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Vantagens e desvantagens de uma rede social descentralizada

10 nov 2019, 9:00 - atualizado em 30 maio 2020, 14:43
Seria possível criar uma rede social completamente descentralizada? (Imagem: Foundation for Economic Education)

Com o crescimento da preocupação pela censura nas redes sociais, como Facebook, Youtube e Twitter, cresce a demanda por redes sociais resistentes à censura.

Um número de startups de blockchain planeja usar um modelo descentralizado para preservar a liberdade de expressão na era digital. Mas será que uma rede social completamente descentralizada funcionaria?

Existem inúmeras plataformas de redes sociais que foram construídas em blockchain. Algumas são projetos abandonados e outras apresentam grande potencial. Todas têm de se esforçar para ganhar e manter uma base de usuários significativa.

Redes de blockchain para redes sociais

Steemit e Minds surgiram como as mais populares dentre as plataformas sociais descentralizadas, com mais de um milhão de usuários registrados cada. Ambas as plataformas podem ser chamadas de “redes sociais de incentivo”, já que premiam usuários em criptomoedas por sua contribuição à rede.

Lançada em 2016, a Steemit funciona no seu próprio blockchain e premia seus usuários em STEEM, sua moeda nativa digital, por fazerem postagens, curadoria e comentários sobre o conteúdo.

“Sua voz vale algo”, afirma a Steemit, plataforma que paga os usuários por sua contribuição (Imagem: Facebook/Steem)

Steemit foi a primeira plataforma a pagar por postagens, que alavancou pagamentos em criptoativos de baixo custo em seu mecanismo de recompensas, além de se beneficiar muito da vantagem do pioneiro nesse novo e crescente segmento de redes sociais.

Steemit tem aproximadamente 1,2 milhões de usuários registrados, com cerca de meio milhão de usuários ativos, que discutem sobre diversos tópicos como notícias, política e tecnologia, mas o volume de discussões é focado em criptoativos, já que a base de usuários veio em peso dessa comunidade.

Após um forte ímpeto em 2019, a plataforma está enfrentando dificuldades para manter o interesse dos usuários.

Minds também oferece recompensas aos usuários por sua contribuição (Imagem: Whitepaper da Minds Social Network)

Minds se autorrefere como uma rede social de código aberto descentralizada, que paga usuários em criptomoedas por contribuições. Lançada em 2015, o objetivo da empresa, de acordo com seu whitepaper, é “a retomada da liberdade, do faturamento e do alcance social na internet pelos criadores de conteúdo”.

Hoje, a Minds, baseada na rede da Ethereum, tem 1,25 milhões de usuários registrados, em que pouco mais de 100 mil são ativos na plataforma.

Um candidato novo e interessante da Minds é a plataforma Voice, que está sendo desenvolvida na rede da EOS. Ainda em modo beta, Voice promete governança de dados e recompensas financeiras para usuários por meio de um token nativo.

Com apoio financeiro da Block.One e da grande comunidade da EOS, espera-se que a Voice se torne um grande candidato entre as redes sociais criadas em blockchains. Diz-se que a Block.One pagou US$ 30 milhões pelo domínio voice.com.

Outras redes desse tipo são DTube, Mastodon, Sapien e Yours.

Não há risco de um monopólio de censura?

As vantagens de redes sociais descentralizadas incluem resistência à censura, governança de dados pessoais, curadoria melhorada de conteúdo, menos ou nenhum anúncio e novos modelos de monetização de conteúdo.

No entanto, apesar de esses benefícios óbvios, existe um lado sombrio para um modelo de rede social 100% resistente à censura. O que acontece quando qualquer pessoa do mundo pode publicar o que quiser?

Pense em uma rede social que permite privacidade ao usuário por meio de criptografia e integração de Tor (para anonimidade), que incentiva a contribuição dos usuários por meio de um modelo de recompensas de tokens, que faz a curadoria de conteúdo baseado apenas em votação e que roda sem qualquer tipo de autoridade que possa entrar na plataforma para fazer mudanças ou edições quando a rede estiver no ar.

Por mais atrativo que isso pareça aos defensores da liberdade de expressão, o resultado poderia não ser tão agradável.

Uma rede social liberal demais pode incentivar conteúdos prejudiciais (Imagem: Pixabay)

Se o conteúdo não pode ser editado ou alterado pelos operadores de uma rede social, a plataforma será monopolizada. Uma rede social de “qualquer coisa” poderia ficar repleta de conteúdos ilegais, atividades criminosas e discursos de ódio.

Em outras palavras, iria se tornar o que é a dark web atualmente. Essas plataformas já existem, mas, devido a seu conteúdo extremo, não crescem além das pequenas comunidades já existentes.

A rede social Gab foi criada para preservar a liberdade de expressão e, uma vez, planejou migrar para um modelo descentralizado de blockchain, mas foi criticada pela Mastodon por permitir conteúdos racistas.

Autogovernança de comunidade por meio de votações de “sim” ou “não” — um elemento básico dentre as plataformas sociais “descentralizadas” atuais — apenas daria certa tranquilidade sobre essa questão.

Conteúdo indesejado pode não aparecer nos “trendings” ou serem colocados na página inicial da plataformas, mas usuários que buscarem por conteúdo ilegal não terão que se esforçar muito para encontrá-lo.

Qualquer opção de pesquisa — por texto ou hashtag — daria acesso rápido a qualquer um em busca de pornografia ilegal, drogas ou outros tipos de material ilícito.

Uma completa descentralização nas redes sociais ainda é algo impossível (Imagem: Pixabay)

Apenas mais descentralização

Com a crescente insatisfação de usuários com a maneira como os “maiorais” lidam com os dados e conteúdo censurado, não seria surpresa a migração desses usuários para alternativas mais descentralizadas.

Plataformas que oferecem liberdade de expressão, governança de dados de usuário e modelos de incentivo, que permitem que os usuários monetizem suas contribuições, podem atrair mais usuários nos próximos anos.

Em último caso, irão forçar os incumbentes a considerar ou até a adaptar seus modelos de negócio para se tornarem mais éticos e direcionados aos usuários.

Redes sociais completamente descentralizadas, que operam sem termos de serviços e podem ser usadas por qualquer pessoa para postarem qualquer coisa, são difíceis de serem avaliadas. O risco é de deterioração em fóruns de dark web que acolhem uma minoria a favor de conteúdos extremistas.

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