Usiminas, Gerdau e CSN: por que ninguém deu bola para Trump hoje?
Tinha tudo para ser uma segunda-feira terrível para as siderúrgicas brasileiras. Logo pela manhã, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tuitou que pretende elevar as tarifas de importação do aço do Brasil e da Argentina, usando, como justificativa, a desvalorização do real e do peso – algo que geraria uma concorrência desleal.
A devastação, contudo, não veio. Pelo contrário: as ações das principais siderúrgicas do país encerraram o dia com altas acima do Ibovespa. Por volta do fechamento, apenas um papel da Usiminas, a preferencial PNB N1 (USIM6), operava em queda de 0,25%, sendo negociada a R$ 7,88.
Os demais papéis subiam fortemente. Para as outras ações da Usiminas, as altas eram de 1,83% (USIM3) e 2% (USIM5), cotadas a R$ 9,46 e R$ 8,68, respectivamente. As ações ordinárias da CSN (CSNA3) subiam 5,73%, para R$ 13,28. Já a Gerdau (GGBR4) avançava 2,65%, com os papéis cotados a R$ 17,45.
No mesmo instante, o Ibovespa marcava 108.927 pontos – uma alta de 0,64%.
Brazil and Argentina have been presiding over a massive devaluation of their currencies. which is not good for our farmers. Therefore, effective immediately, I will restore the Tariffs on all Steel & Aluminum that is shipped into the U.S. from those countries. The Federal….
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 2, 2019
Para o BB Investimentos, o movimento não é nenhum contrassenso. Em relatório assinado pela analista Gabriela Cortez, a gestora lista alguns motivos para não encarar a declaração de Trump como o fim do mundo. O primeiro, e mais óbvio, é que Trump é… Trump, e pode mudar de ideia com a velocidade de um tweet.
A analista lembra que, no ano passado, o presidente americano tumultuou o mercado mundial de produtos siderúrgicos, ao anunciar a intenção de sobretaxar o aço em 25%, e o alumínio, em 10%. Tempos depois, Trump recuou e, em troca, negociou um sistema de cotas por país que vigora até hoje.
Força própria
O segundo motivo para acalmar os ânimos é a recuperação do mercado doméstico. O BB Investimentos observa que o aumento das exportações para os Estados Unidos foi uma válvula de escape para as siderúrgicas nacionais, diante da forte recessão de 2015 e 2016. Mas, desde a adoção das cotas pelos americanos, as companhias têm redirecionado suas vendas no exterior.
Outra razão é que as cotas brasileiras para 2019 já foram praticamente cumpridas. Se houve alguma sobretaxa neste fim de ano, dificilmente nossas exportações seriam prejudicadas. Por isso, o BB Investimentos estima um impacto nulo sobre os resultados das empresas no quarto trimestre.
Já para o ano que vem, a expectativa é de que a aceleração da economia brasileira compense qualquer contratempo no exterior.
“Assim, em nossa opinião, para 2020, o efeito de tal taxação deve ser bastante limitado, especialmente no caso de a economia brasileira continuar a melhorar efetivamente, o que poderá impulsionar a demanda no mercado doméstico”, afirma a analista.
Para ser mais exato, é possível até algum ganho para os brasileiros. A Gerdau, por exemplo, possui plantas nos Estados Unidos e, portanto, a restrição às importações pode impulsionar as vendas das unidades locais. Das empresas listadas em bolsa, a Usiminas pode ser a mais prejudicada, de acordo com o BB Investimentos, pois suas exportações estão acima da média de suas concorrentes.