Internacional

Venda de grãos na Argentina é paralisada por incertezas sobre impostos agrícolas

28 fev 2020, 16:01 - atualizado em 28 fev 2020, 16:01
Soja Grãos
A mídia local e especialistas afirmaram nos últimos dias que o governo do presidente Alberto Fernández vai elevar as taxas de exportação da oleaginosa para 33% (Imagem: Reuters/Daniel Acker)

A comercialização de grãos na Argentina está praticamente paralisada, devido à expectativa de que o governo aumente impostos sobre exportações para lidar com o déficit fiscal em meio a uma grave crise econômica.

Especialistas consultados pela Reuters consideram que a interrupção das vendas de grãos no mercado doméstico pode afetar os embarques agrícolas da Argentina, uma das maiores exportadoras globais de milho, soja e derivados.

O principal sinal de que o governo pretende elevar o imposto sobre a soja ocorreu na quarta-feira, quando o Ministério da Agricultura suspendeu registros de exportações agrícolas, o que geralmente acontece para impedir que exportadores continuem a pagar uma taxa inferior à que passará a ser aplicada.

A mídia local e especialistas afirmaram nos últimos dias que o governo do presidente Alberto Fernández vai elevar as taxas de exportação da oleaginosa para 33%, ante 30% atualmente.

“Os compradores não estão dando preço. Praticamente não há operações”, disse Guillermo Mouliá, operador da corretora Guardati Torti, sediada em Rosario, onde está o principal mercado de grãos do país.

Quando os impostos sobre embarques de soja sobem, o preço pago no mercado de Rosario costuma cair, dado que os exportadores transferem aos produtores o custo gerado pela taxa.

Em meio à paralisia comercial, as poderosas associações de agricultores do país negociam com o governo para evitar a elevação dos impostos, que Fernández considera fundamental para a redução do déficit fiscal argentino.

Alguns líderes rurais já ameaçaram promover uma greve comercial caso o governo aumente as tarifas. Em 2008, uma onda de protestos do setor obrigou Fernández, então chefe de gabinete do governo, a renunciar ao cargo.

Segundo o presidente da Federação Agrária da Argentina, Carlos Achetoni, o ministro da Agricultura prometeu na quinta-feira que o governo continuará analisando até o início da semana que vem a aplicação das taxas –o que prolongaria a suspensão dos registros de exportações.

Um porta-voz do governo não respondeu de imediato aos pedidos da Reuters por comentários.

Gustavo Idígoras, titular das câmaras de exportadores e processadores de grãos da Argentina (CIARA-CEC), disse que uma prolongação da suspensão de registros poderá impactar nos embarques agrícolas do país.

“Põe em risco contratos já confirmados, porque geralmente existe a necessidade de se completar a carga, e isso ocorre com declarações próximas aos momentos dos embarques. Se não for possível completar as cargas, os barcos não saem, e então é necessário pagar o custo da espera”, afirmou Idígoras.

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