Vacas leiteiras dos EUA sentem estresse do aquecimento global
Como se a demanda em queda e a desvalorização das ações de empresas de laticínios não fossem suficientes, o aumento das temperaturas fez com que algumas das 9 milhões de vacas leiteiras dos EUA produzissem menos leite. Com isso, produtores buscam desesperadamente maneiras eficientes de refrescá-las.
“Você não pode instalar aparelhos de ar condicionado no estábulo”, disse Rob Barley, coproprietário da Star Rock Farms, no Condado de Lancaster, Pensilvânia.
Quando as temperaturas subiram para 35 graus Celsius em julho, a produção de leite na fazenda de Barley caiu cerca de 8% em uma semana. O volume é suficiente para encher um trailer.
“Se a vaca não estiver confortável, ela só vai querer ficar deitada”, disse Barley. “Não vai querer comer muito” e produz menos.
As vacas leiteiras se sentem mais confortáveis quando o termômetro marca entre 7 e 18 graus Celsius, mas a natureza já não coopera como antes. Em julho, a temperatura combinada da terra e do mar foi de 16,7 graus Celsius, a mais alta registrada desde 1880, e a de agosto ficou bem perto disso, segundo os Centros Nacionais de Informação Ambiental.
A produção de leite começa a diminuir quando o termômetro ultrapassa 21 ou 26 graus, disse Jeffrey Brose, do Dairy Cattle Welfare Council. Sinais de estresse devido ao calor incluem respiração de boca aberta e mais rápida, além de baba.
Queda livre
O aumento das temperaturas é mais uma preocupação para o já abalado setor de laticínios dos EUA. As vendas indústria estão em queda livre nos últimos anos, resultado da maior oferta global e menor demanda por leite entre americanos. As exportações também foram prejudicadas devido às tarifas do México e China.
Em meio à turbulência, as ações da Dean Foods, a maior empresa de laticínios dos EUA, acumulam baixa de 67% este ano.
Todos esses fatores já são muito desafiadores para produtores, mas a visão a longo prazo não é muito otimista. A produção de leite nos EUA pode cair 6,3% devido aos impactos climáticos até o final do século, segundo um estudo da Universidade de Washington. Essa queda custaria ao setor cerca de US$ 2,2 bilhões por ano.
“A mudança climática apresenta mais riscos ao setor de laticínios”, disse Dwayne Faber, um produtor de laticínios no Condado de Skagit, Washington.
Faber está investindo em ventiladores para refrescar seu rebanho de 2 mil vacas quando as temperaturas sobem muito e em cortinas para protegê-las das tempestades de neve. A velocidade dos ventiladores é de 32 km/h.
Cortinas de plástico
Em Sharon Springs, Nova York, Phyllis Van Amburgh gastou cerca de US$ 6 mil em ventiladores e cortinas de plástico transparente para proteger suas 175 vacas leiteiras.
O aumento das temperaturas também afeta as vacas na Europa, segundo Alex Risen, porta-voz da Big Ass Fans, com sede em Lexington, Kentucky, que observa mais interesse de empresas de laticínios do outro lado do Atlântico.
Uma maneira de se adaptar às mudanças climáticas é proporcionar um tipo de colcha refrescante para os animais, um projeto desenvolvido por Bob Collier, professor emérito da Universidade do Arizona.
Como as vacas de hoje foram criadas para serem maiores, é mais difícil refrescá-las em comparação com suas antepassadas menos pesadas, disse.
Collier e sua equipe descobriram que a circulação de água fria sob uma superfície de areia ajudou a diminuir a temperatura corporal em vacas leiteiras.