Venda de TikTok ainda levanta dúvidas sobre quem terá controle
A saga da venda do TikTok parece ter chegado a uma conclusão no fim de semana, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aprovou o negócio.
O acordo permitiria à Oracle e ao Walmart comprarem uma participação minoritária em uma nova entidade conjunta, chamada TikTok Global. “Dei minha bênção ao negócio”, disse Trump.
Mas a harmonia durou pouco. Apenas um dia depois de Trump prometer “nenhum envolvimento chinês”, a ByteDance, controladora do TikTok com sede em Pequim, disse que ficaria com 80% do controle da nova empresa.
Por outro lado, a Oracle disse que a ByteDance acabaria cedendo suas ações. Em comunicado ao Wall Street Journal, o vice-presidente executivo da Oracle, Ken Glueck, disse que assim que o TikTok Global for criado, “os americanos serão a maioria [acionistas], e a ByteDance não terá a propriedade”. É raro que partes envolvidas em um grande negócio discordem tão radicalmente sobre os detalhes, dizem analistas.
Uma das principais razões para a discrepância reside nas visões divergentes sobre a distribuição das ações do TikTok.
Uma proporção que tem sido divulgada pela Oracle e pelo Walmart é que investidores americanos controlarão mais de 50% do novo TikTok Global.
A princípio, isso parece estar em desacordo com a insistência da ByteDance de que terá uma participação de 80% na empresa.
Mas cidadãos americanos possuem uma fatia significativa da própria ByteDance: investidores dos EUA, como General Atlantic e Coatue, controlam 40% da gigante chinesa de Internet, disseram pessoas a par do assunto. Isso significa que, em teoria, também possuirão 40% da participação da ByteDance no TikTok. Combinado com os 20% da Oracle e do Walmart, o controle de investidores americanos sobe para mais da metade.
Mesmo com a ênfase da Oracle e do Walmart no controle americano, declarações da ByteDance mostraram que a empresa pode não estar inclinada a ceder o controle do TikTok Global para seus investidores dos EUA.
Se a ByteDance de fato continuar a ser a maior acionista, dependendo de como o negócio for estruturado, a empresa poderia ter direito a voto, conferindo maior autoridade de tomada de decisão do que a concedida aos acionistas minoritários do TikTok.
A matemática exata pode não importar muito, dada a exigência de Trump de que a China não se envolva no novo TikTok.
Dan Ives, analista da Wedbush Securities, acredita que a participação acionária de 50% dos EUA é importante para o governo Trump, mas Ives não vê a ByteDance saindo de cena totalmente. “A ByteDance ainda terá um papel significativo no TikTok”, disse Ives. “Qualquer sugestão dizendo o contrário seria equivocada.”
A simples diluição da participação de 80% da ByteDance na empresa com investimentos dos EUA pode não ser suficiente para Trump. “Algo precisa ceder, porque você não pode ter 80% e 0% ao mesmo tempo”, disse Mark Shmulik, analista da AB Bernstein.
Apesar de meses de negociações tensas, o negócio ainda pode fracassar – e não apenas por causa de Trump. O fundador da ByteDance, Zhang Yiming, também tem relutado em abrir mão do controle da empresa, que alguns acreditam possa se transformar na próxima grande plataforma de entretenimento do mundo.
Na segunda-feira, a mídia estatal chinesa sugeriu que o governo de Pequim não aprovaria um acordo como o que foi anunciado no fim de semana.
Shmulik, da Bernstein, disse que nunca havia visto um acordo de tecnologia como este. “Não tenho certeza se as empresas entenderam totalmente o que está acontecendo”, afirmou.