Turbinados por MP do Agro, títulos de pesos-pesados acenam para estrangeiros, sem medo do coronavírus
Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), oxigenados pela MP 897, ou MP do Agro, não estão com medo do coronavírus. Pelo menos na maior securitizadora do mercado, a Ecoagro, os R$ 8 bilhões que deverão ser emitidos em 2020 não sofreram nenhum susto por parte dos originadores até o momento.
Tanto porque o agronegócio pode até ser arranhado mas a China deverá voltar às compras a qualquer tempo, quanto – mais importante para o sócio-fundador da empresa, Moacir Teixeira – a MP que o presidente Jair Bolsonaro sancionará semana próxima (após aprovação no Senado) oferecerá benefícios para os produtores-emissores e para os tomadores do mercado de capitais. E acena para os internacionais.
O ‘novo’ CRA, operação para gente grande nesse negócio de antecipar recursos via crédito agropecuário, finalmente vai atender o que as duas pontas precisam para dar mais volume de operações, estimadas em R$ 45 bilhões de 2011 a 2019 – e com a Ecoagro tendo securitizado R$ 20 bilhões.
Por ordem, didaticamente, segundo Teixeira, as cinco principais alterações que turbinaram esses títulos:
1- O lastro de todos os recebíveis do agro são as CPRs (Cédula do Produtor Rural), lançadas em 1994, e que passam a ser atualizadas e aperfeiçoadas aos novos tempos;
2- O governo criará um ambiente eletrônico de negociação das CPRs;
3- Em cinco meses todas as CPRs terão registros obrigatórios;
4- Os títulos de crédito do agronegócio poderão ser referenciados em moeda estrangeira;
5- Não haverá mais tributação na variação cambial para o investidor estrangeiro aplicar num papel qualquer do agronegócio.
Os destaques, sem dúvida, são os três últimos.
Moeda estrangeira
No caso do registro dos títulos a partir de 20 de julho, o economista da Ecoagro avalia que oferece maior transparência para o mercado e o governo acompanharem a expansão das emissões.
E quando se fala em CRA, por envolver geralmente operações de monta remete-se automaticamente aos dois últimos destaques.
“Se a produção de soja é esmagadoramente exportada e os insumos dolarizados, nada melhor que o emissor poder ter um hedge natural”, afirma Moacir Teixeira, lembrando a possibilidade agora de dolarizar (ou outra divisa) o CRA.
Agora imagina-se uma estruturação peso-pesado desse tipo de crédito descontado pelo originador, cujo potencial de aquisição pelo mercado seria mais acelerado com dinheiro de estrangeiros – e até afeito a riscos, já que o custo de captação lá fora é menor que aqui.
O investidor interessado no mercado agropecuário – e Teixeira calcula que há – não vai querer pagar pela variação cambial. A taxação agora será apenas nos juros.
A MP do Agro veio para suprir a ausência do crédito subsidiado, cada vez mais, das grandes operações, deixando-o mais direcionado à agricultura familiar, e “é essencialmente técnica e liberal”, informa do diretor proprietário da Ecoagro, que no seu portfólio de quase 140 operações no agro pode-se mencionar Raízen e Suzano (SUZB3), esta na sua 1ª emissão de green bonds.