Turbulência política derruba otimismo de gestores com Brasil
Ativos brasileiros recuperaram o posto de piores do mundo após o embate entre o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus principais ministros corroer o que restava do otimismo dos investidores.
A bolsa brasileira caiu até 9,6% e o dólar subiu até 3,5% depois que Sergio Moro deixou o cargo de ministro da Justiça nesta sexta-feira. Sua saída ocorre em meio a conflitos no governo relacionados à estratégia para combate à pandemia de coronavírus – que os investidores temem que possa acabar levando à saída do ministro da Economia Paulo Guedes.
“O ‘bull case’ parece ter desaparecido”, disse Fabricio Taschetto, sócio e diretor de investimentos da Ace Capital.
A saída de Moro aumenta as tensões já crescentes. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi demitido na semana passada depois de discordar de Bolsonaro sobre o enfrentamento da pandemia.
Agora todos os olhos se voltam para Guedes, que manifestou divergência em relação a planos para impulsionar a economia por meio de um programa de investimento massivo de 10 anos.
A saída de Guedes “seria o fim da ‘boa história’ para o Brasil”, disse Delphine Arrighi, gestor de fundos da Merian Global Investors em Londres.
O surto de coronavírus paralisou a agenda de reformas do Brasil, e os conflitos entre executivo e legislativo tornaram os analistas menos confiantes de que o governo poderá retomar essa pauta quando a crise acabar.
As estimativas para lucros corporativos, que impulsionou as ações, têm sido revisadas para baixo, com o Santander agora esperando uma contração de 15% no lucro das empresas brasileiras em 2020.
O Ibovespa acumula queda de 55% em dólar desde o início do ano, de longe a pior performance entre os principais índices globais de ações. O real perdeu um terço de seu valor, ficando atrás de todas as outras moedas.
“O cenário interno está o mais bagunçado possível”, disse Gustavo Pessoa, sócio-fundador da Legacy Capital.