UBS vê maior risco em renda fixa e dólar, mas oportunidade em bolsa
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
Os mercados este ano têm sido caracterizados por extremos de fortes ganhos e medo, observa a equipe de Investimentos do UBS no Brasil. Depois de um começo de ano em que os ganhos predominaram, os mercados foram tomados por mudanças importantes no cenário. A raiz desse mau humor, segundo o UBS, começou com o receio de uma aceleração dos juros nos EUA devido a expectativas de inflação mais elevadas. Depois, veio o risco de protecionismo do governo americano provocar uma guerra comercial.
Mas, para o UBS, esses medos não são grandes o suficiente para contar o crescimento da economia no mundo em desenvolvimento, “mas reconhecemos o fato de que os investidores devem esperar um ambiente de maior volatilidade nos próximos meses”.
Eleição traz incerteza para o Brasil
Para o Brasil especificamente, o UBS avalia que o ambiente é “extremamente incerto”, por conta da eleição presidencial e porque nas últimas pesquisas eleitorais os candidatos com maiores probabilidades de chegar ao segundo turno vêm de partidos com menos representatividade no Congresso, o que aumenta os desafios do próximo governo para 2019. O novo presidente terá de ser capaz de formar e manter coalizões em um Congresso com grupos de partidos muito diferentes, alerta o UBS. “O medo de que essa pessoa não exista aumentou a volatilidade do mercado, alavancadas por alguns númreos baixos da economia”.
Há ainda a questão da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que aparece com destaque nas pesquisas eleitorais. A batalha judicial no Supremo Tribunal Federal (STF) para libertar Lula também tem aumentado a instabilidade dos mercados, já que sua candidatura levaria a uma polarização na eleição presidencial e aumentaria as chances de vitória de um candidato contrário às reformas que garantiriam um equilíbrio fiscal.
Quedas podem ser oportunidades de compra na bolsa
Nas recomendações para maio, o UBS manteve a bolsa “acima do neutro”, ou seja, recomendando compra de maneira seletiva. Já fundos multimercados, títulos indexados à inflação, renda fixa prefixada, fundos imobiliários e ativos internacionais como “neutros”, ou seja, cautela, sem aumento de aplicações. Já para títulos pós-fixados, como os atrelados ao CDI e à Selic, a recomendação é “abaixo do neutro”, ou seja, vender. Os títulos em dólar também têm recomendação “neutra”.
Renda fixa, oportunidades
Na renda fixa, os títulos prefixados de curto prazo já estariam com taxas ajustadas, sem ganhos para o investidor. Já os com vencimentos mais longos estão com retornos atraentes. Para os títulos indexados à inflação, como as NTN-B do Tesouro Direto, o UBS observa que a inflação continua surpreendendo para baixo, o que reduz sua remuneração nos últimos meses. Mas os rendimentos a médio prazo são atraentes para os investidores, “assumindo que a situação fiscal no Brasil será recuperada no médio prazo”. O banco recomenda títulos de prazo médio, já que o prêmio dos juros será suficiente para compensar o menor retorno no curto prazo.
Já para os pós-fixados, atrelados ao juro diário do CDI ou da Selic, devem sofrer com a redução da taxa básica pelo Banco Central. Mas eles podem ser usados para compensar em parte o risco maior corrido em outros mercados. Caso algo saia errado, os juros podem subir e esses títulos acompanhariam esse aumento.
Ações, ainda oportunidades
No caso das ações, o mercado tem reagido ao cenário externo tumultuado pela guerra comercial e pelo cenário político interno. Além disso, há os sinais de menor ímpeto na retomada da economia que o esperado no início do ano. Mas o UBS acredita que o impacto dessa volatilidade no crescimento, inflação e taxas de juros será limitado. “Os surtos de volatilidade devem ser vistos como oportunidade”, diz o banco que ainda recomenda compra de ações.
O banco suíço espera que a atual política econômica prevaleça no próximo governo, independentemente de quem for eleito. “Os preços continuam atraentes e esperamos que as perspectivas macroeconômicas voltem a melhorar ainda mais este ano, o que sustenta o crescimento dos lucros”, acredita o UBS, que cita o consenso do mercado para o aumento dos ganhos das empresas, de 15% a 20% nos próximos 12 meses. “O Ibovespa está sendo negociado a 12,6 vezes pelo lucro projetado em 12 meses, abaixo do desvio padrão de 10 anos”, diz o UBS.
Multimercados, mais riscos com juro menor
Sobre os fundos multimercados, o UBS alerta que a queda dos juros no Brasil faz os gestores manterem um risco de suas estratégias em um nível muto acima da média histórica, a fim de alcançar os mesmos retornos. E, apesar de prever um resultado benigno nas eleições, o caminho até lá será difícil, com um cenário binário em muitos casos. Além disso, o BC deve cortar os juros em maio e manter a taxa por vários meses, o que eliminará uma fonte de ganhos para os multimercados. “Acreditamos que os multimercados terão que procurar outras fontes de ganhos em 2018, especialmente no mercado offshore mais desafiador”, Por isso, o banco não recomenda aumentar aplicações em multimercados.
Fundos imobiliários, boas perspectivas
Quanto aos fundos imobiliários, o UBS vê boas perspectivas pela melhora da economia e queda das taxas de juros, que favorece o investimento nesse setor nos próximos anos. O banco recomenda a diversificação em fundos imobiliários, mas não aumentar a aplicação para quem já está no mercado.
Real pode se valorizar
O real é uma das moedas favoritas do UBS entre os emergentes. Após as fraquezas recentes, diz o banco, as perspectivas de risco-retorno de apostar na queda do dólar, e no fortalecimento do real, se tornaram mais atraentes, e por isso, o banco aumentou as aplicações na moeda brasileira em sua carteira de países emergentes, apostando no cenário favorável para a eleição presidencial. E as contas externas do país seguem com bons resultados, apesar da tendência de aumento das importações com o crescimento da economia. Mas há os riscos, em especial de o próximo governo não conseguir fazer as reformas, especialmente a da Previdência, ou tentar outros caminhos para ajustar o déficit público.