Ucrânia: Murayev e Medvedchuk são os mais cotados como presidente-fantoche de Putin
Apesar da surpreendente resistência da Ucrânia à invasão deflagrada pela Rússia, os analistas dão como praticamente certa a queda do atual presidente, Volodymyr Zelensky. Sem o apoio de tropas do Ocidente, a tomada de Kiev, capital ucraniana, é apenas questão de tempo.
Entre uma anexação clássica, que transformaria a Ucrânia em uma província russa, e a implantação de um governo pró-Moscou, os analistas apostam que o cenário mais provável é o último, devido aos menores custos políticos, econômicos e de imagem envolvidos. Por isso, o mundo já cogita quem será o fantoche que Vladimir Putin colocará no poder para atender a seus interesses.
Por ora, as apostas convergem para dois nomes: os oligarcas Viktor Medvedchuk e Yevhen Murayev. Em comum, ambos têm um histórico de defesa de políticas pró-Rússia e anti-Ocidente. Veja, a seguir, o que se sabe de cada um.
Viktor Medvedchuk
O oligarca ucraniano é tão próximo de Putin, que se orgulha de dizer que o presidente russo é padrinho de sua filha. Com 67 anos e nascido na Rússia, Medvedchuk é presidente do partido OPZZh (Plataforma de Oposição – Pró-Vida), declaradamente russófilo.
Como é comum no Leste Europeu, a origem de sua fortuna é nebulosa. Acredita-se que seja dono de, pelo menos, três redes de televisão – algo que seria útil à propaganda pró-Rússia em um novo governo, segundo os analistas. Medvedchuk também mantém fortes laços com empresários russos, e seus interesses se estendem a projetos petrolíferos, o que pode ser um trunfo para integrar a economia ucraniana à do país vizinho.
“Se Putin tivesse que escolher, penso que Medvedchuk seria sua opção”, afirmou Jaro Bilocerkowycz, professor da Universidade de Dayton e especialista em Ucrânia e Rússia, à revista Newsweek. “Mesmo que ele não seja o número um, ele poderia ser o número um de fato, no caso de colocarem outra pessoa à frente do governo”, acrescenta.
Atualmente, o oligarca não vive seus melhores dias. Em janeiro, ele foi considerado culpado de conspirar com separatistas pró-Rússia e condenado a prisão domiciliar. Os problemas com a Justiça Ucraniana, no entanto, vêm de mais tempo. No ano passado, por exemplo, ele e sua esposa tiveram os bens congelados por três anos, após serem acusados de financiar movimentos separatistas.
Yevhen Murayev
Murayev chamou a atenção mundial, quando, em janeiro, a imprensa britânica divulgou que o serviço de inteligência do país tinha informações de que o oligarca é um dos cotados por Moscou para formar o novo governo, após a provável queda de Zelensky. Na ocasião, a Rússia afirmou que a informação não era verdadeira, enquanto Murayev declarou que a notícia era “absurda e sem fundamento”.
Ex-membro do Parlamento ucraniano e líder do Nashi, outro partido pró-Rússia, o bilionário é herdeiro de um grupo de mídia e chegou a se candidatar à Presidência em 2019, mas retirou-se da corrida antes das eleições.
Entre as ideias que o aproximam de Putin, está a de que o Ocidente financiou um golpe em 2014 para derrubar o então presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich. No ano passado, Murayev afirmou também que o movimento separatista ucraniano era um assunto interno, negando que houvesse interferência de Moscou.
Também em 2021, o político e oligarca acusou o atual presidente de ser controlado pelo Ocidente. “Zelensky é um refém e está sendo chantageado pelo MI6, CIA e todos os outros. Amanhã, eles podem forçá-lo a lançar uma ofensiva contra Donbass, o que levaria a uma escalada da guerra”, disse na ocasião, segundo a Reuters.
Apesar de sua retórica indubitavelmente simpática a Putin, Murayev é considerado um azarão na formação do próximo governo. Em recente entrevista à Reuters, Volodymyr Fesenko, analista político ucraniano, considerou Murayev um “candidato estranho”. E acrescentou que ele “não é uma figura tão próxima ao Kremlin, especialmente, se comparado a Medvedchuk”.