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Vale recebeu em 2017 proposta de melhorias na barragem de Brumadinho

27 abr 2019, 13:28 - atualizado em 27 abr 2019, 13:28
Trabalhador da Vale sujo de lama
Segundo a empresa, auditoria externa atestou o fator de segurança (Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Mais de um ano antes tragédia de Brumadinho (MG), a Vale (VALE3) teve acesso a sugestões de intervenções para melhorar o fator de segurança da barragem que se rompeu na Mina do Feijão. As medidas constam de estudo elaborado pela consultoria Potamos a pedido da mineradora e apresentado à empresa em uma reunião ocorrida em dezembro de 2017 na Mina de Águas Claras, em Nova Lima (MG).

A ata desse encontro foi entregue pela Potamos à comissão parlamentar de inquérito (CPI) criada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para investigar a tragédia. No entanto, as tratativas entre a Vale e a empresa envolvendo as medidas sugeridas não tiveram continuidade.

“Dentre as alternativas apresentadas, a que surtiria melhor efeito era a construção de um reforço no pé da barragem, mas era uma intervenção lenta e complicada que iria trazer interferências para o funcionamento da Mina do Feijão. A Vale informou que iria estudar as alternativas, mas não fomos mais consultados sobre elas”, disse o sócio da Potamos, Fernando Lima, em depoimento à CPI ocorrido na quinta-feira (25).

O rompimento de barragem na Mina do Feijão ocorreu em 25 de janeiro deste ano. A Potamos informou que desenvolveu estudos na estrutura em parceria com a Tüv Süd até março de 2018. Por discordâncias metodológicas, a Potamos não aceitou fazer a revisão periódica da estrutura. Essa revisão é obrigatória e deve ser feita por uma empresa terceirizada que, ao final, deve decidir se concede a declaração de estabilidade. A Tüv Süd assumiu sozinha essa tarefa, atestando em junho de 2018 a estabilidade da barragem que se rompeu.

A engenheira Maria Regina Moretti, consultora da Potamos, disse à CPI que a empresa chegou a fazer uma análise de risco geotécnico que analisa probabilidades de falhas. Segundo ela, foi encontrado um fator de segurança 1.09, quando as boas práticas de engenharia internacional estabelecem que o ideal é 1.3. Moretti afirmou que não atestaria a estabilidade barragem. “Os estudos que desenvolvemos não atendiam a condições de segurança consagradas internacionalmente”, justificou à CPI.

De acordo com a engenheira, a Potamos manifestou discordância em relação às conclusões da revisão periódica da Tüv Süd e informou que, por isso, não revisaria a análise de probabilidade de falha.

“Tivemos uma divergência na conclusão em relação ao fator de segurança mínimo exigido. Os estudos estavam bem feitos, os resultados estavam em consonância com nossas análises. Mas o que eles aceitavam como fator de segurança mínimo não era 1.3. Era 1.05. E nós não concordávamos, porque não é isso que recomendam os consultores internacionais.”

Em outubro de 2017, ao apresentar estudos que revelavam o fator de segurança abaixo de 1.3 na Barragem da Mina do Feijão, a Potamos foi questionada sobre a metodologia utilizada para definir parâmetros de cálculo.

“Nós começamos uma discussão técnica com a Vale, a Tüv Süd e outros consultores sobre os parâmetros. Isso evoluiu e nos foram sugeridas novas metodologias. Nós avaliamos e não concordamos em modificar a nossa metodologia de definição de parâmetro. Como não concordamos, nós nos afastamos do estudo”, disse Regina Moretti.

Questionada sobre as declarações da engenheira e do sócio da Potamos, a Vale respondeu com uma nota onde informa que “o fator de segurança da barragem foi calculado e atestado por auditoria externa”. A Tüv Süd também foi procurada pela Agência Brasil, mas não respondeu.

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