Veja os países favoritos dos investidores globais em 2022 (e como fica o Brasil nesse cenário)
Depois de um 2021 com uma retomada econômica confusa, avanço vacinal assimétrico e gargalos de produção em cadeias de abastecimento internacionais, os especialistas concordam que a economia global do próximo ano continuará marcada por incertezas.
Alan Gandelman, CEO da Planner Investimentos, conta que os investidores estão olhando para a inflação global, que sentida por praticamente todos os países, e chamada também de “inflação pós-covid”.
“É uma inflação muito mais de custo do que de demanda, causada pela paradeira da Covid-19, que fechou as fábricas e, quando retornou a demanda normalmente, não havia matéria-prima”, conta.
Gandelman cita o exemplo dos semicondutores, que passam por um momento de escassez, impactando toda a cadeia produtiva automobilística, e o petróleo, que chegou a US$ 30 no meio da pandemia, mas atualmente está em torno de US$ 70 ou US$ 80 e encarece o transporte de outros produtos.
Assim, Claudio Frischtak, presidente da Inter B. consultoria internacional de negócios, cita duas questões que estarão no radar de incerteza dos investidores globais: a pandemia e a normalização monetária dos bancos centrais.
A primeira é o medo de novas variantes. Já a última envolve a decisão dos BCs do mundo inteiro de reduzir os estímulos econômicos e aumentar a taxa de juros, como é o caso do Fed (Federal Reserve) nos Estados Unidos.
Para onde vai o dinheiro?
Frischtak explica que, historicamente, em momentos de grande incerteza econômica, os investidores tendem a apostar no que é mais seguro, considerando-se a perspectiva de pagamento dos títulos de dívida. Por isso, optam pelas economias centrais e desenvolvidas, como os EUA e os principais países europeus.
Ao mesmo tempo, as notícias de aumento da inflação, acompanhada pelo aumento dos juros, torna o ambiente econômico ruim para qualquer investimento mais arriscado, como é o caso da Bolsa de Valores, que tem produtos de renda variável.
Gandelman, da Planner, prevê que o Brasil deve colocar os juros próximos de 12% em 2022. “A gente está falando de 1% ao mês em renda fixa, sem correr o risco da renda variável, das ações, por exemplo”, explica.
Por isso, o especialista calcula que o mercado estará de olho nas taxas de juros, que podem se tornar o carro-chefe que determinará a locação de dinheiro no mundo.
Para Zeina Latif, ex-economista-chefe da XP Investimentos e consultora na Gibraltar Consultoria, avalia que o atual quadro global deixa o investidor ainda mais seletivo no momento de ir às compras.
“O olhar do investidor vai ser caso a caso, serão análises isoladas, do setor da empresa, do país em que ela está, são diversas variáveis.”
O Brasil conseguirá atrair investimentos?
A conjuntura macroeconômica brasileira, somada ao contexto de eleição em 2022, é inibidora de investimento estrangeiro, pontua Tatiana Pinheiro, economista-chefe e sócia do Panamby Capital.
A especialista comenta que o Brasil enfrenta uma piora na dívida pública, que aumentou muito mais do que nos demais países emergentes; as travas fiscais foram flexibilizadas ao longo desses dois anos de pandemia; e a inflação está em um patamar bastante alto.
Por esse motivo, o Banco Central começa a subir juros, “o que é favorável na questão do diferencial de juros com outros países, mas é desfavorável em termos de efeito sobre o crescimento econômico”, explica Tatiana.
Em meio a esse contexto econômico frágil, as eleições no final do ano reforçam o cenário de incerteza econômica, já que não se sabe qual equipe econômica será escolhida e quais serão suas prioridades.
O Brasil frente aos emergentes
Sobre o fluxo global de investimento, Zeina Latif pontua que se trata de uma percepção relativa. “É preciso estar melhor do que os demais países que estão concorrendo conosco pelo capital estrangeiro”, diz. Nesse sentido, o cenário econômico e financeiro brasileiro é visto frente a toda a classe de países emergentes, o que é “motivo de preocupação” para Zeina.
Ao olhar para as demais economias emergentes, Claudio Frischtak concorda que o Brasil perdeu substância. A China segue crescendo em torno de 5% ao ano, a Índia entre 8% a 9%, dando destaque para as economias asiáticas do sul e do leste do continente, como Vietnã e Coreia do Sul.
Enquanto isso, os economistas admitem que as incertezas em torno da estabilidade econômica brasileira provavelmente irá diminuir a atratividade do capital estrangeiro no ano que vem.