Vale (VALE3): O que decepciona e o que anima o mercado nos resultados do 1T23?
A Vale (VALE3) reportou números abaixo do esperado pelo mercado no primeiro trimestre de 2023 (1T23). Entre os pontos que decepcionaram os investidores estão o aumento de custo caixa, o menor volume de produção e o menor prêmio do minério de ferro, afirma o analista da Empiricus Research, Fernando Ferrer.
Em reação aos números fracos, as ações da mineradora abriram o pregão desta quinta-feira (27) em queda. Porém, ao longo do dia, os ativos encontraram forças e, às 14h, valorizavam 1,24%, a R$ 71,14.
De acordo com Ferrer, a alta veio após os executivos da Vale sinalizarem, na teleconferência de resultados, que haverá redução de custo de caixa a partir do segundo semestre. Além disso, eles seguem otimistas com o potencial spin-off da operação de metais básicos, “que poderia gerar valor para a companhia”, diz.
Outro ponto positivo é que, mesmo que o balanço não tenha sido “aspiracional” e afaste a tese de recuperação do preço das commodities, a mineradora segue com um nível de alavancagem “bastante confortável” em 0,5 vez dívida líquida sobre o Ebitda, diz o analista da Empiricus.
Portanto, a Vale deve se manter como uma boa pagadora de dividendos.
O que decepciona o mercado
O lucro líquido da Vale (US$ 1,87 bilhão) tombou 58% em relação ao valor reportado no mesmo período do ano passado. Já o Ebitda ajustado (US$ 3,7 bilhões) também teve um recuo de 42%.
Segundo os analistas do Itaú BBA, a deterioração sequencial nos resultados foi ocasionada, principalmente, pelo desempenho mais fraco na divisão de ferrosos, prejudicada por volumes menores e custos altos, que mais do que compensaram os preços realizados.
Por área de negócios, o Ebitda de minerais ferrosos (US$ 3,3 bilhões), principal frente da atuação da Vale, desacelerou 43% na comparação anual.
O analista da Empiricus explica que o desempenho foi deteriorado pelas menores vendas, pela queda de 11% no preço médio no período e pela alta dos custos unitários, que foi puxada pela antecipação das atividades de manutenção e efeito negativo do mix de volumes.
Em metais básicos, o desempenho também foi aquém do esperado. O Ebitda ajustado atingiu US$ 573 milhões no período, queda de 26% em relação ao 4T22.
O fraco desempenho de custo foi o ponto baixo do trimestre. O custo caixa C1 aumentou para US$ 23,6/tonelada, impactado por menor diluição do custo fixo, mix mais fraco e pressões inflacionárias.
Não está tudo perdido para Vale
Os analistas da Ativa Investimentos pontuam que o fluxo de caixa livre da Vale (R$ 11,6 bilhões) nos três primeiros meses do ano surpreendeu positivamente, principalmente devido à menor necessidade de capital de giro. A companhia registrou um decréscimo de caixa de R$ 80 milhões.
A dívida líquida expandida da mineradora também foi destaque, pois ficou dentro do intervalo previamente determinado — de US$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões. No período, a dívida saltou de US$ 14,1 bilhões para US$ 14,3 bilhões. “A alavancagem segue confortável, próxima à 0,5x”, dizem os analistas.
Além disso, para Ferrer, da Empiricus, VALE3 negocia a menos de 4 vezes EV/Ebitda para 2023, com potencial para entregar um dividend yield acima de 10% no ano.
Em relação à teleconferência pós-resultados, o BTG Pactual destaca que o tom da companhia é para melhoria gradual dos custos de equilíbrio na China, auxiliados por C1 mais baixo, prêmios mais altos, uma melhoria do mix de Carajás e diluição de custos fixos.
A mineradora ainda reafirmou sua meta de produção para 2023 (310-320Mt) e ainda pretende vender uma participação de metais básicos até o meio do ano, dizem os analistas.
Ações ainda são atraentes
Para a Empiricus, o desconto das ações da Vale e o potencial de entregar dividendos acima de 10% no ano levam à recomendação de compra.
O Itaú BBA também segue com visão de outperform — potencial de ter um desempenho acima da média do mercado — e preço-alvo em US$ 18.
A Genial alterou a recomendação de “manter” para “comprar” para VALE3, apesar de cortar o preço-alvo de R$ 89,00 para R$ 87,50. “Enquanto negocia a um EV/Ebitda de 4,14x, pela acentuada desvalorização das ações observada nos dias que antecederam o resultado, mas considerando uma companhia com uma grande geração de caixa, enxergamos agora uma margem de segurança mais confortável para o papel”, afirmam os analistas da casa.
Já a Ativa manteve visão neutra para as ações da mineradora, com alvo em R$ 92.