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Venâncio Velloso: Habilitades e Mindset da nova economia digital

15 set 2021, 17:28 - atualizado em 15 set 2021, 19:44
Economia
A conversa rendeu ótimas reflexões e, por isso, resumi o bate-papo neste artigo (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Nos últimos anos, a forma como interagimos e nos comunicamos mudou drasticamente em decorrência da popularização das tecnologias digitais.

E a evolução é constante e acelerada: se há pouco tempo debatíamos o conceito de “mundo VUCA”, caracterizado pela volatilidade, incerteza (em inglês, uncertainty), complexidade e ambiguidade, hoje já falamos de “mundo BANI”, ou seja, frágil (em inglês, brittle), ansioso, não-linear e incompreensível.

É certo que as rápidas transformações na maneira pela qual nos relacionamos implicam na adoção e desenvolvimento de novos comportamentos. Mas, de que forma exatamente esta nova economia impacta as organizações e os indivíduos? Quais são as habilidades e o mindset que este novo cenário demanda de empresas e profissionais?

Para aprofundar estas questões, mediei uma live no canal da Genial Investimentos no YouTube, com três especialistas no tema: Diego Barreto, VP de Finanças e Estratégia do iFood, Clayton Pedro, VP de Gente, Cultura e Performance do FESA X-Four e Marcelo Mejlachowicz, CEO e co-founder da Trillio Academy.

A conversa rendeu ótimas reflexões e, por isso, resumi o bate-papo neste artigo.

O que define a nova economia

Antes de responder às perguntas que abrem este artigo, é importante definirmos o que é a nova economia. Basicamente, ela está baseada nas mudanças pelas quais todo o mercado está passando atualmente com o avanço da transformação digital, que vem alterando a lógica das relações entre marcas e consumidores.

Neste cenário, onde ganham força a colaboração, o propósito, o compartilhamento, a inteligência coletiva, etc., as empresas que já nasceram digitais têm se destacado. No passado, organizações tradicionais eram consideradas grandes peixes que “comiam” os peixinhos pequenos, abocanhando a fatia dos menores no mercado. Hoje, são as startups e empresas de nicho que, por estarem mais adaptadas, metem medo nos peixões, conquistando cada vez mais a preferência dos consumidores.

Foi este ambiente que fez empresas que não existiam há poucos anos, como iFood, Nubank, 99 e Loggi, despontarem e impulsionou a transformação de empresas tradicionais, como o Magazine Luiza, que conseguiram capturar este processo de mudança.

Como a nova economia impacta as organizações

Para obter resultados relevantes neste novo contexto, é preciso deixar de fazer as coisas como se fazia antigamente e abraçar a mudança. Assim, as habilidades que as organizações que têm conseguido usufruir dos aspectos positivos da nova economia têm desenvolvido são as seguintes, de acordo com Diego:

(1) entendem o conceito de dados e usam ferramentas como data lakes para dar transparência para que as pessoas possam usá-los e usufruir deles;
(2) adotam modelos de gestão ágil, abandonando o comando e o controle;
(3) avaliam o perfil das pessoas no momento da contratação com base em comportamento, não mais em histórico profissional.

Desta forma, entrando de cabeça na transformação digital, elas têm conquistado clientes e vêm ganhando mercado.

Mas a maior parte do empresariado ainda não se adaptou a esta nova realidade.

Para Diego, aqueles que tiverem maturidade para entender o processo em curso e aceitar a mudança têm uma grande chance de saírem vencedores. E isso é válido especialmente para as grandes organizações, porque são elas que detêm ativos e recursos importantes para garantir sua sobrevivência.

Porém, se insistirem em fazer tudo como sempre fizeram, vão acabar ficando pelo caminho e correm o risco de se tornarem insignificantes. Afinal, um sábio amigo certa vez disse que para mudar o resultado é preciso mudar o comportamento. Pois como uma organização espera atingir um crescimento exponencial, como as startups, fazendo o “feijão com arroz”?

Na ânsia de demonstrar que estão adaptadas à nova economia, muitas empresas acabam promovendo mudanças superficiais, que fazem com que pareçam ser digitais, porém sem alterar a sua essência. Para Clayton, o consumidor vai responder a este movimento, mais cedo ou mais tarde, diferenciando quem de fato é digital é quem não é.

Segundo Diego, isto não acontece por má fé das organizações, mas sim por medo do julgamento do mercado. Entretanto, ao fazer isso, deixa-se de ter uma consciência real acerca das mudanças que precisam ser efetivamente feitas – e este é um dos maiores problemas no cenário atual.

Além disso, é preciso considerar que, muitas vezes, existe um choque entre o que os acionistas esperam e o que os executivos desejam para a companhia. Diego defende que não adianta iniciar um processo de transformação digital se os acionistas não estiverem alinhados a este propósito, pois é provável que, desta forma, não seja bem-sucedido.

Como a nova economia impacta os profissionais

Não são só as empresas que precisam de novas habilidades para manterem-se competitivas: os profissionais também. Competências que antes eram consideradas secundárias agora estão sendo requeridas, especialmente as chamadas soft skills, mais ligadas a comportamentos do que à técnica em si.

Segundo Marcelo, já existe um movimento de valorização da capacitação em soft skills, com investimentos sendo feitos neste sentido. E quais são estas competências?

Além destas, a capacidade de se manter em aprendizagem constante – o lifelong learning – está ganhando relevância e é um dos maiores desafios da nossa geração.

Afinal, estamos vivendo mais, com uma expectativa de vida maior e, consequentemente, carreiras mais longas. É preciso se manter atualizado e se reinventar para seguir relevante neste contexto da longevidade.

Para Diego, a tecnologia descentralizou diversos processos, colocando o poder nas mãos de indivíduos que há 20, 25 anos não tinham acesso à informação.

Desta forma, os papéis na sociedade se transformaram, oportunidades são criadas e é preciso saber lidar com estas transformações. A valorização das soft skills não é “modinha”, mas sim uma necessidade em um mundo em transformação.

Em resumo, a nova economia apresenta desafios e demanda mudanças de organizações e indivíduos, para que estes se adaptem a uma realidade mais complexa e ágil, baseada na tecnologia e no digital.

Não é fácil, afinal o ser humano é naturalmente resistente a mudanças e tende a manter-se em sua zona de conforto, repetindo padrões.

Mas, para obter sucesso hoje, é preciso quebrar esta barreira e se lançar ao novo – não há outro caminho. Seja adotando novos processos organizacionais, mais focados em promover a inovação, seja reconhecendo suas limitações e buscando adquirir novos conhecimentos.

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