Tudo que não teve este ano na sucroenergia foi tédio. E sobraram viradas de projeções
De tédio os produtores de cana, açúcar e etanol não trabalharam em 2022.
O ponto marcante do ano foi, sem dúvida, a brusca redução dos impostos estaduais e federais sobre o etanol, por desejo do presidente Jair Bolsonaro e aprovação do Congresso.
Mas os antecedentes e as consequências foram os principais destaques. E viradas de projeções.
Já na virada de 2021 para 2022, antes mesmo da safra do Centro-Sul abrir oficialmente, em abril, o setor acreditava em um ano do biocombustível, com a valorização projetada fazendo prever um nível de produção menor de açúcar no mix.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, no final de fevereiro, foi o combustível que faltava, temendo pela falta que faria o óleo cru russo no mercado.
O petróleo disparou a US$ 100 o barril, em alguns momentos, e a Petrobras (PETR4) seguia com reajustes da gasolina – ainda que regrados, sem eliminar a defasagem -, para desespero do governo que via a inflação em ascensão.
No campo, a cana-de-açúcar sofria com a seca, pela estiagem de inverno chegando mais cedo.
Bolsonaro já havia trocado o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque por Adolfo Sachsida, conseguiu que o conselho de administração da Petrobras nomeasse o presidente Caio Paes de Andrade no lugar de José Mauro Coelho, ambos mais alinhados à ‘domesticação’ do apetite por resultados da estatal.
E fez aprovar a queda dos impostos no mesmo período.
O PIS/Pasep e a Cide foram zerados dos combustíveis até dezembro, por Medida Provisória aprovada no parlamento, que também aprovou Projeto de Lei Complementar reduzindo o ICMS dos combustíveis para 18%. Tudo praticamente numa tacada só, na virada dos semestres.
A gasolina foi a mais beneficiada em competividade, na medida em que as alíquotas eram maiores do que a do etanol, e mais vantajosa ficou pelo represamento dos preços nas refinarias da petroleira.
O etanol derreteu de preços, chegou a praticamente empatar com o custo de produção – para algumas usinas, mais antigas e custosas, até prejuízo passou a dar. Nisso, o segundo semestre já avançava e o consumidor chegou até a experimentar o hidratado a R$ 3,20 em São Paulo, por exemplo.
Para completar, o governo jogou para 2023 a necessidade de comprovação de metas de compra de Crédito de Descarbonização (CBios) pelas distribuidoras, referentes da 2022, tirando mais receita das usinas, e distorcendo o RenovaBio.
Virada da cana
No ritmo de menor produção do renovável e desvio de matéria-prima para mais açúcar, como de fato começou a ficar mais claro a partir de agosto, o normal seria também um derretimento dos preços da commodity nos futuros de Nova York, como concorda o analista Maurício Muruci, da Safras & Mercado.
Em um breve período isso ocorreu. Mas com a cana ainda com baixo rendimento pela seca, a Índia em plena entressafra e um grau demanda mundial ainda flexível em pleno processo inflacionário e de desaceleração econômica nos países centrais, o preço do açúcar até que surpreendeu.
Sim, pode-se dizer que foi destaque também.
Na sequência, as chuvas voltaram mais cedo no Centro-Sul, em quantidade, regularidade e geografia que mudaram o panorama radicalmente. O que antes apontava queda da produção, e recuperação mais parcial ainda sobre a safra 21/22, virou. Muruci evidencia esse cenário da sucroenergia, igualmente.
As usinas foram encurtando o atraso da moagem, o açúcar ainda foi se mantendo em bons preços, inclusive com apoio de algumas interrupções das operações pelas chuvas – até os 20 centavos de dólar por libra-peso foi buscado em Nova York. Aliás, máxima a qual voltou na sexta (16).
Ao final da segunda quinzena de novembro, a produção de cana que chegou às industrias atingiu 531 milhões de toneladas, mais de 2% sobre o mesmo período, em mensuração da Unica.
E ainda com unidades em operação, pelo menos até o meio deste mês.