Eleições 2022

Um Congresso bolsonarista é também liberal na economia?

24 out 2022, 12:08 - atualizado em 24 out 2022, 12:08
O partido do presidente Bolsonaro (PL) mostrou força, elegendo 8 novos senadores e se tornando o maior partido do Senado (Imagem: Roque de Sá/Agência Senado)

No dia 3 de outubro, o Ibovespa disparou 5% em sua maior alta diária desde 2020. O motivo não foi nem muito a disputa presidencial, que mostrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 48% e Jair Bolsonaro (PL) com 43%, mas as eleições no Congresso.

Segundo cálculos dos analistas do BTG Pactual, o número de deputados da Câmara dos partidos que apoiam formalmente Lula caiu para 126 (25%); para o Senado, o número de cadeiras de apoio ao petista ficou em 14 (17%).

Por outro lado, o partido do presidente, o PL, mostrou força, elegendo oito novos senadores e se tornando o maior partido do Senado, com 13 representantes.

Os partidos considerados de direita ou centro-direita (PL, União, PSD, PP, Republicanos e Podemos) têm agora 51 cadeiras no Senado (de 81), uma maioria decisiva de cerca de 63%. Esses mesmos partidos elegeram 300 deputados da Câmara, ficando com 58,5% das cadeiras.

Damares presidente?

Com o crescimento expressivo, bolsonaristas começam a sondar postos mais altos no Congresso. É o caso da senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves, que manifestou o seu desejo de ser presidente do Senado.

“Se Bolsonaro disser que me deixa ser candidata à presidência do Senado, eu serei. Você pensa o sonho: a primeira mulher a assumir a presidência do Senado. Claro que vou ter que combinar o jogo com Tereza Cristina porque ela seria uma grande presidente, mas não estou brincando, estou falando sério”, afirmou.

Muito mais ligada à chamada pauta de costumes do que às pautas econômicas que tanto interessam os mercados, agentes financeiros já começam a mostrar preocupação com a agenda econômica do próximo presidente.

Em entrevista ao O Globo, um executivo de grande banco disse que Damares na presidência do Senado seria um problema para a governabilidade, seja de Lula ou de Bolsonaro, e para o andamento de reformas econômicas.

“Está começando a cair a ficha na Faria Lima de que um Congresso de maioria conservadora, como o eleito no último domingo, não necessariamente é liberal na economia”, afirmou.

Mas o quanto essa preocupação é válida? O Money Times conversou com cientistas políticos para entender as novas peças que assumem um novo mandato em 2023.

Vai ficar difícil?

Para Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, a onda conservadora que invadiu o Congresso não é sinônimo de agenda econômica.

“Isso nem tanto pelos temas, mas por causa de um maior equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo, que já vem de algum tempo e foi reforçado ao longo da administração Bolsonaro”, afirma.

Em sua visão, a onda bolsonarista foi eleita mais por causa da agenda de costumes do que dos temas relacionados à economia.

“Esse será um quadro bastante desafiador, até porque muitos nomes que foram importantes em fazer essa articulação que agora não estão mais lá. Vejo dificuldades importantes em um eventual governo Bolsonaro para a agenda de reformas”, discorre.

Já o analista político da Levante Investimentos, Felipe Berenguer, diz que o Executivo ainda possui força para pautar o Congresso.

“As pautas mais conservadoras e as pautas econômicas estão sobrepostas. Dependerá da condução do governo, caso o presidente Bolsonaro seja reeleito, qual será a prioridade para a pauta. Apesar de o Congresso ter mais autonomia nos últimos anos, quem define as prioridades ainda é o Executivo”, explica.

Ele lembra ainda que o Senado, de fato, colocou um capa mais de costumes. “Mas a composição na Câmara não mudou muito. Metade foram reeleitos. E nesses últimos anos, houve pautas econômicas, tanto pela Covid-19, que exigiu, como no começo do mandado, com a aprovação da reforma da Previdência”, diz.

Sem interlocutores?

Outro ponto notado pelo mercado é que deputados que tinha trânsito com os investidores, como Rodrigo Maia e Marcelo Ramos, não foram eleitos.

Mas para os especialistas, esse vácuo de interlocução será preenchida por outros nomes.

“O mercado cobre os interlocutores que estão lá. Quem quer que ocupe a cadeira de presidente do Senado e da Câmara, tem um papel institucional. O que parece desafiador não é nem tanto a ausência de interlocutores para destravar as reformas. É mais um constrangimento para esses atores”, discorre Cortez.

Ele coloca que os congressistas não têm a trajetória de construir sua sobrevivência política a partir da defesa de reformas estruturais.

“Estão em outro contexto, operando em outro contexto da relação entre os Poderes. Há uma mudança importante de diagnóstico que ocorreu nos dois últimos anos do governo Bolsonaro”, completa o cientista político da Tendências.

Berenguer, da Levante, avalia que tudo irá se encaixar. “Muita gente do mercado vai lá em Brasília. Não vejo o mercado sem representação só porque esses deputados não foram eleitos”, completa.

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