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Trump poderia usar o Irã como cartada final se o petróleo ultrapassar os US$ 70?

05 abr 2019, 15:11 - atualizado em 05 abr 2019, 15:11
A questão é: o que Donald Trump vai fazer em retaliação?

Por Barani Krishnan/Investing.com

Primeiro, a Arábia Saudita coloca em xeque sua participação de mercado. Agora, está ameaçando arriscar décadas de relação com os Estados Unidos para vender petróleo ao preço que deseja.

A questão é: o que Donald Trump vai fazer em retaliação?

Com a intensificação da briga pelos preços mundiais do petróleo, os EUA e seus aliados no reino do deserto, incluindo o aparentemente implacável príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, estão se arriscando de forma inédita em mais de 75 anos de história diplomática entre as duas nações.

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Uma reportagem da Reuters na sexta-feira indicou que Riad aumentou as apostas em seu enfrentamento com Washington, ameaçando vender seu petróleo em outras moedas que não o dólar, se os americanos aprovarem uma lei expondo membros da Opep a processos antitruste nos EUA.

O movimento é uma resposta à Lei contra Cartéis Produtores e Exportadores de Petróleo (NOPEC, na sigla em inglês), que alguns parlamentares estão pedindo que Trump use contra a Opep, liderada pelos sauditas.

A Opep e mais 10 países produtores de petróleo – separadamente liderados pela Rússia – vêm cortando a produção desde o início do ano, recuperando a maior parte da queda de 40% que o WTI e o Brent sofreram no crash do mercado petrolífero em 2018. Os futuros de gasolina saltaram ainda mais, quase 50%, provocando uma disparada nos preços das bombas, o que, em pouco tempo, poderia afetar o bolso dos americanos durante a preparação de Trump para sua campanha à reeleição.

De acordo com a Reuters, que citou fontes familiares com a política energética da Arábia Saudita em sua reportagem, as chances de os sauditas deixarem de usar o dólar na comercialização do seu petróleo eram tão improváveis quanto o uso da NOPEC pelos EUA para regular a oferta mundial de petróleo e obter o preço por barril ideal para sua própria economia.

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Jogo ousado dos sauditas

Mas os movimentos recentes mostram o dano que a Arábia Saudita está disposta a causar – minar a posição do dólar como moeda de reserva, eliminar a paridade do rial com a divisa norte-americana, reduzir a influência de Washington no comércio internacional, enfraquecer a capacidade de os EUA aplicarem sanções a outros estados e acabar com cerca de US$1 trilhão de investimentos sauditas nos Estados Unidos – se o governo Trump quiser entrar em uma briga.

Essas ações também mostram o quanto Riad precisa que o petróleo volte para cerca de US$ 80 por barril ou mais (o Brent, referencia mundial do petróleo, superou momentaneamente os U$ 70 na quinta-feira, antes de voltar a cair) para que o reino consiga financiar seu orçamento anual e continuar proporcionando, tanto aos membros da família real quanto aos seus súditos, um estilo de vida que poucas nações podem sonhar.

Os riscos para a Arábia Saudita no petróleo também são maiores do que nunca, desde o estabelecimento de relações diplomáticas com os EUA em 1933. Depois de anos planejando e recuando, o país está agora pronto para abrir o capital da sua petrolífera estatal Saudi Aramco, que gera US$ 356 bilhões por ano ao reino. Um mercado petrolífero forte é crucial para o IPO.

Como dito anteriormente, os agressivos cortes de produção dos sauditas pode custar a participação de mercado do seu petróleo Arab Light (LIGT3) na Coreia do Sul, Índia e outros países asiáticos, à medida que o óleo de xisto corre para preencher o vácuo deixado. Os exportadores americanos de petróleo atingiram o recorde de 3,6 milhões de barris por dia em março, e a previsão é que sua produção cresça explosivamente até 2025, quando os Estados Unidos devem produzir mais do que a Arábia Saudita e a Rússia juntas, segundo projeções. Até agora, Riad tem dado uma boa imagem pública à concorrência.

Mas voltemos ao argumento central: como Trump reagirá se o rali do petróleo continuar?

Tuítes de Trump sobre o petróleo não estão funcionando tão bem

O petróleo acima de US$ 70, ou pior ainda acima de US$ 80, por barril provavelmente desencadeará uma série de reações por parte do presidente.

Apesar de os sauditas aparentemente terem vencido o segundo round das “Ameaças de Tuítes” – com hedge funds dando apenas alguns centavos de concessão no preço nominal do petróleo após Trump disparar seu último alerta amigável à Opep há algumas semanas – há evidências suficientes de que esse presidente pode tomar ações bizarras quando é colocado contra a parede.

Algumas previsões dão conta de que ele pode vender o petróleo da Reserva Petrolífera Estratégica dos EUA – ou pelo menos ameaçar fazê-lo – para derrubar novamente o mercado. Poucos, no entanto, acreditam que ele brincará com reservais emergenciais tão importantes.

A teoria mais popular é que ele concederá uma nova rodada de concessões generosas a compradores do petróleo iraniano quando suas permissões de exportação expirarem em maio. O governo Trump fala em “zerar” as exportações petrolíferas iranianas, mas ninguém acredita nisso.

Trump poderia usar o Irã como cartada final?

Trump pode ir além disso tudo. Pode recorrer à sua cartada final sugerindo que os EUA estão dispostos a se sentar com o Irã se o país do Oriente Médio quiser evitar uma crise econômica ainda maior com seu programa nuclear. A mera noção de um acordo nuclear 2.0 entre EUA e Irã, permitindo que Teerã exporte seu petróleo novamente, ainda que com certas restrições, poderia fazer com que o preço do petróleo caísse cerca de US$ 5 e US$ 10 por barril.

No entanto, há muitas razões pelas quais tal acordo pode não acontecer. Entre as principais razões está o próprio desgosto que o presidente Hassan Rouhani tem por Trump, em comparação com seu antecessor, Barack Obama, bem como protestos por parte de Israel. A relação com a Arábia Saudita e Israel tem sido essencial para a política norte-americana no Oriente Médio, a fim de equilibrar as ambições do Irã na região.

Mas, a julgar pelo comportamento de Trump, o presidente pode propor conversas com o Irã apenas para plantar a semente do medo nos hedge funds que parecem agora dispostos a fazer o petróleo voltar às máximas anteriores ao crash de outubro de 2018.

Ninguém esperava que Trump se sentasse com Kim Jong-un depois de um ano trocando farpas com ele, embora a cúpula com o líder norte-coreano não tenha permitido que Washington avançasse nenhum passo em seu objetivo de desarmar nuclearmente Pyongyang. Até agora Trump tem feito o jogo chinês nas tratativas com a Coreia do Norte.

Uma oferta para negociar com os iranianos poderia prejudicar Trump, principalmente se Teerã gostar da ideia. Afinal, Obama fez a mesma coisa.

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