Coluna do Antonio Samad Jr

Varejo precisa da queda de juros, mas também de ajuda de bancos

20 jul 2023, 17:14 - atualizado em 20 jul 2023, 17:14
Comércio
“As redes varejistas são praticamente reféns de uma taxa de juro mais barata para conseguir se capitalizar e para melhorar suas vendas”, coloca (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

O Brasil tem hoje a maior taxa de juro real do mundo, na casa dos 10,6%. À frente do México (6,2%), Rússia (5%), Chile (3,7%), China (3,6%), Hong Kong (3,5%), Índia (2,3%), Indonésia (2,2%), África do Sul (2%) e Canadá (1,4%).

Como se vê, no top 10, apenas o Canadá é um país reconhecidamente desenvolvido em todos os critérios de medição. Os demais têm em comum com o Brasil o fato de serem “emergentes”. Porém, como é fácil observar, existe um abismo entre o juro real praticado aqui e o praticado nas outras nações.

E isso tem forte reflexo na macroeconomia, mas principalmente em determinados segmentos como o varejo, muito dependente de capital, que atualmente está caro por causa da Selic em 13,75%.

E mesmo que o Banco Central resolva baixar a taxa básica de juros na próxima reunião, em agosto, o segmento varejista deve demorar um pouco mais para se beneficiar desse movimento em comparação com outros.

As redes varejistas são praticamente reféns de uma taxa de juro mais barata para conseguir se capitalizar e para melhorar suas vendas. Isso porque o varejo brasileiro demanda muito capital e as compras parceladas são grande parte do faturamento deste ramo. Então, juro menor é bom para o comércio.

Mas há outra questão, igualmente importante, e que vai pesar na retomada do varejo: o balanço dos bancos. Julho é o mês que o setor bancário começa a divulgar os resultados do segundo trimestre e do primeiro semestre como um todo.

E quando isso ocorrer nós teremos uma visão um pouco melhor do cenário para poder ser mais assertivo nas previsões. Como é sabido, o balanço dos bancos no primeiro trimestre mostrou que, em parte por causa da crise das Americanas (AMER3) e em parte pelo avanço da inadimplência, a provisão para devedores duvidosos aumentou.

A qualidade do crédito é um tema muito sensível para o setor financeiro. Assim, dependendo de como vier o balanço do segundo trimestre teremos uma noção maior de quanto os bancos vão abrir os cofres e financiar mais (ou não) as empresas de varejo no curtíssimo prazo.

E a decisão dos bancos sobre a questão do crédito é preponderante para a melhora do desempenho financeiro das redes varejistas.

Como vemos, o corte de juros é essencial, mas não é o único fator a ser considerado. Hoje o financiamento está muito restrito e temos de esperar para saber o quanto a concessão de crédito será flexibilizada.

A boa notícia é que o mercado realmente espera uma diminuição da Selic já em agosto. Pequena, de apenas 0,25 p.p., é verdade. Mas a perspectiva é de que essa redução seja a primeira de várias que virão a seguir. Se esse fato for confirmado, da mesma forma, ficará mais fácil entender o ritmo dessa queda dali para frente.

Existe um consenso de que não se justifica mais nossa taxa de juros estar tão acima das praticadas por outras economias. Arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso, reforma tributária no mesmo caminho, inflação caindo.

Tudo isso favorece a uma mudança de direção na política monetária, o que beneficiará a macroeconomia, o varejo e os bancos em particular.

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