Câmbio

Veja o que Trump ignora nas moedas do Brasil e da Argentina

04 dez 2019, 11:43 - atualizado em 04 dez 2019, 12:06
O corte da taxa de juros pelo Banco Central já era esperado, tendo em vista o fraco crescimento e os aumentos de preços ao consumidor abaixo da meta (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

Ações recentes do Brasil e da Argentina derrubam a visão do presidente Donald Trump de que os países enfraquecem deliberadamente suas moedas.

Nesta semana, Trump disse que vai retomar as tarifas sobre as exportações de aço e alumínio dos dois países, já que “promovem desvalorização maciça de suas moedas, o que não é bom para nossos agricultores”.

Embora seja verdade que o real e o peso argentino se enfraqueceram contra o dólar este ano, os bancos centrais de Brasília e Buenos Aires parecem mais preocupados do que felizes com isso.

“Trump deveria agradecer ao Brasil e Argentina“, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton. “Seus governos adotaram medidas que buscam controlar a depreciação de suas moedas”.

Aqui estão algumas das razões pelas quais o Brasil e a Argentina não são culpados de tentar manipular suas moedas:

Intervenção cambial no Brasil

O BC brasileiro interveio no mercado de câmbio vendendo dólares, o que tende a desacelerar a depreciação e tornar o real mais forte do que seria. O presidente do banco, Roberto Campos Neto, afirmou repetidamente que a moeda é flutuante e que não há meta específica. Ainda assim, as ações da autoridade monetária podem ter sido um fator para impedir que a moeda se enfraquecesse para além de R$ 4,30 nas últimas semanas.

Juros no Brasil

O Banco Central reduziu a taxa de juros para seu nível mais baixo este ano. Isso tende a enfraquecer a moeda, reduzindo o apelo do carry trade, pelo qual os investidores tomam empréstimos em dólares e compram ativos em moedas que oferecem rendimentos mais altos. Mas os cortes nas taxas são exatamente o que você esperaria de um banco central diante de um crescimento fraco e aumentos de preços ao consumidor abaixo da meta. Não há razão para pensar que o Banco Central do Brasil estaria fazendo outra coisa senão cumprir seu mandato de metas de inflação de maneira normal.

Conta Corrente

O déficit na conta corrente do Brasil aumentou este ano para o mais amplo desde o final de 2015. As exportações caíram, então a ideia de que um real mais fraco está permitindo que o Brasil inunde os EUA com bens baratos é difícil de sustentar.

Controle de capital da Argentina

Argentina Bandeira
No início de setembro, Macri impôs controles de capital que incluíram restrições ao acesso de algumas empresas aos mercados de câmbio (Imagem: Reuters/Marcos Brindicci)

A Argentina agiu com mais vigor para defender o peso, que afundou com a proximidade do fim do mandato de Mauricio Macri. No início de setembro, Macri impôs controles de capital que incluíram restrições ao acesso de algumas empresas aos mercados de câmbio e também sua capacidade de fazer transferências para o exterior. Em outubro, sua administração limitou a compra de dólar por poupadores. Todas essas medidas representam esforços para apoiar e não enfraquecer a moeda.

Força global do dólar

A maioria das moedas de mercados emergentes caiu contra o dólar este ano, com o peso chileno e a lira turca se unindo ao real e ao peso entre os principais perdedores. A força da moeda norte-americana foi revigorada nas últimas semanas, à medida que a briga entre EUA e China reduz o apetite dos investidores por ativos mais arriscados. “O enfraquecimento dessas moedas é, em grande parte, culpa de Trump devido à guerra comercial”, disse Perfeito, da Necton. “E esse ataque pode enfraquecê-las ainda mais”, disse ele em referência à decisão de Trump sobre tarifas de aço e alumínio.

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