Comprar ou vender?

Tudo é questão de tempo

06 jun 2017, 11:28 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Olivia

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A incerteza em relação ao que vai acontecer com o cenário político daqui para frente deve manter os negócios travados nesta terça-feira. Os investidores tendem a assumir uma postura cada vez mais defensiva neste primeiro dia do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chapa eleita em 2014, enquanto digerem a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom).

A sessão da Corte eleitoral começa apenas às 19h e haverá outras três sessões marcadas para o julgamento, estendendo o processo ao menos até quinta-feira. Mas caso algum dos sete ministros peça vista do processo que analisa irregularidades na campanha da chapa Dilma-Temer, o julgamento será interrompido, sem data para ser retomado.

Assim, o processo pode entrar em fase de procrastinação, o que daria sobrevida ao presidente Michel Temer no cargo. A ação foi aberta após pedido do PSDB, que acusou a campanha adversária de usar dinheiro ilegal e de se beneficiar de desvios na Petrobras.

Já o documento do Banco Central será divulgado logo cedo (8h) e os mercados domésticos pretendem encontrar trechos que confirmem a expectativa de uma desaceleração no ritmo de queda da taxa básica de juros, após o comunicado reforçar o impacto das incertezas políticas no andamento das reformas econômicas. O alerta refere-se tanto à velocidade dos cortes na Selic quanto ao tamanho total do ciclo.

Na curva implícita de juros futuros, cresceram para 70% as chances de corte ainda menor nos juros, de 0,50 ponto porcentual, na próxima reunião, em julho, com o restante das apostas prevendo redução de 0,75 ponto e anulando qualquer possibilidade de manutenção do ritmo atual, de um ponto. Porém, após o recado claro, dificilmente a ata do Copom referente ao encontro de maio trará informações adicionais.

Enquanto isso, o Palácio do Planalto tenta manter a rotina, que inclui até uma reunião entre Temer e o presidente do BC, Ilan Goldfajn (10h30). Temer também precisa responder, até as 16h30, as 84 perguntas do depoimento que prestará por escrito no inquérito aberto contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o presidente tem o direito de não se pronunciar, se quiser.

As questões não abordam o áudio entre Temer e o empresário Joesley Batista, que eclodiu a mais recente crise política em Brasília. Outro foco de incerteza é o desdobramento da prisão do ex-assessor especial de Temer, Rodrigo Rocha Loures, que ficou conhecido como o “homem da mala”, após ter sido flagrado com uma mala com R$ 500 mil em dinheiro de propina, entregue por um executivo da JBS.

Loures é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como um “homem de total confiança” de Temer, atuando como intermediário do presidente. Ambos são investigados por crimes de corrupção passiva, entre outros. O ministro do STF Ricardo Lewandowski deve decidir sobre o pedido de habeas corpus feito pelo ex-deputado, o que aliviaria a possibilidade de delação premiada, capaz de prejudicar ainda mais o presidente.

No Congresso, líderes governistas tentam manter a pauta. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado pode votar o relatório sobre a reforma trabalhista, enquanto na Câmara o projeto que libera o controle acionário das companhias aéreas brasileiras ao capital estrangeiro está entre as principais votações do dia.

Mas a terça-feira deve ser de puro suspense nos negócios, com o julgamento no TSE entrando em um momento decisivo e totalmente indefinido. Não há prognósticos confiáveis para o processo, o que tende a redobrar a cautela dos mercados. Qualquer aposta em relação ao desfecho no TSE é muita arriscada.

Entre os cenários possíveis, Temer pode ser condenado ou absolvido em conjunto ou separadamente com a ex-presidente Dilma Rousseff. Em caso de condenação, porém, o presidente pode entrar com recurso no STF, mas ainda não se sabe se ele pode recorrer da ação e continuar no cargo ou se deverá ser afastado imediatamente.

Diante dessa indefinição a agenda econômica perde força. Mas o calendário doméstico do dia ainda merece atenção pelos indicadores antecedentes da associação de veículos Anfavea sobre a produção, os licenciamentos e as vendas externas de automóveis e máquinas agrícolas (11h20).

No exterior, a agenda de indicadores traz o relatório Jolts sobre o emprego e número de vagas disponíveis nos Estados Unidos em abril (11h). Logo cedo, saem dados de atividade e sobre a confiança na zona do euro. Os mercados internacionais também mostram maior cautela, em meio ao período de silêncio dos bancos centrais dos EUA e da zona do euro, por causa da proximidade da reunião de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central Europeu (BCE).

Às vésperas das eleições gerais no Reino Unido e do depoimento do ex-diretor do FBI James Comey no Congresso norte-americano, ambos na quinta-feira, há uma forte sensação entre os investidores de querer “esperar para ver”. Sem a necessidade de adotar movimentos bruscos antes desses eventos, o rali recente dos ativos de risco perde vigor, o que favorece a busca por proteção.

O dólar é negociado no menor nível em oito meses, ao passo que o rendimento (yield) do título norte-americano está no menor valor desde novembro. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, assim como as principais praças europeias. Nas commodities, o petróleo e o cobre recuam.

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