Saúde

Vacinas de duas doses multiplicam desafios de imunização

21 jul 2020, 14:15 - atualizado em 21 jul 2020, 14:15
Vacina
Produzir vacinas e distribuí-las à população mundial no meio de uma pandemia seria uma enorme façanha, mesmo que os pesquisadores fossem capazes de administrar injeções em dose única (Imagem: Pixabay)

Quando se trata de proteger o mundo do coronavírus, duas doses de uma vacina podem ser melhores do que uma. Mas dobrar o número de doses que cada indivíduo precisa pode complicar os esforços para imunizar bilhões de pessoas.

Os resultados mais recentes dos líderes na corrida para criar uma vacina, incluindo a parceria Universidade de Oxford-AstraZeneca e Moderna, destacam essa perspectiva. Ambos os projetos realizam testes de estágio final com duas doses.

Produzir vacinas e distribuí-las à população mundial no meio de uma pandemia seria uma enorme façanha, mesmo que os pesquisadores fossem capazes de administrar injeções em dose única. A necessidade de duas doses tornaria a fabricação e a logística ainda mais complexas.

Esses desafios se tornariam ainda mais difíceis se – como alguns especialistas pensam ser possível – a eficácia de uma vacina diminuir com o tempo e forem necessárias doses repetidas, potencialmente todos os anos.

“Uma vacina de dose única seria ideal, mas é improvável que as primeiras vacinas atinjam esse limite muito alto”, disse Michael Kinch, especialista em vacinas e vice-reitor associado da Universidade de Washington, em St. Louis. “Como esperamos passar da questão de saber se haverá uma vacina para como aplicá-la, a logística se tornará o tópico absolutamente mais importante.”

A abordagem de duas doses também parece cada vez mais provável para a vacina em rápido desenvolvimento pela CanSino Biologics e as Forças Armadas chinesas.

Parece não provocar uma forte resposta em pessoas com imunidade pré-existente ao vírus usado como vetor, e pesquisadores estudam o uso de um reforço três a seis meses depois.

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Abordagem mais segura

O estudo inicial com mais de 1.000 participantes que receberam a vacina de Oxford alcançou a resposta imunológica mais forte em 10 que receberam duas doses, de acordo com pesquisa publicada na segunda-feira pela revista médica The Lancet, indicando que pode ser a abordagem mais segura.

Os pesquisadores da universidade observaram que algumas pessoas podem obter proteção com apenas uma dose e que, em última análise, os dados podem mostrar que a maioria das pessoas está protegida com uma única injeção.

“Na verdade, estamos realmente satisfeitos por termos uma resposta imunológica mais forte com duas doses do que com uma”, disse Sarah Gilbert, vacinologista que lidera a pesquisa de Oxford, em entrevista. “Não sabemos o que estamos buscando. Não sabemos quão forte é a resposta imunológica para proteger as pessoas.”

Representantes da AstraZeneca também destacaram a lógica de uma estratégia de duas doses. A empresa estuda outros regimes, mas a primeira leitura dos testes na fase final será quase definitivamente a partir de duas doses, disse a repórteres Mene Pangalos, responsável por pesquisa biofarmacêutica da Astra.

A empresa se comprometeu a entregar 30 milhões de doses ao Reino Unido até setembro e 100 milhões até o final do ano.

Representantes da AstraZeneca também destacaram a lógica de uma estratégia de duas doses (Imagem: REUTERS/Stefan Wermuth)

Uma vacina de duas doses não será fácil de distribuir de forma ampla e provavelmente prejudicará ainda mais os países em desenvolvimento.

“Anos de experiência em erradicação de doenças em países com recursos limitados mostram que você pode ter apenas uma chance de vacinar uma grande população”, disse William Haseltine, ex-pesquisador da Faculdade de Medicina de Harvard, que preside a organização sem fins lucrativos Access Health International. “Muitas pessoas podem não estar disponíveis por razões econômicas ou outras para uma segunda chance.”