Vale a pena vender ações do Itaú para comprar Nubank?
A semana passada foi marcada pelo evento que muitos consideraram o mais importante do ano no mercado: o IPO do Nubank. O roxinho, que conquistou o coração de muitos brasileiros, não fez feio. Precificou a sua oferta a US$ 9, o topo da faixa, e levantou US$ 2,6 bilhões.
Na estreia, suas ações em Nova York dispararam 14%, enquanto as BDRs na B3 subiram quase 15%. O banco terminou a semana avaliado em US$ 54,6 bilhões e agora é a instituição financeira mais valiosa da América Latina.
Para se ter uma noção da façanha do Nubank, no Brasil, somente a Vale (VALE3) (R$ 388 bilhões) e a Petrobras (PETR3;PETR4) (R$ 400 bilhões) valem mais do que o banco digital.
Todos os bancos tradicionais seguem com valor de mercado inferior ao do Nubank, quando comparados na mesma moeda. O mais próximo é o Itaú Unibanco (ITUB4) (R$ 205 bilhões).
E não para por aí. Pelos cálculos do banco de investimentos japonês SoftBank, a companhia pode chegar a ter entre 100 milhões e 150 milhões de clientes em cinco anos e valer até US$ 300 bilhões.
Olhando para esses números, parece ser impossível não se tornar sócio do roxinho. Mas será mesmo? O Money Times conversou com analistas para entender se vale a pena investir no Nubank – mais do que isso, se é o caso de se desfazer das ações dos bancões tradicionais, como Itaú, para comprar papéis da estreante.
Bichos diferentes
Segundo analistas, apesar da comparação de valor de mercado entre o Itaú e o Nubank, as duas são empresas de segmentos diferentes.
A fintech foi avaliada como uma companhia de tecnologia, não como um banco, lembra o analista Sidney Lima, da casa de análises Top Gain.
“O Nubank entra em um setor de empresas de tecnologia, inclusive os valuations divulgados são comparados como referência às empresas do segmento tecnológico. O que pode ser mais subjetivo e não tão exato quanto o de um banco tradicional”, diz.
Já Enrico Cozzolino, analista da Levante, aponta que as perspectivas futuras favorecem mais os bancões. Fazer essa troca seria vender o certo para comprar o duvidoso, segundo ele.
“Acreditamos que a ação do Nubank seja cara nesse cenário atual da Bolsa. Pode até subir, mas existem riscos-retorno mais interessantes para o longo prazo. Não se pode cravar quando ele de fato dará lucro ou um lucro maior que os bancoes”, completa.
E o Inter (BIDI11)? O banco da família Menin chegou a anunciar que estava de malas prontas para deixar o Brasil rumo aos Estados Unidos. No entanto, a queda das ações atrapalhou os planos.
“O Banco Inter dá lucro todo o trimestre e o Nubank está fazendo isso agora. Eu sinto mais segurança no modelo de negócios do Inter do que o Nubank”, argumenta a analista da Empiricus, Larissa Quaresma.
Bolha?
Na avaliação de Lima, da Top Gain, os valores do IPO do Nubank foram impulsionados pela visibilidade, estratégia agressiva de marketing e amplificada utilização da base de clientes da própria empresa.
“Entretanto, a maior parte dessas pessoas não tem a mínima noção dos indicadores que determinam o preço justo de uma empresa. E nessa, muitos devem ser prejudicados”, prevê.
Para ele, o preço do papel da fintech deverá passar por correções no futuro. E voltar ao atual patamar seria difícil, dado o cenário macro desfavorável, “o que inclusive temos presenciado ultimamente na maior parte dos IPOs de empresas brasileiras na nossa B3”.
“Mantenho cautela com a real possibilidade de um movimento de correção muito intenso”, diz. “Mesmo com a redução do preço, continuo acreditando não ser um investimento muito viável financeiramente, justamente pelo fato de ainda sim estar caro”.
Quando dará lucro?
Um pouco antes de fazer o seu IPO, o Nubank havia anunciado o seu primeiro lucro semestral, de R$ 70 milhões. Porém, a analista da Empiricus recorda que é preciso olhar essa cifra com um pouco mais de cuidado.
“É muito comum as empresas darem aquela acelerada para mostrar lucro antes do IPO”, diz.
Para a Levante, o Nubank não terá lucro até pelo menos 2023, pois vai sacrificar o seu índice de eficiência para investir e crescer.
“A partir de 2024, a companhia passa a apresentar um ROE crescente e começa a exercer uma política de dividendos mínima. Em 15 anos, a companhia atinge um ROE de 25%: o maior na comparação com a indústria local”, calcula.
Na avaliação do BTG, a história da fintech é claramente boa. A instituição tem poucas dúvidas de que o Nubank pode ser lucrativo.
No entanto, os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura dizem que é difícil saber exatamente o tamanho da lucratividade do negócio.
“Dada a deterioração do cenário macro brasileiro, ser prudente em relação ao crescimento em 2022 será a estratégia certa”, argumentam.
Na visão dos analistas, três fatores podem contribuir para o Nubank elevar seus lucros:
- Aumento contínuo da base de ativos mensais de clientes;
- Aumento do ARPAC (receita média por ativo cliente) conforme mais produtos são desenvolvidos e o engajamento aumenta;
- Reduzir o custo por cliente à medida que o grupo ganha escala;
* Com informações da Agência Estado e Bloomberg