Eleições 2018

Uma faca de dois gumes: Mercado dá apoio explícito a Bolsonaro e vê Alckmin menor

10 set 2018, 9:30 - atualizado em 10 set 2018, 9:40
Ainda internado, o candidato Jair Bolsonaro aparece sentado pela primeira vez depois de ataque em Juiz de Fora – Redes Sociais/Flávio Bolsonaro

O mercado financeiro começa, aos poucos, definir o seu candidato preferido. Mais do que isso, os investidores estão assumindo que Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas e apoiado pelo economista Paulo Guedes, é a escolha com maiores chances para vencer em outubro. A reação desta triste quinta-feira (6), em que o deputado federal sofreu um grave atentado, deixa isso mais claro.

Um dos principais problemas para a sua candidatura, o alto nível de rejeição (que subiu de 37% em agosto para 44% esta semana), pode ser revertido após a comoção nacional em torno do ocorrido. “A facada muda o jogo da comunicação, dificultando o ataque ao candidato – consequentemente, reduz as chances de que sua rejeição continue a crescer, até se transformar em voto estratégico em outro candidato”, opina Vitor Oliveira, Cientista Político e diretor da Pulso Público.

Em um relatório enviado ontem, o BTG Pactual atribuía à campanha negativa contra ele nas últimas semanas ao crescimento da rejeição. “Um alto índice de rejeição reduz bastante as chances de vitória do candidato em um eventual segundo turno”, explica Iana Ferrão, que assina a análise. Foi com isso em mente que o mercado correu às compras logo nos minutos seguintes ao ataque em Juiz de Fora (MG).

Isso poderá mudar totalmente a tendência do eleitor do segundo turno, onde Bolsonaro já tinha vaga cativa, analisa Ivan Sant’anna, autor das newsletters de investimentos Warm Up Inversa e Os Mercadores da Noite. “A facada que perfurou o deputado atingiu em cheio outros quatro candidatos: Fernando Haddad, do PT, Geraldo Alckmin (que conduzia sua campanha com ataques a Bolsonaro), Ciro Gomes e Marina Silva, ou seja, os potenciais adversários do capitão no 2º turno”, diz.

Pesquisa

primeira pesquisa de intenções de votos realizada após o atentado contra Jair Bolsonaro na última quinta-feira (6) revela um expressivo crescimento do candidato do PSL, mostra o levantamento feito pelo BTG Pactual em conjunto com a FSB Pesquisa.

Na intenção de voto espontânea, o deputado federal saltou de 21% para 26%, enquanto Lula despencou de 21% para 12% em relação ao último levantamento feito entre 1º e 2 de setembro. Ciro Gomes fica em terceiro (de 4% para 7%). “Em 80% dos casos, as intenções de voto em pesquisa espontânea sobem ao longo da reta final da eleição”, ressalta o Itaú BBA em um relatório.

Reação

“É explícita a reação positiva do mercado, com devolução de prêmio generalizada mesmo na véspera do feriado da Independência do Brasil”, avaliou em relatório a corretora H.CommcorO Ibovespa, que já subia antes do fato, engatou uma alta maior na quinta-feira. Na sexta-feira (7), feriado no Brasil, o fundo EWZ, que acompanha o índice MSCI Brazil, que por sua vez reúne as principais ações brasileiras no exterior, subiu 1,47%.

“A reação no mercado foi de aceleração dos ganhos que já eram observados com ativos locais, com uma leitura inicial de que o atentado contra Bolsonaro levaria a potencial enfraquecimento de partidos de esquerda, à exemplo do PT, assim como potencial fortalecimento de candidatos de centro-direita/direita, incluindo Bolsonaro”, avalia a equipe da corretora H.Commcor.

Em um relatório publicado no mês passado, a consultoria do economista Nouriel Roubini já avaliava que a dificuldade enfrentada pelo candidato Geraldo Alckmin (PSDB), até então visto como o preferido do mercado, para subir nas pesquisas, poderia fazer com que os investidores passassem a apoiar o Bolsonaro.

O economista sênior para América Latina Pedro Tuesta, que assina a análise, afirma que Alckmin tem uma montanha para escalar a poucas semanas antes das eleições. “Os mercados devem se preparar para ter uma série de notícias negativas e podemos ver uma mudança para apoiar Jair Bolsonaro, apesar das muitas dúvidas sobre seus pontos de vista de direita”, conclui Tuesta.

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