Um falcão ronda o Banco Central
A perspectiva fiscal e política altamente imprevisível, e o seu impacto temporário potencial sobre o real, complica o ambiente para a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central agendada para esta quarta-feira (19). É a última reunião marcada antes de que o País conheça o novo Presidente da República, já que o próximo encontro será em 31 de outubro. O 2º turno acontece em 28 de outubro.
Dois rejeitados, uma presidência: O 2º turno já começou
O mercado financeiro já começa a agir como se o segundo turno no Brasil tivesse começado após a publicação da última pesquisa eleitoral do Ibope na noite de ontem. Jair Bolsonaro (PSL) subiu de 26% para 28% e Fernando Haddad disparou de 8% para 19% e se isolou na segunda posição. É fato que o BC mantém conversas com as equipes dos candidatos, mas há poucas certezas sobre os times dos dois.
O economista-chefe para América Latina do banco ING espera que o BC mude a sua postura neutra para mais “falcão”, ou seja, inclinada a uma elevação da taxa de juro, antes que possa de fato subir a Selic dos atuais 6,5% ao ano. A manutenção é vista como certa para 100 economistas consultados pelo relatório Focus. Para 2019, contudo, a estimativa é de um aumento para 8%.
“Dada a baixa inflação e ainda substancial munição para intervir no mercado de câmbio, se necessário, as autoridades podem esperar até depois das eleições para uma melhor avaliação das perspectivas políticas e fiscais”, analisa Rangel. O economista Victor Cândido da Guide Investimentos acredita que o time de Ilan Goldfajn irá “sinalizar que deixará as futuras decisões em aberto”.
O economista Dev Ashish do Société Générale foge do consenso e espera uma alta já nesta reunião. “Continuamos a acreditar que a depreciação do real afetou significativamente as perspectivas de inflação e que as coisas vão piorar ainda mais tanto no câmbio quanto na inflação nos próximos trimestres. A comunicação será novamente a chave para futuras reuniões e esperamos que o BC lance uma declaração mais “falcão” em setembro, mesmo que não seja implementado um aumento”, destaca.
O BTG Pactual lembra também que o ambiente externo tornou-se mais volátil com a escalada de medidas protecionistas, diminuindo o apetite pelo risco e deteriorando as condições de mercado para as economias emergentes, além de os efeitos negativos da greve dos caminhoneiros e das eleições.terem aumentado. A última decisão do Copom foi tomada em 1 de agosto.
“Continuamos atentos à comunicação daqui para frente e aos sinais de flexibilidade sobre possíveis ações no final do ano”, destacam Claudio Ferraz e Priscilla Burity, que assinam o relatório. O falcão sobrevoa o BC, pode não pousar desta vez, mas certamente não irá deixar Brasília por um bom tempo.