Opinião

UBS: sete dúvidas dos investidores sobre a Vale após a tragédia de Brumadinho; analista vê “incompetência”

28 jan 2019, 18:48 - atualizado em 28 jan 2019, 19:02

Por Arena do Pavini –  A tragédia do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, além das graves perdas humanas, sociais e ambientais, trará impactos sérios para a Vale e seus sistemas de exploração de minério, acreditam analistas. Eles tentam calcular o tamanho desse impacto para a empresa, não só imediato, em termos de imagem e indenizações para os atingidos e para o meio-ambiente, mas a necessidade que ela terá de rever suas políticas de atuação nesse tipo de empreendimento para impedir que novas tragédias ocorram. O caso pode ter desdobramentos no processo da Samarco, em que se discute uma indenização de US$ 40 bilhões da empresa.

O banco suíço UBS lembra que a mina cuja barragem rompeu é uma das quatro do complexo de Paraopeba, no Estado de Minas Gerais, que por sua vez integra o Sistema Sudeste de minas da empresa. Mas a barragem estaria inativa desde 2014 e programada para ser desativada, ou descomissionada. Como a barragem de rejeitos estava inativa, ainda não está claro se a produção logística será afetada.

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Segundo o UBS, a tragédia anterior, da Samarco, foi bem maior em termos de impactos ambientais, com 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos, mas com menos vítimas, 19 mortos e 16 feridos. A empresa firmou US $ 5,3 bilhões em acordo legal inicial com mais US $ 40 bilhões em processo pendente. Houve uma perda de 25 a 30 milhões de toneladas de produção de pelotas e uma queda no valor de mercado de US $ 2,2 bilhões no primeiro dia de negociação.

Já Brumadinho tinha uma capacidade de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos, mas um número muito maior de vidas perdidas, com 58 mortes confirmadas e 300 desaparecidos e estava desativada. Mas a Vale já perdeu US$ 6,3 bilhões no primeiro dia do acidente.

Para  o UBS, as principais perguntas dos investidores são:

1. Qual é o risco de curto prazo para a produção de minério de ferro, se houver?

2. Existe um risco de impacto para o acordo pendente de indenização civil de US $ 40 bilhões da Samarco?

3. Qual é o risco para a retomada das atividades da Samarco, que segue parada?

4. Como este é o segundo grande derramamento, o risco financeiro e monetário é maior do que o da Samarco?

5. Qual é o risco futuro para a produção da Vale que é baseado em barragens de rejeitos (por exemplo, no Sistema Sudeste)?

6. Além das inspeções regulares, quais medidas, se houver, a administração vai tomar para todo o complexo de rejeitos da Vale, por exemplo? É possível criar instalações de concreto armado pós-Samarco/Brumadinho?

7. Qual é o risco para a gestão?

O UBS manteve a indicação Neutra para o papel, com um preço justo de US$ 15,00.

Incompetência da Vale deve ser precificada, diz economista

Já o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, diz que “a incompetência da Vale precisa ser precificada” pelo mercado. Para ele, o colapso da barragem de Brumadinho coloca duas questões para os fundamentos da Vale. Uma, de curto prazo, que diz respeito a quanto vai custar para os acionistas essa nova tragédia. Outra, de longo prazo, que remete ao potencial de novos colapsos nas outras barragens do Sudeste.

Ainda que os problemas de curto prazo sejam resolvidos com um “soluço” de 5% a 10% nos preços das ações, os de longo prazo não são facilmente precificáveis, alerta Silveira. “Tudo indica que o time responsável pela gestão desse enorme passivo da empresa não avaliou corretamente os riscos gerados pela incompetência de seus engenheiros na construção das barragens”, diz.

A possibilidade de novos acidentes não pode ser descartada por esse histórico patético de dois desastres em dois anos, afirma. “Não parece razoável, porém, perguntar ao atual time de gestão da empresa sobre as probabilidades de novas ocorrências em um horizonte de dez anos”, diz. Se o atual time de gestão não tem essa competência, quem teria?

Para Silveira, o que o mercado deve se perguntar é sobre o quanto vai custar essa tragédia atual e qual a probabilidade de novas tragédias. Ambas as respostas ainda são desconhecidas e, portanto, qualquer projeção sobre os preços da empresa inclui uma enorme discricionariedade. A reação das agências de rating, avisando que a empresa está sob reavaliação, é mais do que justa. A partir de agora, a empresa precisa mostrar uma avaliação técnica crível, indicando quais são os riscos de novos eventos e quais são os planos para mitigá-los. Os custos desse ajuste, com certeza, serão bastante elevados, resume Silveira.

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