Venda de R$ 60 bilhões em ações do BNDES sob risco com eleição
Uma mudança profunda ocorrida na política econômica brasileira corre o risco de ser revertida dependendo do desfecho da eleição presidencial.
O governo do presidente Jair Bolsonaro comandou um encolhimento dramático no balanço de um dos maiores bancos públicos do mundo, o BNDES, reduzindo suas participações em ações, debêntures e fundos de investimento em mais de 56% desde 2019.
Mas o destino de cerca de R$ 60 bilhões restantes no portfólio de empresas listadas – e o tamanho do banco como credor corporativo nos próximos anos – provavelmente dependerá do desfecho das urnas: se Bolsonaro vence e mantém sua estratégia de desinvestimentos ou se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retorna ao poder e reverte o plano.
Os eleitores farão sua escolha em 30 de outubro, com questões importantes sobre o papel do Estado na economia em jogo.
O encolhimento do BNDES era um princípio central do atual governo e uma reversão da política anterior conduzida por Lula e seus aliados, que buscavam usar o banco para fortalecer os negócios no Brasil e criar campeões nacionais em indústrias como as de proteína, petróleo e celulose.
“Há pouca visibilidade sobre como será o BNDES nos próximos anos”, disse Felipe Thut, que comanda o Bradesco BBI. “Ainda há algumas participações bastante relevantes na carteira, embora a maior parte já tenha sido vendida.”
Pesquisas mais recentes mostram que Bolsonaro está reduzindo a liderança de Lula antes do segundo turno. O ex-presidente viu sua vantagem sobre Bolsonaro diminuir para 5,6 pontos percentuais na pesquisa da Quaest publicada em 19 de outubro, de quase 8 pontos há duas semanas. A pesquisa do Ipespe divulgada no dia anterior mostrou os candidatos empatados tecnicamente.
Se Lula vencer, o BNDES provavelmente freará o movimento de venda de ativos, segundo Guilherme Mello, um dos economistas que assessoram o ex-presidente.
O governo não necessariamente interromperia todas as vendas, mas examinaria mais de perto as participações do banco e consideraria o que poderia valer a pena manter, disse Mello. O banco ainda detém participações em empresas como Petrobras e Tupy.
O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, supervisionou vendas de cerca de R$ 93 bilhões em ativos, incluindo participações na mineradora Vale, no frigorífico JBS e na fabricante de papel Klabin.
O banco também vendeu ações ordinárias da Petrobras pouco antes do crash do petróleo em 2020 e foi o vendedor por trás do maior “block trade” já ocorrido no Brasil, aproveitando o aumento do apetite pela Vale no mesmo ano.
As vendas ajudaram a impulsionar as receitas para banqueiros de investimento, que ajudaram a coordenar negócios como a privatização da Eletrobras, na segunda maior oferta de ações do mundo neste ano.
O BNDES também reduziu drasticamente os empréstimos durante o governo Bolsonaro. Isso deixou espaço para os investidores privados preencherem o vazio, ajudando a fortalecer o mercado local de dívida corporativa.
Embora o BNDES não tenha sido frequentemente mencionado nos discursos de Bolsonaro antes do segundo turno, os investidores esperam continuidade caso ele permaneça no cargo – especialmente depois que o presidente sinalizou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, permanecerá no cargo se ele for reeleito.
Após os dois mandatos de Lula, a carteira de empréstimos do BNDES saltou para US$ 200 bilhões durante o governo de sua sucessora Dilma Rousseff, superando a do Banco Mundial. Grande parte do financiamento apoiou companhias como Petrobras e JBS à medida que essas empresas embarcavam em ambiciosas aquisições e expansões globais.
Lula vem dizendo que, se eleito, o BNDES focaria em oferecer mais crédito subsidiado para empresas menores.
Se Lula vencer, “esperamos um BNDES mais ativista na originação de crédito”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs. “Mas provavelmente não na medida em que vimos no passado e provavelmente mais focado em empresas de médio porte do que nas grandes campeãs nacionais.”
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