Vale (VALE3): Vem mais um trimestre fraco de resultados por aí?
A Vale (VALE3) saiu de um trimestre mais fraco de resultados financeiros e operacionais para entrar em outro “mais em linha” (embora não livre de desafios), avaliam analistas do mercado.
No segundo trimestre, a mineradora viu seu lucro líquido encolher 17,7% em comparação com o mesmo intervalo de 2021, a US$ 6,2 bilhões. O lucro líquido atribuído a acionistas somou US$ 6,15 bilhões.
A receita líquida contraiu mais de 30%, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado recuou mais da metade, totalizando US$ 5,25 bilhões.
De acordo com Henrique Tavares, analista da DVinvest, o principal problema foi a expectativa gerada no fim do ano passado, com a Vale revisando seu guidance para baixo logo depois, impactando perspectivas de receita, fluxo de caixa e valuation.
Para o terceiro trimestre, o mercado segue cauteloso com o setor de mineração, considerando o momento de estagnação ou crescimento lento das principais economias do mundo.
Minério de ferro, o vilão
Em meio a preocupações envolvendo a retomada da economia na China e com o mercado à espera de novos estímulos por parte do governo chinês para o setor imobiliário do país, os preços do minério de ferro sofreram uma forte correção.
“Durante todo o intervalo desses três meses, o minério de ferro só caiu, portanto, o mercado não espera muito do setor”, comentam os analistas Régis Chinchila e Luis Novaes, da Terra Investimentos.
Nesta quinta-feira (13), o minério de ferro teve seu terceira dia consecutivo de queda, negociado perto do nível mais baixo de 2022.
Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter Research, diz que o mercado pode esperar volumes melhores em vendas, especialmente de ferrosos. Porém, o preço médio do minério de ferro no trimestre deve ser menor.
“Estamos falando de um trimestre com preço médio do minério de ferro menor. E estamos vendo prêmios menores também. E esses são os pontos fortes da Vale, seus prêmios e produtos”, afirma.
Joubert destaca que os resultados do segundo trimestre da Vale mostraram uma “peculiaridade”. A companhia vendeu produtos de menor qualidade, enquanto o mercado estava precificando melhor esses produtos.
“Vale a pena prestar atenção para ver se é algo pontual”, comenta a analista.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, tem uma leitura parecida sobre os resultados da Vale, na expectativa de que as receitas cheguem em linha com o esperado, apesar de vendas menores.
Ainda assim, Arbetman acha que a Vale conseguirá encerrar o ano na meta mais baixa de produção de minério de ferro, de 310 milhões de toneladas. Para o terceiro trimestre, o especialista estima que a mineradora entregará uma produção de 89 milhões de toneladas de minério de ferro.
Sobre os custos de frete, a dinâmica não deve mudar muito em relação ao segundo trimestre.
“Não serão tão altos como no começo do conflito [Rússia-Ucrânia], mas maiores que a média”, diz.
Tavares, da DVinvest, lembra que a Vale possui uma desvantagem geográfica. Ela está mais distante da China, principal importador de minério de ferro do mundo, do que suas principais rivais, que são empresas australianas.
“Essa desvantagem coloca uma pressão e redução das margens, que é decorrente do custo de frete”, explica.
A Vale divulga seus resultados no dia 27 de outubro. O relatório de produção e vendas do terceiro trimestre está previsto para sair na próxima segunda-feira, 17.
Olhar sobre o futuro
O analista da Ativa afirma que, independentemente do reflexo negativo de preços e prêmios menores, é aconselhável olhar a situação da Vale mais para frente.
Não só a dinâmica no quarto trimestre é melhor, como a China também deve mostrar mais ímpeto, defende Arbetman.
“[Temos] bons prognósticos à frente. A China, no quarto trimestre, vai vir com mais força, e pode ser bom para os prêmios”, diz.
Arbetman ressalta que o quarto trimestre é quando a Vale reverte o gap do trimestre anterior – no terceiro trimestre, a empresa produz mais e vende menos; já no quarto trimestre, ela vende mais e produz menos.
“Isso pode ser bom pensando em margens para a Vale no quarto trimestre”, reforça.
Olhando mais para o longo prazo, a Vale tem como gatilho a reestruturação da sua unidade de metais básicos. Atualmente, os resultados dessa divisão em 2022 têm decepcionado o mercado, mas as últimas notícias renovaram a percepção de agentes do mercado quanto ao potencial dos negócios.
“Quando a gente olha com a visão de longo prazo, que devemos passar pela eletrificação das coisas, enxergamos muito potencial, com o níquel presente na maior parte da construção de baterias e o cobre sendo um dos metais que mais vemos em estruturas elétricas, principalmente semicondutores”, diz Tavares, da DVinvest.
Para Arbetman, a divisão de metais básicos é um “adicional” na tese de investimento da Vale, que já é conhecida pela boa rentabilidade e pelo pagamento semestral de dividendos de forma corrente.
O analista da Ativa avalia que a unidade de metais básicos pode ser mais um motivo para o acionista ter o papel da Vale na carteira.
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