Um plano além da safra: A urgência de inovar o financiamento do agro
A produção agropecuária brasileira sempre foi um pilar da economia nacional, garantindo segurança alimentar, geração de divisas e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
No entanto, o modelo de financiamento do setor está ancorado em um modelo ultrapassado, baseado na intermediação bancária e na dependência de recursos públicos para equalização de juros.
Com o cenário econômico atual, marcado por restrição fiscal, alta de juros e limitação no crédito subsidiado, o Brasil precisa urgentemente de inovação na política pública para o agro. A resposta? O crédito além da Safra.
O crédito além da Safra: uma nova abordagem para financiar o agro
O Plano Safra, por décadas, tem sido o principal instrumento de financiamento da produção agrícola e pecuária. Porém, olhar apenas para o crédito de custeio de uma safra para outra não é suficiente. O agronegócio brasileiro precisa de um plano estruturado, que vá além do crédito e inclua planejamento de longo prazo, mitigação de riscos e atração de capital privado.
O mundo mudou. O mercado financeiro está mais sofisticado, e os investidores estão cada vez mais atentos às oportunidades no agronegócio. FIDCs, Fiagros e o mercado de capitais oferecem caminhos alternativos e sustentáveis para o financiamento do agro, mas o governo ainda insiste no modelo tradicional de subsídios bancários.
A CVM tem mostrado disposição para inovar, regulando novos instrumentos e facilitando o acesso ao mercado de capitais. O que falta é o governo enxergar essa realidade e estruturar políticas que incentivem essa transição.
Mercado de capitais: o agro já tem os instrumentos, falta a política pública
O Brasil já dispõe de veículos financeiros modernos para fomentar o crédito agropecuário. O Fiagro, criado para atrair investimentos para o setor, é uma ferramenta estratégica que poderia ser impulsionada por incentivos fiscais e maior apoio institucional. O FIDC, por sua vez, permite securitizar recebíveis agrícolas e dar liquidez ao crédito rural, reduzindo a intermediação bancária e baixando o custo do dinheiro para o produtor.
O potencial desses instrumentos é enorme. No entanto, ainda há barreiras regulatórias e falta de incentivo governamental para sua adoção em larga escala. O governo insiste em injetar bilhões na equalização de juros bancários em vez de estruturar um fundo garantidor robusto que alavanque o mercado privado.
Enquanto isso, o mercado está pronto e espera apenas um sinal verde do setor público para avançar de forma mais acelerada. Há apetite de investidores institucionais, como fundos de pensão, seguradoras e até capital estrangeiro, por produtos financeiros atrelados ao agro. O que falta é o governo criar as condições para essa transição acontecer.
A importância de um planejamento agrícola de longo prazo
O Plano Safra não pode ser visto isoladamente. É preciso que haja um planejamento agrícola dentro do Plano Plurianual (PPA), para garantir previsibilidade, segurança jurídica e diretrizes claras de financiamento de longo prazo.
Em vez de renovar a cada ano um volume crescente de crédito subsidiado, o governo deveria desenhar uma política agropecuária baseada em mitigação de risco, que envolvesse seguros rurais, hedge cambial e ferramentas de proteção contra mudanças climáticas.
Um plano que vá além do crédito
Além de fomentar crédito de longo prazo via mercado de capitais, um Plano Plurianual Agrícola robusto deveria incluir políticas complementares, como:
- Seguro Rural Forte: Incentivo ao uso de seguros agrícolas privados, reduzindo a dependência dos produtores da renegociação de dívidas com o governo.
- Fundo Garantidor do Agronegócio (FGA): Um fundo que cubra riscos sistêmicos e fortaleça operações financeiras privadas.
- Investimentos em Pesquisa e Risco Climático: Desenvolvimento de tecnologias para adaptação às mudanças climáticas e inovação na gestão de riscos agropecuários.
- Infraestrutura e Logística: Planejamento estratégico para investimentos em armazenagem, transporte e eficiência na exportação.
O que o governo está esperando?
O governo tem, hoje, a oportunidade de modernizar a política pública para o agro e reduzir sua dependência fiscal de forma sustentável. O setor privado está pronto, os instrumentos financeiros já existem, e a CVM tem demonstrado flexibilidade e inovação para viabilizar essa transição.
A pergunta que fica é: o que o governo está esperando para inovar? O futuro do crédito agrícola no Brasil não pode estar preso à lógica de safra a safra. O agro precisa de um plano de financiamento para décadas, e não para um ano.
É preciso uma política que olhe para crescimento sustentável, inovação e eficiência, garantindo que o Brasil continue sendo um dos líderes globais do agronegócio. A revolução do crédito agro está ao alcance. O governo só precisa dar o primeiro passo.