Internacional

Trump surpreende aliados com decisão unilateral sobre estímulo

07 out 2020, 8:12 - atualizado em 07 out 2020, 8:12
Donald Trump
O presidente despenca nas pesquisas enquanto se recupera da Covid-19, por isso sua decisão de enterrar publicamente um projeto de lei superior a US$ 1 trilhão confundiu aliados (Imagem: REUTERS/Tom Brenner)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu assessores de campanha e aliados no Congresso ao decidir eliminar, sozinho, qualquer chance de um novo pacote de estímulo do coronavírus.

Com isso, o presidente também assume a culpa por quaisquer demissões e perdas nos mercados nas semanas finais antes das eleições.

O presidente despenca nas pesquisas enquanto se recupera da Covid-19, por isso sua decisão de enterrar publicamente um projeto de lei superior a US$ 1 trilhão confundiu aliados, que haviam acusado a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, e democratas de irem muito longe nas negociações.

A menos que o presidente volte atrás, a decisão de Trump significa que americanos não receberão cheques de estímulo antes das eleições em 3 de novembro ou uma extensão de pelo menos US$ 400 por semana em benefícios para desempregados.

Qualquer medida de estímulo também teria incluído bilhões para testes de coronavírus e rastreamento de contatos, distribuição de vacinas e assistência financeira para os Correios dos EUA antes do dia da eleição.

Os congressistas pretendiam fornecer ajuda para setores específicos, como restaurantes, estabelecimentos de entretenimento ao vivo e companhias aéreas, bem como para aluguel, hipoteca e assistência alimentar para americanos afetados pelo coronavírus.

Na noite de terça-feira, Trump fez outro pedido para que o Congresso aprovasse imediatamente US$ 25 bilhões em ajuda às companhias aéreas e outros US$ 135 bilhões para pequenas empresas, mas uma abordagem fragmentada foi amplamente rejeitada pelos democratas.

Seu apelo foi acompanhado por uma série de tuítes tarde da noite nos quais Trump atacou democratas e os acusou de tentar sabotar sua presidência.

Trump encerrou as negociações para o pacote de estímulo menos de 24 horas depois de retornar à Casa Branca após três noites no Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, em meio a questionamentos sobre sua saúde.

Pessoas próximas a Trump dizem que ele está ansioso para voltar ao Salão Oval, embora vários outros assessores próximos tenham testado positivo para Covid na terça-feira.

Na noite de terça-feira, Trump fez outro pedido para que o Congresso aprovasse imediatamente US$ 25 bilhões em ajuda às companhias aéreas e outros US$ 135 bilhões para pequenas empresas (Imagem: REUTERS/Tom Brenner)

A decisão do presidente pode ter sido motivada pela dura realidade política. Atrás do ex-vice-presidente Joe Biden em dois dígitos nas pesquisas, Trump não tem capital político para reduzir a distância entre as demandas dos democratas por um projeto de lei de mais de US$ 2 trilhões e os republicanos do Senado que não querem gastar nem a metade.

‘Depois que eu vencer’

O presidente insinuou o dilema, dizendo que voltaria às negociações “imediatamente depois que eu vencer” as eleições.

Mas Trump corre o risco de estragos econômicos profundos antes do fechamento das urnas, pois companhias aéreas e outros setores atingidos pela pandemia ameaçam demitir em breve milhares de pessoas, pequenas empresas fecham em massa e escolas enfrentam o desafio de trazer alunos com segurança de volta às salas de aula.

Trump cancelou as negociações horas após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, pedir mais apoio fiscal para evitar uma crise econômica ainda pior nos EUA. Presidentes do Fed normalmente não comentam política fiscal, mas Powell tem pedido repetidamente ao Congresso que ignore o crescente déficit federal e injete mais dinheiro na economia.

Mas Trump corre o risco de estragos econômicos profundos antes do fechamento das urnas, pois companhias aéreas e outros setores atingidos pela pandemia ameaçam demitir em breve milhares de pessoa (Imagem Facebook/Donald Trump)

A senadora Susan Collins, do Maine, uma das republicanas mais vulneráveis à reeleição, disse em comunicado que é “um grande erro” esperar até depois das eleições presidenciais.

Biden também criticou Trump. “Não se engane: se você está desempregado, se sua empresa está fechada, se a escola de seu filho está fechada, se você está vendo demissões em sua comunidade, Donald Trump decidiu hoje que nada disso – nada disso – importa para ele”, disse em comunicado.