Vale testa biocarvão na produção de pelotas e pretende expandir iniciativa
A Vale (VALE3) testou com sucesso em escala industrial a substituição de parte do carvão mineral utilizado na composição de suas pelotas de minério de ferro por carvão vegetal, ou biocarvão, em importante passo rumo à redução de emissões, disseram à Reuters funcionários da mineradora.
Na produção de pelotas, o carvão é acrescentado no produto antes de ser processado na planta de pelotização.
Nesse primeiro teste realizado em unidade de pelotização da mineradora em São Luís (MA), a Vale produziu 57 mil toneladas de pelotas, com cerca de 25% do carvão utilizado na composição do produto sendo de origem vegetal, permitindo uma redução de 10% das emissões no processo.
“Existia (no mercado) um grande receio de usar o carvão vegetal; empresas tinham receio de impactar a qualidade (da pelota).
Mas nós conseguimos quebrar alguns tabus, provamos que é viável, que dá para fazer com sucesso”, disse o gerente-executivo de Engenharia da Pelotização da Vale, Fabio Brandão.
Agora, a empresa planeja avançar e trabalhar na possibilidade de substituir definitivamente 100% do carvão fóssil utilizado em todas as suas 12 plantas de pelotização (sendo 11 no Brasil e uma em Omã), o que permitiria uma redução de 16% das emissões totais da companhia.
Segundo o engenheiro Rodrigo Boyer, que conduziu a iniciativa, será feito mais um teste em São Luís ainda neste ano com objetivo de atingir pelo menos 50% da carga composta por biocarvão.
“Nosso objetivo é, em 2022, testar a viabilidade técnica de aumentar ainda mais a participação do uso de biocarvão no forno”, afirmou.
Testes com 100% da carga com biocarvão estão previstos para o próximo ano. Os funcionários pontuaram que ainda não há uma definição e prazo para uma substituição definitiva do produto fóssil na composição das pelotas, mas disseram que as perspectivas são excelentes.
DESAFIOS VENCIDOS Boyer disse que um dos grandes desafios do projeto foi encontrar um fornecedor de biocarvão com qualidade.
O produto utilizado pela Vale foi fornecido por uma empresa de Minas Gerais, “que trabalha com um produto premium, certificado, específico para fins siderúrgicos”, destacou.
O engenheiro disse ainda que os compromissos da Vale para reduzir emissões, em um mundo que tem se tornado cada vez mais exigente por iniciativas nesse sentido, ajudaram a compor o ambiente para que a substituição do carvão mineral fosse possível.
“Esse é o momento, nós temos que fazer. Esse carvão antracito não pode ficar na pelotização”, afirmou.
Boyer ressaltou ainda que cerca de 80% do carvão fóssil usado atualmente nas pelotas vem de minas do continente africano e o restante do Peru, enquando o biocarvão pode ser fornecido pela industria brasileira.
O projeto coloca a Vale passos à frente para atingir suas metas de redução de emissões, uma vez que a pelotização representa atualmente cerca de 33% das emissões de gases do efeito estufa da companhia, à frente da mineração e do transporte ferroviário.
O teste com biocarvão faz parte do portfólio de iniciativas da empresa que contribuem com o objetivo de reduzir em 33% suas emissões de carbono diretas e indiretas até 2030, alinhada ao Acordo de Paris, com o objetivo de zerar suas emissões líquidas de carbono até 2050.
A Vale prevê investir de 4 bilhões a 6 bilhões de dólares para reduzir emissões até 2030.