botas de neve e tacos de golfe. Nunca nevou em Osasco. O golfe nunca foi popular no Brasil.
Também fracassou a estratégia de ‘preço baixo todo dia’, adotada nos EUA (‘every day low prices’). O consumidor brasileiro sempre foi acostumado com dias específicos de promoção, como a segunda da carne ou a terça das verduras. Ao generalizar afirmando que haveria preços baixos sempre, a leitura do consumidor foi que não haveria preço baixo dia algum.
O que pode ser diferente com o Muffato?
A confiança do Muffato no Paraná, onde têm praticamente 50 anos de história, os colocou em condição tão privilegiada a ponto de investir em negócios totalmente alheios ao core business.
Isso é cada vez mais raro: não é incomum que holdings, temendo investimento estrangeiro nos concorrentes e a digitalização, concentrem seus esforços no que fazem de melhor. O Muffato também é dono do Shopping Total, em Ponta Grossa, da TV Tarobá, afiliada da Band, e da Rádio Tarobá FM.
É claro que em São Paulo as coisas não serão tão simples, mas analisar os erros dos concorrentes e a experiência de cinco décadas no Paraná podem ajudar.
A adaptação das lojas no modelo de atacarejo, cada vez mais em alta no Brasil, pode ser o caminho mais óbvio. A marca, inclusive, detém o Max Atacadista com quase 30 lojas espalhadas pelo Paraná.
A comunicação também é essencial, sobretudo para substituir os pontos de venda já existentes. O Makro ainda tem na mente do consumidor as diversas exigências feitas para que alguém pudesse comprar lá – desde cadastro prévio ao uso do cartão da loja ou pagamento em dinheiro.
Essas condições estão tão enraizadas para o consumidor que há cerca de quatro anos, a agência David precisou fazer uma forte campanha para deixar claro que o Makro não exigia cadastro, cartão próprio ou algum tipo de requisito para compra.
Mesmo que os dois modelos sejam aplicados, não há garantia de sucesso. Mesmo Assaí e Atacadão tendo ganhado força ao longo dos últimos 15 anos, ambas marcas já existem há décadas.
Por outro lado, as últimas duas grandes novidades do varejo alimentício brasileiro foram descontinuadas: o Extra (1989) e o Wal Mart (1995).
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