Valter Outeiro: Posso apostar contra a América?
Antes de iniciar a coluna de hoje, quero ressaltar que sou fã de carteirinha de Warren Buffett, para mim o maior investidor de todos os tempos.
O livro “The Warren Buffett Way” é o melhor guia para escolher quais ações comprar e quais devem ser deixadas de lado.
Passada a tietagem, vou ter que ir contra o mestre e constatar: devemos, sim, apostar contra a América, não pelas próximas décadas, mas pelos próximos anos.
Especificamente, pelos próximos cinco anos.
A procura da inflação
Discurso de Jerome Powell em Jackson Hole aponta para leniência (suavizando muito o termo, para não dizer inexistência de vigília) com a inflação abaixo da meta de 2%.
Em termos práticos: vamos imprimir o quanto for necessário até atingir a meta de inflação de 2% e permanecer com o juro básico próximo a zero por muitos anos.
Deixo de entrada gráfico do J.P. Morgan Asset Management pedindo demanda e, lembrando que, devido ao alto nível de incerteza (leia-se desemprego e medo de perder o trabalho), as pessoas recebem o auxílio e não gastam, poupam.
Demanda por serviços ainda permanece muito baixa e prejudica inflação
Mais do que isso, os EUA caminham para algo entre o Japão (sem inflação, nem crescimento, algo próximo ao “estado estacionário puro” da economia, se é que isso existe) e a “latinização” (dívida crescente, déficits gigantescos, moeda cada vez mais fraca e sem valor), tese defendida por Marink Martins, colunista do Money Times e especialista da Inversa.
Agora, uma citação de Michael Harnett, estrategista do Bank of America Merrill Lynch, sobre o risco moral:
“Os bancos centrais estão encorajando a inflação/risco moral dos preços dos ativos dentro da tentativa de utilizar o efeito-riqueza para reduzir o desemprego e pelo ‘trickle-down’ (política utilizada para conceder benefícios fiscais aos mais ricos para estimular investimento)”.
Finalizo com um gráfico do BofA ML sobre como o S&P 500 pode ter a maior disparada desde um mínimo de toda a história:
Rali pode ser utilizado como argumento de trunfo na época da eleição em novembro
Independente se está caro (e está) e do estado da economia norte-americana, a sensação de não haver alternativa fora da bolsa parece prevalecer (em todo o mundo).
Comunicação e expectativas
Voltando ao Brasil, recomendo a leitura do excelente artigo de Leonardo Nogueira Ferreira, analista do Banco Central (e por felicidade ex-colega de classe) sobre o foward guidance, comunicação da autoridade monetária com o mercado.
Você pode ler o artigo neste link: “Foward Guidance Matters: disentangling monetary policy shocks”
Uma citação de aperitivo:
“Mostra-se que o “forward guidance” é um instrumento efetivo. De fato, é tão potente quanto a política monetária, sendo, portanto, uma adição importante ao ferramental dos bancos centrais.”
Se a comunicação afeta expectativas de juros, imagina o efeito da instabilidade política sobre o animal spirit…
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Um grande abraço,
Valter