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Trump x Harris: ‘Independente de quem vença, haverá desgaste entre China e EUA’; os reflexos para o agro do Brasil, segundo Itaú BBA

18 set 2024, 13:17 - atualizado em 18 set 2024, 13:17
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(Foto: Reuters/Eduardo Munoz, Nathan Howard)

O agronegócio dos Estados Unidos (EUA) e do Brasil acompanha com atenção o desenrolar das eleições norte-americanas e o que a eventual vitória de Kamala Harris ou Donald Trump pode representar para acordos comerciais, tarifas e barreiras para exportação.

Durante o Prosa Agro, podcast do Itaú BBA, Cesar Castro, gerente da Consultoria Agro, recebeu Christopher Garman, diretor executivo da Eurasia Group para as Américas, e Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco, que debateram as eleições dos EUA e os impactos para o agro brasileiro.

Garman ressalta que as políticas econômica e tarifária são os principais pontos de diferença entre a candidatura de Trump e Harris.

Segundo ele, Trump quer uma tarifa de 60% sobre todas importações da China no mercado americano. No entanto, o diretor da Eurasia diz que, independente de quem ganhar, haverá uma deterioração da relação bilateral entre China e EUA.

“Trump deve ter uma postura protecionista e tarifária muito grande, sendo um perfil de candidatura mais arrojada, vis-a-vis a China. Em Washington, existe um consenso entre os dois partidos de que o país asiático é a principal ameaça geopolítica dos EUA. Tanto Trump quanto Biden mantiveram tarifas sobre produtos chineses. Porém, o retorno de Trump pode acirrar uma política tarifária protecionista, especialmente em relação à China”.

Os efeitos da eleição para o agro do Brasil

De acordo com Garman, a dúvida fica para às medidas de retaliação dos chineses caso essas medidas protecionistas se confirmem, como o que aconteceu no primeiro mandato de Trump, quando o Brasil se beneficiou da guerra comercial.

Em comparação à guerra comercial de 2018, onde as exportações brasileiras de soja foram beneficiadas pelo redirecionamento da demanda chinesa, Garman aponta um cenário novo.

“O ponto de partida já é bem diferente, se a gente olha o perfil de importações de soja na China, o Brasil já ganhou um market share muito maior do que tinha no início do primeiro mandato do Trump. Não é trivial para os chineses quererem retaliar com uma política tarifária sobre produtos americanos para reduzir este percentual ainda mais, até porque a entressafra da soja do Brasil e dos Estados Unidos são complementares”, explica.

Agenda ambiental e biocombustíveis

Garman explica que a Kamala Harris conta com um perfil mais forte do que Donald Trump, o que deve representar uma política ambiental mais protecionista dos EUA caso ela vença. Trump, por outro lado, deve retirar o país do Acordo de Paris.

“Caso os EUA decida não cumprir essas metas climáticas, haverá impactos nas negociações da COP30, realizada em Belém, principalmente nas negociações de acordo de financiamento verde e climate finance de países industrializados. Caso o Trump vença, veremos um país menos preocupado do ponto de vista ambiental, mas ao mesmo tempo, defendendo os produtores norte-americanos”.

Para o Renewable fuels standard, política de biocombustíveis dos EUA, Garman não projeta grandes mudanças, já que busca defender os produtores do país como um todo. “O que pode ocorrer, mais especificamente para o etanol, é um ruído pela tarifa de importação imposta no governo Lula. Se o Trump vencer, acho bem provável eles retaliarem, já que esse é um incômodo que existe atualmente no governo Biden”.

Contudo, para o especialista, o Brasil está bem-posicionado em termos geopolíticos. “Temos os chineses querendo reduzir a dependência dos Estados Unidos e de um pouco do Ocidente, temos parte Europa querendo se aproximar com o Brasil em um acordo União Europeia e Mercosul ainda em jogo. Mas se o Trump prevalecer, a relação próxima do Brasil com a China será um foco de atrito, particularmente se o Brasil entrar na Rota da Seda”.

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