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Venâncio Velloso: Open Innovation – o caminho mais rápido para 2020

19 ago 2020, 6:16 - atualizado em 19 ago 2020, 0:25
Inovação
“Agora é inovar ou inovar” (Imagem: Unsplash/@jdiegoph)

O mantra da inovação já vinha sendo exaustivamente entoado nas organizações quando ainda sequer imaginávamos que um inimigo invisível iria nos embarcar em uma viagem sem volta para o mundo digital.

Negócios em todos os setores foram impactados pela urgente necessidade de passar a atender “clientes avatares”, que, mesmo após o fim da quarentena, continuarão privilegiando o atendimento por canais virtuais e o relacionamento com empresas que estejam prontas para atender as necessidades da ‘low touch economy‘.

O que antes para muitos era um plano de contingência a ser implementado caso algum modelo disruptivo ameaçasse claramente a soberania de mercado, no pós-Covid passou a ser encarado como um plano de sobrevivência.

Agora é inovar ou inovar.

As grandes empresas que antes da pandemia estavam olhando para inovação como um desafio do futuro se viram obrigadas a buscar no mercado modelos que pudessem incorporar tecnologia e soluções disruptivas rapidamente.

Outras grandes organizações que já vinham investindo pesado em estruturar modelos de inovação estão agora tracionando ainda mais seus planos de investimento, fusão e aquisição de startups com potencial de agregar valor e escalar rapidamente novas frentes de negócios para o novo normal.

Inovação
“Com um mundo cada vez mais sem fronteiras, temos o palco perfeito para conectar talentos de qualquer lugar do mundo e integrar empresas centenárias, tradicionais com startups” (Imagem: Unsplash/@medbadrc)

Mas qual o caminho mais rápido para incorporar a inovação e acelerar a transformação digital?

O Open Innovation ganha enorme protagonismo na reestruturação de modelos e na retomada dos negócios em um mercado que foi completamente transfigurado em poucos meses. Não se trata apenas de incorporar arsenal tecnológico, mas de buscar talentos e projetos fora das organizações que possam trazer o mindset, a cultura da inovação.

Com um mundo cada vez mais sem fronteiras, temos o palco perfeito para conectar talentos de qualquer lugar do mundo e integrar empresas centenárias, tradicionais com startups prontas para chacoalhar mercados outrora dominados confortavelmente pelos gigantes.

O conceito de inovação aberta, registre-se, é uma criação do professor Henry Chesbrough, da Universidade de Berkeley. A proposta é que a inovação seja aberta à contribuição de diversos atores de fora da organização – universidades, empresas, governo, centros de pesquisa e, claro, startups.

Há algumas semanas tive a oportunidade de reunir em uma live 3 profissionais que estão em diferentes posições na promoção de programas de Inovação Aberta – Marie Timoner, que comanda o “Oracle for Startups”; Renata Zanuto, co-Head do Cubo; e Otávio Thomé, Head de Inovação do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3).

O bate-papo trouxe insights interessantes que julguei oportuno compartilhar aqui com os leitores.

A cultura é essencial. Tecnologia é o meio, mas as pessoas são a chave para inovação.

Entre os benefícios de implementar um programa de inovação aberta, Marie Timoner destacou que levar uma ideia para ser avaliada e executada por um grupo externo traz mais agilidade no desenvolvimento da solução, já que há mais liberdade para testar de forma rápida, maior flexibilidade e dinamismo e menor rigidez.

“Veremos cada vez mais a estruturação de áreas de inovação “cross”, aliando grandes empresas e startups com o objetivo de questionar o status quo e tirar as organizações da zona de conforto agregando recursos externos”, aposta Timoner, que tem como missão na Oracle fazer o matchmaking entre startups e grandes empresas.

Para ela, outra vantagem do Open Innovation está em unir empresas que têm disponibilidade de capital, processos validados e estruturas seguras com o que as startups oferecem de melhor, ou seja, estrutura enxuta, custos controlados, cultura informal e agilidade.

“As empresas grandes se beneficiam da cultura agile e as startups da robustez. As startups contribuem para construção de uma cultura organizacional centrada na inovação. Não existe inovação sem cultura de inovação. A tecnologia é o meio, mas são as pessoas que inovam. E este é um processo contínuo que exige uma mudança de mindset em que será preciso aprender e desaprender para o resto da vida, já que as empresas deverão estar sempre prontas para se readaptar para enfrentar o surgimento de novos desafios, novos concorrentes, novos mercados”, pontuou.

A relação startup X empresa gera valor não apenas na inovação, mas principalmente na transformação cultural do negócio.

Renata Zanuto, que através do Cubo atua em um hub de conexão das startups com todo ecossistema para promoção de negócios, incluindo aí outras startups, fornecedores, parceiros, investidores e programas de open innovation de grandes corporações, também enfatizou que não basta fazer negócios com startups; é preciso mudar a cultura o mais rápido possível para não perder o bonde da inovação.

“O futuro começou ontem. Por mais adiantado que estejamos já ficamos para trás. Na inovação aberta a transformação (nas grandes empresas) começa pelos executivos, que precisam comprar a ideia”, assinalou.

O Cubo reúne números impressionantes que dão uma dimensão da força do Open Innovation aqui no Brasil. São mais de 300 startups participantes que somaram um faturamento de R$ 540 milhões em 2019 e receberam R$ 480 milhões em investimentos nos últimos dois anos. No ano passado, mais de 180 negócios foram fechados entre os mantenedores e as startups.

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“Abrir as portas para inovação, talentos e conhecimento, então, é a única saída, o caminho mais rápido, de quem agora, independente do setor de atuação, queira se manter competitivo” (Imagem: Unsplash/@aaronburden)

A união faz… negócios

Confesso que fiquei surpreso com a apresentação de Otávio Thomé, do Grupo Pão de Açúcar, que mostrou que a empresa figura entre as companhias brasileiras com um dos programas de inovação aberta mais avançados do País já com resultados concretos.

Os supermercados da rede funcionam como laboratórios para produtos e serviços inovadores de startups, especialmente no segmento de foodtech. A empresa também escolhe embaixadores internos que são responsáveis por mapear startups e desenhar pilotos que são colocados à prova na operação do próprio GPA.

Além disso, é mantenedora do Cubo e parceira do programa da Oracle, que faz a ponte com outras empresas, universidades e centros de pesquisa. “Mais de 50% das startups com as quais nos relacionamos vieram do Cubo”, revelou Otávio.

Na frente de corporate venture, a companhia já adquiriu startups como a Cheftime, de refeições prontas, e a James, de delivery expresso. Por conta da pandemia, o Pão de Açúcar montou dark kitchens para preparar os pratos da Cheftime e investiu na operação do James para fazer as entregas. De janeiro a maio de 2020 a startup de delivery alcançou um crescimento de 1782% (!) na comparação com o mesmo período do ano passado.

É um bom exemplo de como a inovação aberta pode catapultar novas oportunidades de negócios para grandes empresas e startups.

Foi inspirador mediar a conversa com protagonistas da inovação aberta no Brasil. Fiquei entusiasmado em constatar que há um forte movimento das grandes empresas em buscar inovação onde quer que ela esteja dando espaço para maturação de startups disruptivas. O caminho para superarmos a crise passa, sem dúvida, em fortalecer a simbiose entre a tradição e a disrupção.

Ninguém havia se planejado para este 2020. Muitos ainda estão buscando caminhos para conseguir superar o ano mais inesperado, mais inacreditável de nossas vidas. Mas temos que seguir em frente. Mais da metade do ano se foi e já entendemos que regras velhas não funcionam em jogos novos.

Abrir as portas para inovação, talentos e conhecimento, então, é a única saída, o caminho mais rápido, de quem agora, independente do setor de atuação, queira se manter competitivo, criar novas frentes de negócios e receitas, superar a crise e dar a volta por cima em 2020. A hora é de ligar o radar para novas oportunidades. Fechar as portas para um futuro que se fez presente sem pedir licença é um risco que você não pode, e não precisa, correr.

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