VALE3, CSNA3, USIM5, GGBR4: Em 2023, minério de ferro será herói ou vilão para ações?
O papel do minério de ferro para as empresas do setor de mineração e siderurgia mudou rapidamente de herói para vilão em 2022. Ao tocar as mínimas do ano em setembro/outubro, a matéria-prima siderúrgica arrastou as produtoras de commodities metálicas da Bolsa, dando fim a um rali que teve início com a escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Aos poucos, o minério de ferro – e, consequentemente, as ações de mineradoras e siderúrgicas – volta a se recuperar, seguindo as notícias recentes positivas sobre a flexibilização de algumas restrições da dura política de Covid Zero na China, apesar de novos surtos de infecções pelo coronavírus no país.
A retomada econômica chinesa, ainda que gradual, renova as expectativas do mercado em relação à recuperação do setor. Para o BTG Pactual, seria “um erro” não reconhecer o caminho da segunda maior economia do mundo para a reabertura durante o segundo trimestre de 2023. Reforçam ainda mais o sentimento positivo de analistas as novas medidas anunciadas pelo governo chinês para apoiar as incorporadoras mobiliárias.
“Embora o caminho seja volátil e a economia da China ainda enfrente uma série de pressões de curto prazo, acreditamos que seus recentes planos para consertar o grande choque restritivo (Covid + setor imobiliário) devem seguir adiante, e esperamos que as ações antecipem tempos melhores à frente”, comenta o banco.
Revisões
O otimismo renovado do BTG levou a uma revisão das estimativas do minério de ferro em 2023, com os preços esperados subindo de US$ 90/tonelada para US$ 100/tonelada.
Em relação aos preços de bobina a quente (BQ) chinês, o BTG estima US$ 600 para o próximo ano, o que indica que os valores ainda podem se recuperar, uma vez que “a demanda chinesa está firme no segundo semestre de 2023”.
O BTG projeta uma dinâmica oferta-demanda do minério de ferro mais equilibrada em 2023, com a China reduzindo em 1,5% o consumo de aço, enquanto a produção permanece moderada.
“A produção brasileira luta para se recuperar, com Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3) ainda bem abaixo do potencial”, lembra a instituição. O BTG também destaca que, na melhor das hipóteses, os embarques australianos ficaram estáveis e a Índia vem retirando oferta do mercado.
Como o BTG, o Itaú BBA elevou as projeções para os preços do minério de ferro a US$ 105 por tonelada em 2023. Ainda assim, a corretora ressalta que, embora exista otimismo em relação à reabertura econômica chinesa, os dados ainda precisam mostrar sinais de recuperação.
Ações preferidas
Entre mineradoras e siderúrgicas, o BTG segue com preferência em Gerdau (GGBR4) e Vale, com preços-alvo de R$ 39 e R$ 95, respectivamente.
Apesar de uma indústria siderúrgica global mais fraca, a Gerdau está bem posicionada para “enfrentar a tempestade” com seu modelo de negócios resiliente e diversificado, diz o BTG.
O banco também enxerga a ação da siderúrgica como uma opção barata para o potencial que ainda tem a entregar, principalmente em termos de retorno de caixa aos acionistas. Segundo o BTG, a Gerdau deve gerar yield de fluxo de caixa de 17-19%.
Em relação à Vale, o nome é um dos preferidos do BTG para se expor à reabertura econômica chinesa.
“De uma perspectiva micro, o momento operacional deve continuar a se recuperar, já que a produção e os custos (para suas divisões de minério de ferro e metais básicos) devem melhorar nos próximos trimestres”, acrescenta.
O BTG se apoia na forte remuneração aos acionistas, com yield estimado de 10-11% para 2023, incluindo recompras de ações.
O Itaú BBA, por outro lado, tem Gerdau como preferência e recomendação de “market perform” (desempenho esperado em linha com a média do mercado) para a Vale, com preço-alvo para o ADR (American Depositary Receipt) da mineradora (VALE) de US$ 18.
O BBA vê yield de fluxo de caixa limitado e um valuation justo. A expectativa é de um limitado yield de fluxo de caixa livre de 9% em 2023, com um dividend yield potencial de 7%, desconsiderando possíveis pagamentos extraordinários e recompras de ações.
“A Vale poderia ser atrativa se os preços do minério de ferro aumentarem para US$ 120-130/tonelada em 2023, mas preferimos ficar de escanteio até observar uma melhora nos dados gerais de aço para a China”, afirma a corretora.