Ucrânia: Um raio-x para entender a infraestrutura de commodities do país
Com forças russas atacando alvos na Ucrânia, os mercados de commodities estão de olho na vasta rede de infraestrutura que é fundamental para o fornecimento de gás, produtos agrícolas e aço para a Europa e outras partes do mundo.
Moscou confirmou que está mirando instalações militares em todo o país e a autoridade que guarda as fronteiras da Ucrânia informou que os bombardeios vêm de cinco áreas — inclusive da Crimeia ao sul e da Belarus ao norte. Os preços de petróleo, produtos agrícolas, metais e energia europeia dispararam. O Ocidente prometeu mais sanções.
A região de Donetsk tem grandes siderúrgicas e um porto que movimenta grãos e metais. Mais distante da fronteira russa estão terminais mais importantes que suprem as necessidades mundiais de commodities. Grandes quantidades de gás russo chegam à União Europeia por gasodutos que cruzam a Ucrânia.
Qualquer interrupção apresenta riscos de escassez na Europa. Com as commodities já cotadas em níveis recordes, a guerra na Ucrânia aumentará as pressões inflacionárias em toda a economia global.
Energia
A Ucrânia tem uma enorme rede de gasodutos, projetada durante a era soviética para enviar o combustível de gigantescos campos na Sibéria para a Europa. Após o colapso da União Soviética, a Rússia gastou bilhões de dólares na construção de ligações que contornassem o país vizinho, mas a Ucrânia continua sendo um pilar da segurança energética da Europa.
O gás entra na Ucrânia através de estações de compressão em Sudzha e Sokhranovka, que ficam a poucas horas de distância das regiões separatistas e na fronteira entre os dois países. O gás então corre por gasodutos que atravessam toda a Ucrânia e avançam pela Europa, passando por nações como a Eslováquia.
Cerca de um terço do fornecimento de gás da Rússia para a Europa costuma fluir através da Ucrânia, mas os volumes estão atualmente em torno de 20%.
Os dutos que cruzam a Ucrânia também transportam um pouco de petróleo russo para a Europa. No setor elétrico, a maior concessionária privada do país, a DTEK, tem algumas usinas em partes de Donetsk e Luhansk controladas pela Ucrânia.
Alimentos
Solos ricos e férteis ajudaram a Ucrânia a se tornar o segundo maior exportador de grãos. A região do Mar Negro é conhecida como celeiro do mundo. As plantações de milho se concentram no centro e no norte do país, enquanto as lavouras de trigo e cevada ficam mais ao sul e os campos de girassóis no leste, segundo dados do governo dos EUA. Esses produtos são transportados por caminhões, trens e balsas até os portos para então serem vendidos na Ásia, África e União Europeia.
Os portos estão espalhados ao longo da costa do Mar de Azov — que tem ligação com o Mar Negro por um estreito que passa entre a Rússia e Crimeia, que os russos anexaram em 2014 — e da costa do Mar Negro, mais a oeste. Os portos do sudoeste — Odesa, Pivdennyi, Mykolayiv e Chornomorsk — movimentam quase 80% das exportações de grãos da Ucrânia, segundo a empresa de pesquisas UkrAgroConsult.
O Mar de Azov é compartilhado pela Rússia e pela Ucrânia e a navegação foi suspensa ali, segundo a agência de notícias Tass publicou na quinta-feira, atribuindo a informação à Agência Federal de Transporte Fluvial e Marítimo da Rússia. Os portos do Mar Negro continuam funcionando normalmente, de acordo com a reportagem.
Aço e Ferro
O aço ucraniano responde por um décimo das importações da Europa, de modo que qualquer paralisação nas usinas ou embarques limitaria ainda mais a oferta no continente e manteria os preços em alta após o recorde atingido no ano passado.
A ArcelorMittal é dona da maior usina siderúrgica da Ucrânia, em Kryvyi Rih, no centro do país. A Ferrexpo é a terceira maior fabricante mundial de pelotas de minério de ferro e tem todas as suas operações na Ucrânia, a cerca de 350 quilômetros de Kiev.
Cerca de 60% dos metais ferrosos da Ucrânia que são exportados por mar passam pelos portos do Mar Negro de Odesa, Pivdennyi, Mykolayiv e Chornomorsk, segundo a autoridade portuária do país.