Comprar ou vender?

Uma ponte para o futuro

29 maio 2017, 12:07 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Olivia

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O feriado na China, no Reino Unido e nos Estados Unidos nesta segunda-feira esvazia a sessão de negócios no exterior e mantém o foco dos mercados domésticos nas questões internas, em meio à expectativa dos investidores por um desfecho na cena política brasileira em junho. Acontece que, a partir das informações que se tem até hoje, o cenário da permanência do presidente Michel Temer até 2018 está ganhando corpo.  

O mercado ainda trabalha com a expectativa de que Temer irá deixar o cargo após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir pela cassação da chapa eleita em 2014, em julgamento  marcada para o dia 6 de junho. Mais que isso, a aposta é de que o sucessor será um nome de consenso entre os aliados com capacidade de dar andamento às reformas trabalhista e previdenciária no Congresso.

Durante o fim de semana, porém, o presidente reforçou posições estratégicas no governo, alterando o cargo entre ministros e se movimentando para ficar no poder. Agora, Torquato Jardim assume o lugar de Osmar Serraglio no Ministério da Justiça, que, por sua vez, ficará com a vaga dele no Ministério da Transparência e Controle – pasta que faz os acordos de leniência com as empresas investigadas pela Lava Jato.

Do lado operacional, delegados da Polícia Federal manifestam preocupação com a troca de comando na Justiça, devido à possibilidade de interferências políticas no trabalho, além de corte de recursos e de investimentos que prejudiquem as investigações, reduzindo ainda mais a equipe. A avaliação é de que, enquanto Serraglio era considerado um ministro fraco, Torquato tem personalidade suficiente para retomar o controle da PF.

Essa ofensiva de Temer pode abafar a Operação Lava Jato, retardando a tomada de decisão para ações do PF. A mesma estratégia deve ser adotada do ponto de vista jurídico, com o processo no TSE podendo se alongar. Dos dois lados, Temer mostra que ainda está com força para se legitimar no poder.

Porém, no lado político, a base aliada de Temer encolheu na Câmara, com as bancadas do PSB, PPS, PTN e PHS anunciando sua saída do governo, após a delação da JBS. Juntos, esses partidos somam 66 deputados, que passarão a fazer oposição, reduzindo o apoio ao presidente para 347 parlamentares. Trata-se de um número apertado, considerando-se o mínimo de 308 votos para aprovar a reforma da Previdência e eventuais dissidências.

Seja qual for a evolução em relação ao chefe do Executivo, o que importa mesmo para os investidores é que a pauta das reformas entrem em rota de aprovação no Congresso. Mas as incertezas sobre o desenrolar político ainda são grandes e novos fatos podem vir à tona, reduzindo ainda mais a base de apoio ao presidente.

Desse modo, seria leviano tratar de modo enfático sobre o que vai acontecer – como tem defendido o mercado financeiro em um discurso convencional (mainstream). No entanto, o que está claro, hoje, é que a base aliada ainda não conseguiu costurar um nome de consenso nem convencer Temer a renunciar.

Mas o dia deve ser mais tranquilo nos negócios locais, com os investidores promovendo os ajustes finais nesta reta final de mês e evitando posições mais ousadas diante da ausência do referencial no exterior. Lá fora, os ativos estão de lado, sem direção definida para os negócios com bolsas, commodities e moedas.

Ao contrário da aparente calmaria do dia, a agenda econômica está carregada nesta semana. Os destaques no Brasil ficam com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa básica de juros, na quarta-feira, e com os números do Produto Interno Bruto (PIB) do país nos três primeiros meses deste ano, na quinta-feira.

Enquanto a expectativa é de que o Banco Central mantenha o ritmo adotado em abril e reduza a Selic em mais um ponto percentual (pp), para 10,25%, diante dos sinais de alívio na inflação; no PIB, a aposta é de que a famigerada recessão econômica chegue ao fim, com uma expansão de até 0,8% dando fim a uma sequência de oitos resultados negativos consecutivos da atividade.

Ainda no calendário doméstico, saem o IGP-M de maio (amanhã), a taxa de desemprego (quarta-feira) e a produção industrial em abril (sexta-feira). Hoje, destaque apenas para a pesquisa semanal do BC (8h25).

No exterior, a agenda ganha força já amanhã, quando serão conhecidos a renda pessoal e os gastos com consumo do norte-americano no mês passado, além do índice de preços PCE, que é o preferido do Federal Reserve. Também serão conhecidos dados de atividade nos Estados Unidos, na zona do euro e na China até sexta-feira, além de números sobre desemprego e inflação na região da moeda única.

Mas o grande destaque é o relatório oficial sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll) fechando a semana. Diante da série de indicadores relevantes nos EUA, os investidores devem calibrar as apostas em relação à reunião de junho do Fed, após o BC norte-americano ter deixado claro, na ata conhecida na semana passada, que uma nova alta na taxa de juros do país deve acontecer “em breve”.

A sensação é de que a economia dos EUA está caminhando a passos firmes rumo ao cumprimento do duplo mandato do Fed, em relação à trajetória da inflação e do emprego. Nesse ambiente, a política monetária precisa agir para que a atividade não esteja nem muito quente nem muito fria, o que reforça as chances de um aumento do custo do empréstimo no país no próximo mês.

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