Mercados

‘Tudo ou nada’ em bolsas dos EUA coloca foco em cenário macro

02 jan 2023, 16:45 - atualizado em 02 jan 2023, 16:45
bolsas dos EUA
Fatores divergentes afetaram o desempenho do S&P 500, o índice acionário mais famoso do mercado americano, que registrou queda anual de quase 20%, mais que o dobro do Dow Jones Industrial Average (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

O pior ano desde 2008 para investidores que apostaram em ganhos do mercado acionário também será lembrado como aquele em que as estratégias de investimento predominantes mais se diferenciaram umas das outras em duas décadas.

Fatores divergentes afetaram o desempenho do S&P 500, o índice acionário mais famoso do mercado americano, que registrou queda anual de quase 20%, mais que o dobro do Dow Jones Industrial Average.

Tem sido um refrão repetido há anos por investidores otimistas com estratégias quantitativas: o segmento de valor já se preparava para uma vitória.

Em 2022, isso aconteceu – pelo menos em termos relativos – devido a uma confluência de forças anticrescimento, desde o aumento dos rendimentos dos títulos até o aperto da política monetária do Federal Reserve.

A situação ficou difícil para empresas de grande capitalização que dominaram a década seguinte à crise financeira. Em seu lugar vieram ações de energia, seguros e de alimentos.

“2022 foi o ano em que a maré baixou e pudemos ver quem estava nadando nu”, disse Andrew Adams, da Saut Strategy. “É o primeiro ano há algum tempo que exige fazer algo diferente de apenas comprar nas quedas e manter para ganhar dinheiro.”

Ter um bom desempenho em 2022 se resumiu a uma única decisão em termos de montar o portfólio: imunizar-se contra as oscilações da taxa de juros. Foi um pedido feito há cerca de um ano por Mahmood Noorani, CEO da Quant Insight, empresa londrina de pesquisa analítica, depois que um cliente se mostrou preocupado com o crescimento e o risco de crédito.

A pedido de Noorani, a gestora reduziu em 25% a exposição a nomes antes importantes como Meta Platforms e PayPal Holdings e elevou na mesma proporção as posições em empresas como Coca-Cola e Shell.

Quatro meses depois, a troca valeu a pena: um ganho de 4 pontos percentuais nos retornos sobre o que teria acontecido se esses ajustes não tivessem sido executados.

A estratégia destaca a principal narrativa de 2022: quando o caminho da inflação e da política do Fed se torna a força dominante do mercado, todos se tornam macro traders.

Atender às grandes tendências econômicas pode novamente ofuscar as escolhas de ações no ano novo, já que a China acabou de remover a última de suas restrições à Covid, enquanto o debate sobre a recessão esquenta nos EUA.

Entre commodities, títulos e moedas, quase todos os ativos ficaram à mercê de eventos como a invasão da Ucrânia pela Rússia e a dramática intervenção do Banco da Inglaterra no mercado de títulos do governo. Um indicador de correlação de ativos cruzados rastreado pelo Barclays quase dobrou em 2022 até agosto, colocando-o entre os níveis mais altos dos últimos 17 anos.

Mercados globais
A estratégia destaca a principal narrativa de 2022: quando o caminho da inflação e da política do Fed se torna a força dominante do mercado, todos se tornam macro traders (Imagem: REUTERS/Andrew Kelly)

Mais profissionais estão reconhecendo a importância de entender como as forças macro afetam o desempenho do mercado, de acordo com Noorani, da Quant Insight.

O produto de risco macro da empresa – que oferece análise sobre a relação entre preços de ativos e mais de 20 fatores de risco, como liquidez e expectativas de juros – conquistou uma dúzia de novos clientes no último trimestre de 2022 após estabelecer uma parceria com o Goldman Sachs em meados do ano passado. O número se compara a quatro adições durante os nove meses anteriores.

Em 2023, o crescimento do PIB emerge como um fator dominante para o mercado acionário, mostra o modelo da empresa.

“O risco para 2023 é uma recessão e uma virada no ciclo de crédito”, disse Noorani. “O foco para nós agora é ir até nossos clientes e prospectos e incentivá-los a examinar suas exposições ao crescimento do PIB global e aos spreads de crédito.”

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