Trump, Wenbin e Tiktok, o elenco da nova Guerra Fria
As relações entre a China e os Estados Unidos estão estremecidas e não é de hoje, inclusive fizemos uma cobertura completa através de nosso serviço de notícias, o BRA News, acompanhando cada desdobramento do conflito.
Desde o início do ano as duas potências vêm se estranhando, chegando a travar uma guerra de narrativas acerca da pandemia de covid-19 que teve como primeiro epicentro a cidade chinesa de Wuhan.
O presidente americano, Donald Trump, sugeriu que as dimensões da epidemia foram deliberadamente atenuadas pelo governo chinês, dando tempo para que o gigante asiático se preparasse e adquirisse equipamentos de proteção dos mesmos países que seriam afetados posteriormente.
Acirrando ainda mais os ânimos, a China aprovou em maio a nova lei de segurança nacional que amplia seu controle sobre Hong Kong. Após tecer inúmeras críticas à lei, Trump finalmente anunciou em julho o fim do tratamento especial dispensado à Hong Kong, permitindo que os EUA apliquem ao território as mesmas tarifas e exigências comerciais praticadas com a China Continental.
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou na sexta (7) sanções contra várias autoridades de Hong Kong por supostamente minarem a autonomia do território. Entre elas a chefe do Executivo local, Carrie Lam, vista como responsável por promover uma agenda pró-China. As pessoas incluídas na lista terão eventuais bens bloqueados em solo americano e não poderão realizar negócios com cidadãos dos EUA.
Trocas de acusações
Na quinta-feira (6), o presidente americano assinou dois decretos para banir o TikTok e o WeChat dos Estados Unidos em 45 dias caso os aplicativos chineses não sejam vendidos para empresas americanas.
No mesmo dia, o Senado americano aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que proíbe funcionários federais de usar o TikTok em dispositivos cedidos pelo governo. Os Estados Unidos alegam que os aplicativos ameaçam a segurança nacional e os acusam de ser uma ferramenta de espionagem do governo chinês.
A China chamou os decretos de “manipulação política” e disse que os EUA estão usando segurança nacional como desculpa para adotar práticas anticompetitivas e suprimir empresas externas de forma não razoável. “Esse é um ato simplesmente hegemônico. A China se opõe firmemente a ele”, declarou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês.
O TikTok divulgou um comunicado se defendendo das acusações do governo americano de compartilhar dados com o governo da China.
De acordo com a empresa, o decreto de Trump pode representar uma falta de compromisso com o Estado de Direito e abre “um precedente perigoso para o conceito de livre expressão e mercados abertos”.
“Buscaremos todos as medidas disponíveis para nós, a fim de garantir que o respeito à lei não seja descartado e que nossa companhia e nossos usuários sejam tratados de modo justo – se não pelo governo, então pelos tribunais dos EUA”, afirmou a empresa.
A história não se repete, mas rima
O momento é de polarização entre as duas maiores potências da atualidade, não muito diferente daquele que vivemos durante a Guerra Fria. Não somos os primeiros a fazer a comparação, mas é difícil ignorar as semelhanças. Os atritos entre as duas potências, contudo, ganharam novos contornos com o teor de uma conversa entre representantes militares dos seus respectivos governos.
Segundo a agência de notícias oficial do governo da China, Xinhua, o ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, recomendou ao chefe do Pentágono, Mark Esper, que os EUA parem com “palavras e ações erradas” e “evitem movimentos perigosos” que possam agravar as tensões entre os dois países.
O fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio, afirmou em artigo no seu perfil do LinkedIn que as tensões econômicas entre os EUA e a China poderiam evoluir para um conflito armado, traçando paralelos entre o momento que vivemos e os anos que precederam a segunda guerra mundial. ⠀
“Comparações entre hoje e os anos 30 que culminaram na segunda guerra mundial, especialmente no que diz respeito a sanções econômicas são especialmente interessantes e úteis em estimar o que está por vir”, escreveu o bilionário.
Uma matéria da Reuters em maio chegou a levantar essa possibilidade. A reportagem falava sobre um relatório interno do governo chinês que alertava para uma crescente onda de hostilidade que poderia levar a um confronto mais direto.
O relatório, apresentado pelo Ministério de Segurança de Estado para os líderes de Pequim, concluía que o sentimento anti-China alcançava uma nova máxima desde o massacre na Praça da Paz Celestial em 1989.
De acordo com as fontes da Reuters, a China estaria se preparando para a pior das hipóteses: a possibilidade de um conflito armado.
Trump foi eleito prometendo deter a China e agora, em ano de eleição nos EUA, parece recorrer novamente à estratégia. O pano de fundo de todo esse conflito geopolítico é, naturalmente, o controle do mercado. Atualmente os dois países disputam a liderança da próxima revolução industrial, que seria impulsionada pela tecnologia 5G e pela inteligência artificial. Trump quer barrar o avanço da chinesa Huawei, líder mundial no 5G, e já conseguiu inclusive convencer outros países a banirem a empresa sob alegações de espionagem.
Próximos capítulos
O resto do mundo acompanha com apreensão à medida que as tensões sino-americanas se agravam e a rixa pesa sobre as principais praças acionárias. A cada novo desdobramento que ganha as manchetes, o mercado se desestabiliza.
Apesar de alguns temerem que a crescente hostilidade culmine em uma guerra, as economias das duas potências são entrelaçadas demais para um desfecho tão dramático. As linhas de montagem chinesas são responsáveis pela produção de inúmeros aparelhos eletrônicos das bigtechs americanas e acionistas chineses investem em milhares de empresas dos mais variados setores no país.
Após mais um dia de sucessivos desentendimentos e troca de farpas, o diplomata chinês Yang Jiechi argumentou que a China e os EUA só têm a perder caso continuem seguindo por esse caminho e a ganhar se agirem de forma cooperativa, tendo em vista o acordo comercial de fase 1 assinado pelos dois países em janeiro.
Washington e Pequim estão com reunião marcada para o próximo dia 15 a fim de debater a implementação do acordo. E seja lá o que ficar acertado nessa reunião com certeza terá impacto no mercado e, consequentemente, nos seus investimentos. Então fique ligado para não perder os próximos capítulos.