Meio Ambiente

União na tragédia: incêndios florestais pedem pressa por meios de precificação ambiental

15 jan 2020, 11:21 - atualizado em 15 jan 2020, 11:50
Fumaça decorrente de incêndios na Amazônia clareia céu na região de Humaitá, no Amazonas
Recuperação de áreas degradadas pede urgência em mecanismos internacionais de financiamento (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

O que tem em comum os incêndios nas florestas brasileiras e da Austrália, apesar das diferentes causas, extensão e prejuízos? A distância de poucos meses entre as duas tragédias – com a pouco eficaz Conferência do Clima (COP 25) no meio do caminho – pode servir para unir governos, instituições multilaterais, empresas e a sociedade global na busca de compreensão e soluções mais urgentes de reparação ambiental.

E até unir atores locais e mundiais opostos.

No caso das florestas brasileiras e australianas, cujos danos são incalculáveis, a necessidade de acelerar os mecanismos de atração de investimentos ficaram mais evidentes. Tanto na recuperação, dentro do possível, quanto na preservação que se evite todas as formas resultantes em desmatamento.

Países sem meios de mitigar suas emissões de gases efeito estufa compensariam em projetos internacionais, como a Noruega e Alemanha vinham fazendo no Brasil e depois abortaram por desconfiança quanto às intenções preservacionistas do governo Jair Bolsonaro.

Se enquadram no REDD+, incentivo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de Redução de Emissões de gases de efeito estufa provenientes da degradação florestal, lembra Karen Tanaka, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).

Mas o mercado de carbono, ainda sem regulamentação e definição quanto ao seu funcionamento, tanto no nível de países quanto globalmente, está entre as principais apostas do Cebds. A entidade formada por players de todos os setores tem atuado junto aos governos federal e estadual na construção de uma agenda relacionada aos interesses das empresas na precificação e negociação desse mercado.

“Não podemos estimar o prazo e o quanto os incêndios florestais, ressalvando suas diferenças, podem acelerar os mecanismos, mas certamente despertou mais urgência chamando atenção para os riscos de mudanças climáticas”, diz Karen Tanaka, coordenadora da Câmara Temática de Clima da entidade e que esteve na missão da entidade na COP 25, em Madri, no começo de dezembro.

Ativos atraentes

As florestas ardendo em chamas não são tudo, mas remete aos demais potenciais projetos de sequestro de carbono nos processos produtivos que possam ser precificados. A chamada economia de baixo carbono. E, como lembra Karen, o Brasil é uma liderança mundial por possuir ativos que podem se transformar em valor, gerar receita para os investidores e produtores, e ajudar o planeta.

O agronegócio brasileiro está entre os principais ativos. Florestas plantadas, degradação de pastagens e o etanol estão entre eles.

Importante destacar, ainda, que as novas tecnologias vão trazendo cada vez mais meios de diminuir as emissões de carbono, podendo incorporar mais atrativos em cadeias produtivas e, como consequência, gerar mais valor. Inclusive como destacou ao Money Times, em duas ocasiões (21/11 e 11/12), a presidente-executiva do Cebds, Marina Grossi.

Ou seja, não basta haver ativos ambientais. É preciso que eles sejam atraentes ao mercado.

A coordenadora técnica do Cebds mostra o exemplo do etanol. O produto vai sendo melhorado em termos de ativo ambiental com o etanol de segunda geração, o 2G, extraído da celulose contida no bagaço e palha da cana.

Além do que o RenovaBio, já valendo desde o começo do ano, vai gerar valor às unidades produtoras que menos utilizarem recursos poluentes em seus processos produtivos. São os CBios (Créditos de Desbiocarbonização) que serão negociados no mercado.

 

 

 

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