Vale: China começa a pesar mais que Brumadinho no ceticismo do mercado
Os problemas da Vale (VALE3) não se limitam apenas àqueles responsáveis pelo prejuízo de US$ 1,56 bilhão no quarto trimestre e registrados no balanço divulgado ontem (20).
A decisão de promover baixas contábeis referentes à mina de níquel de Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, e de elevar o montante previsto para indenizações em Brumadinho foram, até, bem recebidas.
O que preocupa os analistas agora e, por tabela, pressiona as ações na B3, é o futuro. Andreas Bokkenheuser, Cleve Rueckert e Cadu Schmidt, que assinam a análise do UBS, chamam a atenção para as perspectivas negativas da cotação do minério de ferro – o principal produto da Vale.
O trio vê, com preocupação, uma eventual queda da demanda chinesa por aços planos (usados em veículos e eletrodomésticos, por exemplo) nos próximos anos.
Tendência de queda
O fenômeno pode não compensar o consumo de aços longos naquele país. Isso acarretaria uma queda na cotação internacional do minério de ferro.
O UBS projeta um preço de US$ 88 por tonelada para 2020, caindo para US$ 75 no ano que vem, e para US$ 65 em 2022. “O mercado continua avaliando como insustentável o atual preço do minério de ferro”, afirma o UBS.
Por isso, o banco suíço manteve sua recomendação neutra para a Vale, com preço-alvo de US$ 13 para as ADRs da mineradora negociadas na Bolsa de Nova York. O banco lembra que a última precificação do papel ocorreu, quando o minério de ferro era cotado a US$ 65.
Já o Credit Suisse divulgou um relatório bem mais otimista, com indicação de outperform para os papéis (desempenho esperado acima da média do mercado) e preço-alvo de US$ 18.
Os analistas que assinam o texto, Caio Ribeiro e Gabriel Galvão, elogiam a decisão da Vale de elevar a provisão para indenizações em Brumadinho em mais US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões, embora acreditem que o montante já reservado (US$ 6,6 bilhões) seja suficiente.
Página virada
“Se toda essa quantia for contabilizada e todos os processos civis forem encerrados, isso promoveria uma oportunidade de virar a página de uma vez por todas e, portanto, remover uma disputa judicial de muitos anos”, afirma o Credit Suisse.
O banco também confia que a China adotará medidas para estimular sua economia nos próximos anos, compensando a queda da demanda causada pela epidemia de coronavírus. A expectativa é que tudo isso permita a retomada da distribuição de dividendos em 2020.
A dupla calcula uma margem de fluxo de caixa livre, em 2020 e 2021, entre 14% e 15%, e considera “facilmente alcançável” um dividend yield de 8% no mesmo período.
Nesta sexta-feira (21), porém, os investidores parecem mais alinhados com o pessimismo do UBS, do que com o otimismo do Credit Suisse. Por volta das 13h, as ações da Vale (VALE3) caíam 4,35% e eram negociadas a R$ 49,93.
No mesmo instante, o Ibovespa também recuava de modo expressivo, mas não tanto, quanto a mineradora. O principal indicador da B3 baixava 1,10%, para 113.328 pontos.
Veja os resultados divulgados pela Vale.