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Vacinas são “satânicas”: ceticismo abala campanha contra Covid-19 na Bolívia

20 maio 2021, 18:39 - atualizado em 20 maio 2021, 18:39
Vacinação-Vacinas
A Bolívia, como grande parte da América do Sul, está sendo atingida por uma nova onda de infecções por coronavírus (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A campanha de vacinação da Bolívia contra Covid-19 está sendo atingida por pessoas “antivacinas” em uma atmosfera de desinformação que alimenta o ceticismo, o que representa um desafio para um governo que enfrenta uma onda crescente de novas infecções.

Profissionais de saúde e autoridades têm expressado preocupação com o baixo comparecimento em alguns locais de vacinação, com alguns argumentando que é arriscado tomar vacina, e alertam para campanhas falsas alegando que as doses contêm material “satânico”.

“Lemos alguns panfletos em El Alto dos grupos antivacinas inclusive falando sobre a presença de uma substância luciferiana nas vacinas, e que por isso as vacinas são satânicas”, disse María René Castro, vice-ministra de Epidemiologia.

“A desinformação mundial chegou ao nosso país e tem um certo impacto na população, que está evitando se vacinar”, acrescentou.

A Bolívia, como grande parte da América do Sul, está sendo atingida por uma nova onda de infecções por coronavírus, com um total confirmado de casos chegando a 337.000 e quase 14.000 mortes. Muitos dos países da região estão entre os mais afetados do mundo.

A região também tem lutado contra a escassez de vacinas, mas a Bolívia começou a receber mais doses após acordos com a Rússia para a vacina Sputnik V, com fabricantes de medicamentos na China e com o Instituto Serum, da Índia, para as injeções da AstraZeneca.

No entanto, muitos centros de vacinação nas principais cidades continuam com baixo comparecimento da população.

“Não quero me vacinar, não quero morrer, não quero adoecer porque não tenho dinheiro para comprar remédio, você precisa de dinheiro para se curar e eu não tenho”, disse Rogelio Mayta, morador de El Alto.

A profissional de saúde Patricia Almanza afirmou que a campanha de vacinação foi deficiente, o que não ajudou a incentivar as pessoas a se vacinarem.

“É um crime que estando nestes períodos de pandemia tenhamos que descartar vacinas”, disse Almanza.

“Existem locais onde as vacinas estão sendo descartadas (por falta de pessoas) ou o pessoal de saúde vai procurar alguém para vacinar para que algo tão precioso não seja jogado fora”, explicou.

Os latino-americanos mais ricos têm viajado ao exterior, especialmente para os Estados Unidos, para se vacinar, criando uma divisão acentuada entre ricos e pobres. O ceticismo em relação à vacina corre o risco de expandi-la ainda mais.

“Para mim, a vacina contra Covid não é confiável”, disse Ismael Blanco nas ruas estreitas e empoeiradas da cidade. “Não confio nessa vacina”, completou ele.