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Uso intensivo de mão de obra é problema para ações de empresas americanas

25 ago 2020, 17:01 - atualizado em 25 ago 2020, 17:01
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“Eu resumiria 2020 como o mercado pessimista em relação aos humanos”, diz Vincent Deluard, diretor de estratégia macroeconômica global da corretora StoneX Group (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Ao descrever o desempenho ambíguo do mercado acionário dos EUA este ano, os especialistas tendem a rotular em vez de explicar. Ações de tecnologia estão em alta enquanto os papéis dos bancos recuam. Ações focadas em crescimento decolam enquanto ações voltadas para valor dão marcha ré. As grandes corporações prosperam enquanto as pequenas empresas lutam pela sobrevivência.

Tudo isso é verdadeiro. Mas nada disso especifica o princípio que organiza esses movimentos.

Agora, um estrategista diz que decifrou o código: o problema das empresas são as pessoas.

“Eu resumiria 2020 como o mercado pessimista em relação aos humanos”, diz Vincent Deluard, diretor de estratégia macroeconômica global da corretora StoneX Group. “Como muitas coisas, a Covid apenas acelera a transformação social, a concentração de riqueza nas mãos de poucos, enormes desigualdades, questões de concorrência e muito mais.”

O coronavírus impulsionou companhias algoritmicamente habilitadas enquanto empreendimentos da velha economia estão fechando e as pessoas são obrigadas a ficar em casa. Assim, empresas que dependem menos dos funcionários superaram as companhias com uso intensivo de mão de obra em 37 pontos percentuais em 2020, segundo a análise de Deluard.

Em um ano em que diferentes formas de desigualdade estão sob ataque — gênero, raça, renda —, o mercado acionário é criticado como uma instituição que reflete e amplifica disparidades, onde os ricos ficam mais ricos quando removem outros seres humanos do processo. Gigantes de tecnologia são foco de críticas e seus líderes foram convocados pelo Congresso americano para tentar justificar seu tamanho e influência.

Aposta no futuro

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Segundo Deluard, o mercado seria um reflexo da economia e aposta nas empresas que irão prosperar no futuro (Imagem: Pixabay/ StockSnap)

Neste ano em que tanto as bolsas e quanto o desemprego dispararam, ouve-se muito que “o mercado acionário não é a economia”. Pela lógica de Deluard, isso não é verdade. O mercado seria um reflexo da economia e aposta nas empresas que irão prosperar no futuro.

É fácil ver o sucesso das apostas em firmas de tecnologia. O índice Nasdaq 100 subiu 33% este ano. Mais a fundo, o entendimento é que empresas que dependem menos dos funcionários estarão em melhor posição também.

Deluard dividiu o S&P 500 em decis com base em uma métrica que ele chama de “valor de mercado dos ativos intangíveis por funcionário”, ou seja, o preço da propriedade intelectual de uma empresa e do reconhecimento da marca comparado com o número de empregados. O grupo com pequeno número de funcionários em relação ao valor total da empresa gerou retorno de 18% este ano. O grupo mais intensivo em mão de obra sofreu perda de 19%.

Um exemplo é a MarketAxess Holdings, corretora de negociação automatizada de títulos de renda fixa que viu suas ações subirem 29% em 2020, ou cinco vezes o ganho do S&P 500. A empresa emprega cerca de 530 pessoas, segundo dados compilados pela Bloomberg, mas seu valor de mercado se aproxima de US$ 19 bilhões. Pelos cálculos de Deluard, a MarketAxess está no topo do ranking das componentes do S&P 500 em termos de quanto a propriedade intelectual supera a contribuição dos humanos para o valor de mercado.

A Netflix, que acumula alta de 51% este ano, ocupa a segunda posição. Aproximadamente 8.600 pessoas trabalham para o serviço de streaming de vídeo e a empresa tem valor de mercado de US$ 215 bilhões. Outras gigantes de tecnologia — Facebook, Apple e Microsoft — também têm classificação elevada. A exceção é a Amazon.com, que é uma das maiores empregadoras no S&P 500.

Embora todas as corporações com gigantesco valor de mercado tenham grande número de funcionários — e muitas megacaps estão até contratando —, a tendência aparece em várias comparações. Neste momento, as cinco maiores empresas no S&P 500 respondem por 5% da força de trabalho do índice.

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