Vale (VALE3): O impacto de novas provisões nos dividendos, segundo BofA
Movimentou o noticiário na semana passada a notícia de que a Justiça Federal determinou que a Vale (VALE3) e a BHP devem realizar um depósito judicial no valor de R$ 10,3 bilhões (cerca de US$ 2 bilhões), dividido igualmente entre ambas as companhias, para garantir a execução dos projetos da Fundação Renova.
O depósito, a ser realizado em 10 parcelas com intervalo de 40 dias entre cada uma, de acordo com o G1, faz parte das obrigações reparatórias pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais.
Ainda segundo informações do portal, a decisão estabelece o reconhecimento de comunidades localizadas no Espírito Santo, de Nova Almeida até Conceição da Barra, como impactadas pela tragédia. No entanto, instituições de Justiça e o estado do Espírito Santo alegam que a Fundação Renova nunca cumpriu essa deliberação.
Após a repercussão do caso, a Vale se manifestou na sexta-feira (31) dizendo que não foi notificada sobre a decisão.
A mineradora afirmou manter os repasses feitos em favor da Fundação Renova, e que, até janeiro deste ano, foram indenizadas mais de 410,8 mil pessoas, com mais de R$ 28,4 bilhões destinados às ações executadas pela fundação.
“A companhia se manifestará oportunamente no processo sobre a decisão, contra a qual cabe recurso”, afirmou a Vale, em fato relevante divulgado ao mercado.
Desfecho se aproxima?
O depósito judicial é mais um passo no processo de renegociação, ainda em andamento, da reparação pela tragédia em Mariana.
As partes teriam chegado a um acordo final de R$ 112 bilhões no ano passado, sendo que R$ 28 bilhões já foram gastos pela Fundação Renova, enquanto US$ 3,1 bilhões foram provisionados pela Vale e outros US$ 3,3 bilhões provisionados pela BHP, totalizando montante aproximado de R$ 32,3 bilhões, destaca o Bank of America (BofA).
“Então, essencialmente, aproximadamente R$ 60 bilhões relacionados ao acidente da Samarco já foram gastos ou provisionados. Com isso, ainda haveria, na teoria, um gap de cerca de R$ 52 bilhões entre o valor provisionado/gasto e o novo montante acordado de R$ 112 bilhões”, afirma a instituição, em relatório publicado nesta segunda-feira (3).
Vale lembrar, no entanto, que um acordo final não foi assinado, e um acerto de R$ 155 bilhões não está descartado.
O BofA estima que, caso o valor do novo acordo seja de R$ 112 bilhões, as novas provisões podem atingir US$ 2-3 bilhões para Vale e BHP.
“Nossa percepção é de que os investidores com quem conversamos já assumem uma provisão adicional em uma faixa similar às nossas estimativas, assumindo um acordo de R$ 112 bilhões”, afirma o banco americano.
Impacto nos dividendos
Na avaliação do BofA, o fechamento do acordo poderia reduzir significativamente as incertezas legais, removendo um overhang para a ação da Vale.
“Além disso, acreditamos que, com a resolução, a Vale poderia ver, potencialmente, progresso com seu licenciamento e acelerar a recuperação dos volumes para a divisão de minério de ferro, ajudando a destravar valor”, comenta.
No entanto, o BofA acredita que as provisões adicionais podem impactar na remuneração aos acionistas da mineradora, visto que deve levar a dívida líquida expandida da Vale (métrica-chave para determinar o potencial de dividendos extraordinários) perto do limite máximo da faixa de US$ 10-20 bilhões.
O BofA tem recomendação “neutro” para a Vale. Para a BHP, a classificação é de “compra”.