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“Venda de ativo não é opção, é necessidade”, diz presidente da Cemig

11 jun 2017, 23:57 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Com um alto endividamento e muitos compromissos a vencer entre 2017 e 2018, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) enfrenta o desafio de obter recursos para pagar suas dívidas ou renegociá-las junto a seus credores. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente da companhia, Bernardo Alvarenga, ressaltou a importância de vender ativos para garantir a redução do endividamento e indicou que alguns dos negócios podem ocorrer no curto prazo, com avanços importantes ainda este mês, como a venda da participação na Santo Antonio Energia e a entrada de um sócio estratégico na Renova.

O plano da Cemig, anunciado no dia 1º, é vender até meados de 2018 entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões em ativos, de uma lista com valor patrimonial ou de mercado que soma R$ 6,56 bilhões. Além disso, planeja realizar uma emissão de eurobônus e renegocia com bancos comerciais algumas de suas dívidas, buscando novos prazos de carência e amortização.

Embora a mensagem tenha sido bem recebida pelo mercado, por causa da maior clareza na divulgação da estratégia traçada, investidores e analistas ainda veem com ceticismo o plano, em função de tentativas em anos anteriores que não tiveram sucesso. “A maior demonstração de que vamos fazer (os desinvestimentos) é a necessidade financeira da Cemig, não tem nada mais importante do que isso. A questão é: não é uma opção, é uma necessidade”, disse o executivo.

A companhia anunciou semana passada um novo plano para redução do endividamento. O mercado gostou, mas mantém certo ceticismo, porque lembra que promessas similares foram feitas no passado, mas não se efetivaram. Por que desta vez será diferente?

Concordo que a Cemig, neste assunto de desinvestimento, não teve resultado tão prático, tão grande que pudesse demonstrar o que estamos fazendo, mas isso é demorado mesmo. Ontem vi o caso da Petrobrás, que tem um desinvestimento de R$ 17 bilhões para fazer, e o Tribunal de Contas da União (TCU) brecou. Tiveram de chamar o TCU para explicar como deveria ser feito.

Empresa estatal tem uma dificuldade imensa, porque as coisas são diferentes da privada – onde os donos vão lá e vendem, não têm de dar satisfação a ninguém. Até mesmo para demonstrar o preço de venda temos de explicar por que não vendemos por valor maior ainda. E estamos num momento (difícil) na economia brasileira… O ano de 2016 foi muito crítico. E essas coisas não podem ser feitas atabalhoadamente porque há muitos entraves em questão que temos de vencer. Mas vamos fazer e as coisas estão caminhando bem. Temos alguns ativos com propostas na mesa. A qualquer momento vamos divulgar.

Mas a conclusão das negociações não depende só da Cemig…

A maior demonstração de que vamos fazer é a necessidade financeira da Cemig, não tem nada mais importante do que isso. Precisamos vender. Entre escolher vender Santo Antonio ou ficar na situação que estamos, vamos vender Santo Antonio; entre vender a Light Energia, ou até a Light, ou ficar nesta situação, vamos vender a Light ou a Light Energia. Entre vender Belo Monte ou ficar na situação que estamos, temos de vender. A questão é: não é uma opção, é uma necessidade. Qualquer um que pegar nosso balanço, ali está demonstrada a nossa situação financeira, verifica que precisamos fazer isso, independentemente de quem esteja aqui.

O cenário político instável e a quantidade de ativos à venda dificultam a execução do plano da Cemig?

É um desafio maior. Se fosse só nossa empresa vendendo era mais fácil. Há um jogo, uma estratégia negocial que não é resolvida assim. São ativos valiosos, tem toda uma análise, questões de investimentos que foram feitos, não é um negócio simples. Muitas vezes são investidores internacionais, que têm de ir lá fora acertar a discussão. Tudo é um jogo, faz parte da estratégia, sabemos disso e temos de procurar defender a empresa. Mas que vamos vender, precisamos vender, precisamos resolver o problema do endividamento da companhia.

Dos ativos colocados à venda, a Cemig sinalizou que Taesa e Light Energia seriam os de maior liquidez. É por estes que começarão as vendas?

Na Taesa temos ações bem valorizadas, fica fácil de vender, vendemos em bolsa mesmo. Se for necessário, vamos negociar toda a fatia que não faz parte do controle. Se julgarmos que é necessário, apesar de ser uma empresa com resultados fabulosos, arrumada, vamos vender.

E no caso da Light Energia? A sinalização era de que já havia um comprador, a Aliança (joint venture da Cemig e Vale), que também poderia comprar outras usinas colocadas à venda…

A Aliança está tranquila, é uma companhia sem problemas, não tem dívida, ela tem como nos pagar.

A Cemig segue buscando um sócio para comprar a participação na Light SA?

Pode ser sócio, um “follow on” (nova oferta de ações) , um terceiro. Mas vamos vender.

E para Renova? A Cemig apontou que a intenção é trazer um sócio estratégico…

Está em andamento. São três negociações que estão sendo feitas para o caso da Renova. Uma empresa está com proposta na mão. As outras duas estão chegando.

O sr. citou Santo Antonio e Belo Monte entre os ativos a serem desinvestidos, mas são duas vendas complicadas e sobre as quais se comenta há algum tempo. Por que agora destravariam?

Santo Antonio pode ter uma surpresa a qualquer momento. Não está assinado, mas as negociações estão aceleradas.

E para Belo Monte, tem alguma aproximação mais firme?

Não. Belo Monte está em construção ainda, tem muitas máquinas para entrar, um problema de linha, então é uma negociação que vai demorar. Só depois que o pessoal tiver tranquilidade de que está tudo caminhando bem, que as turbinas estão entrando, que a linha está resolvida. É uma usina muito grande, a terceira maior do mundo, não é tão simples quanto Santo Antonio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Por Luciana Collet, enviada especial)

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