TSE do México monitorou e desmentiu fake news durante eleições do país
O presidente do Instituto Nacional Eleitoral do México (INE, órgão análogo ao Tribunal Superior Eleitoral brasileiro), Lorenzo Vianello, apresentou hoje (15) em Brasília a experiência do país nas eleições realizadas este ano e destacou que o órgão monitorou e desmentiu publicações falsas sobre o processo eleitoral em mensagens veiculadas no Google, Facebook e Twitter. Os desmentidos foram enviados diretamente aos usuários que tiveram acesso às fake news.
O relato foi apresentado no seminário Tecnologia e Eleições: Não Vale Tudo, organizado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e pelo Instituto Tecnologia e Equidade. O objetivo do debate foi mapear possíveis problemas relacionados ao emprego da internet e outras tecnologias da informação e comunicação nas eleições e discutir possíveis soluções.
Nas eleições realizadas no início de julho passado, o país elegeu como presidente o candidato López Obrador.
Assim como no Brasil, Lorenzo Vianello relatou que houve grande debate no México sobre o problema da desinformação e das chamadas notícias falsas e como lidar com estas, se por meio da censura e punição ou por meio da oferta de mais informação. De acordo com ele, o Instituto Nacional Eleitoral do México escolheu o segundo caminho.
Vianello disse que um convênio foi firmado com Google, Facebook e Twitter. O órgão monitorou publicações falsas sobre o processo (como data da votação e regras). Ao identificar, veiculava uma resposta com a informação correta, que era divulgada pelas plataformas aos mesmos usuários que tiveram acesso à mensagem falsa.
Projeto de checagem
A parceria entre a autoridade eleitoral mexicana e as plataformas também envolveu medidas de transparência acerca dos conteúdos pagos divulgados por candidatos durante o processo. Segundo o presidente, o repasse dessas informações foi fundamental para facilitar o trabalho do INE de fiscalização dos gastos de campanha com esse tipo de serviço.
Outra iniciativa mexiana foi um grande projeto de checagem denominado Verificado 2018, realizado por diversos jornalistas e veículos de mídia. Em quatro meses, foram 400 matérias verificadas, 50 vídeos produzidos, vistos 1 milhão de vezes. O projeto teve mais de 200 mil seguidores no Facebook e no Twitter.
“Colocamos o tema do combate à desinformação como tema central. Desde que começou, trabalhamos isso. A principal virtude dos convênios foi antecipar o que tínhamos, e teve um efeito inibidor”, avaliou o presidente da autoridade eleitoral mexicana.
Campanhas de desinformação
O secretário-geral adjunto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcos Lavocat Galvão, destacou como risco central envolvendo serviços online no pleito, a disseminação de desinformação. “Notícias falsas não podem ser toleradas no processo eleitoral. Campanhas de desinformação cada vez mais comuns apenas servem à mentira e ao preconceito. A prerrogativa de expressar-se livremente impõe também grande responsabilidade, o que não tem sido respeitado”, comentou.
O presidente do Instituto Tecnologia e Equidade, Márcio Vasconcelos, informou que a entidade lançou recentemente dois relatórios do projeto Desinformação em Eleiçõesno qual mapeia diversas pesquisas sobre o tema e aponta sugestões para combatê-lo. O documento trata não apenas de notícias falsas como de publicidade paga eleitoral e uso de robôs (bots), analisando o que chama de “desequilíbrios acelerados pela tecnologia”.
“Precisamos criar entre a mídia, agências de checagem e plataformas um modelo para que a sociedade possa reagir mais rapidamente. Além disso, é preciso promover iniciativas de alfabetização midiática. Este tipo de conteúdo deve entrar nos currículos escolares”, defendeu o presidente do IT&E. Mas alertou para o risco de algumas soluções legislativas apresentadas na Câmara e no Senado. “Há uma proliferação terrível de projetos de lei no Congresso com os quais precisamos ter cuidado”, comentou.
Plataformas
O vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, defendeu que, para além do cuidado com as chamadas notícias falsas e com a “pós-verdade”, também é preciso estar atento ao que chamou de “pós-democracia”. No centro deste problema, estaria a influência das plataformas no processo político. Esta é reforçada pelo poder dessas companhias de tecnologia sobre as pessoas a partir dos dados coletados destas e pela capacidade de influenciar eleitores ao direcionar mensagens baseadas em desejos e interesses mapeados.
“São empresas que fazem negócios com base em dados comerciais, que usam tecnologia para um público que os defende e que é preparado para criticar, mas não para criticar as plataformas em si. Fico inquieto em imaginar uma manipulação de dados feito por plataformas que sabem mais de você mesmo do que você, e te dirigem aquilo que você quer ouvir”, comentou.