Venda de ações da Braskem (BRKM5) dá início a ano mais seletivo na bolsa
A venda das ações da Braskem (BRKM5) detidas pela Petrobras (PETR4) e Novonor (antiga Odebrecht) dá início a um ano que deve ser marcado na bolsa brasileira por uma quantidade menor de ofertas, mas com volumes mais altos.
A operação, em processo de coleta de intenções de investimento, avança em um momento em que o mercado está atento ao apetite dos investidores, diante de um ano que deve ser marcado pela alta volatilidade por conta do risco fiscal maior em um cenário eleitoral.
Além da Braskem, a BRF (BRFS3) planeja uma oferta de ações e o governo quer vender os papéis da Eletrobras (ELET6) no processo de privatização da companhia. Essas três operações podem movimentar até R$ 40 bilhões — são R$ 8 bilhões só da petroquímica, com o papel na faixa de R$ 50.
O analista Victor Luiz de Figueiredo Martins, da corretora Planner, fala em um valor justo de R$ 70 para BRKM5. Ou seja, haveria espaço para uma alta dos papéis, diz.
Por se tratar de uma oferta grande e aguardada pelo mercado, avaliam especialistas ouvidos pelo Money Times, a operação pouco diz sobre como deve ser o restante do ano para a bolsa brasileira.
“Mas é fato que uma oferta maior demanda mais esforço”, pondera Martins, que afirma ver no primeiro semestre maiores chances das operações ocorrerem.
O chefe de banco de investimento do Santander Brasil, Gustavo Miranda, comenta que o mercado está sendo mais seletivo e deve favorecer ofertas de empresas conhecidas ao longo do ano.
“A liquidez é um fator relevante para os investidores montarem e saírem de posições no momento necessário, especialmente em um ano mais volátil”, diz.
Na fila
A CVM lista 26 empresas que oficializaram a intenção de fazer IPO. Desde o segundo semestre do ano passado, algumas candidatas a abrir capital na B3 vem suspendendo suas ofertas iniciais, em meio ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, e da inflação.
Sócio da Acqua-Vero Investimentos, Bruno Musa avalia que o momento ainda é propício para as ofertas de ações. Ele lembra do grande fluxo de capital estrangeiro recente na bolsa, com dezembro registrando uma entrada líquida de R$ 14,5 bilhões, segundo dados da B3.
2021 acumulou a entrada de R$ 102,3 bilhões — sem considerar os IPOs e follow ons a partir de outubro, que ainda não foram divulgados —, número bem acima dos R$ 7,4 bilhões em 2020. “Acho que a gente tem números que dão aparo [para otimismo], diz Musa.
O especialista pondera que a inflação não vai perdurar, mas que o cenário pode fazer com que as empresas tenham que rever alguns processos de busca por recursos, indo para a renda fixa, por exemplo. No entanto, ele destaca que “dinheiro tem” no mercado.
Entre os IPOs na lista da CVM, Musa destaca a operação da rede de academias Bluefit, após a abertura de capital da concorrente Smart Fit, e chama a atenção para a operação envolvendo a CSN Cimentos, divisão da gigante CSN (CSNA3).
O sócio da Acqua-Vero diz ainda ver com otimismo o IPO da estatal de saneamento do Rio Grande do Sul, a Corsan. “Qualquer privatização é vista com bons olhos pelo mercado”, afirma, destacando que vê o setor como promissor.
No ano passado, as ofertas de ações brasileiras movimentaram R$ 155 bilhões com 85 transações, apenas 2,5% abaixo do recorde de 2020 de R$ 159 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Das 46 listagens brasileiras, menos de um quarto delas levantou mais de R$ 1,5 bilhão — fatia que chegou a 50% para ofertas adicionais.
*Com informações da Bloomberg