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Trump pode desacelerar, mas não deve interromper a produção de energia renovável nos EUA

06 nov 2024, 10:47 - atualizado em 06 nov 2024, 10:47
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Em 2022, Biden sancionou a Lei de Redução da Inflação, garantindo bilhões de dólares em subsídios para energia solar e eólica por mais uma década. (Imagem: pidjoe - iStock)

O retorno de Donald Trump à Casa Branca vai reorientar a política energética dos Estados Unidos para maximizar a produção de petróleo e gás, afastando a agenda de combate às mudanças climáticas, mas é improvável que a vitória dos republicanos nas eleições presidenciais desacelere drasticamente o boom de energia renovável no país.

Isso porque uma lei do governo do atual presidente dos EUA, Joe Biden, que forneceu uma década de subsídios lucrativos para novos projetos de energia solar, eólica e outros de energia limpa seria quase impossível de ser revogada, graças ao apoio dos Estados republicanos, enquanto outras opções disponíveis para o próximo presidente teriam apenas um impacto marginal, dizem analistas.

“Não acho que Trump como presidente possa retardar a transição”, disse Ed Hirs, especialista em Energia da Universidade de Houston. “A transição está bem encaminhada.”

As fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, são os segmentos que mais crescem no setor elétrico, de acordo com o Departamento de Energia dos EUA, impulsionadas por créditos tributários federais, regras estaduais de energia renovável e avanços tecnológicos que reduziram seus custos.

Em 2022, Biden sancionou a Lei de Redução da Inflação, garantindo bilhões de dólares em subsídios para energia solar e eólica por mais uma década, como parte de seu esforço mais amplo para descarbonizar o setor de energia até 2035 a fim de combater as mudanças climáticas.

Antes da eleição, Trump criticou a lei por ser muito cara e prometeu rescindir todos os fundos não gastos alocados por ela — uma ameaça que, se concretizada, poderia dar um banho de água fria no boom de energia limpa dos EUA.

Mas, para isso, seria necessário que os parlamentares, inclusive aqueles cujos Estados se beneficiaram de investimentos relacionados à Lei de Redução da Inflação, como fábricas de painéis solares, parques eólicos e outros projetos, votassem pela revogação da legislação.

“Os empregos e os benefícios econômicos têm sido tão grandes nos Estados republicanos que é difícil ver um governo chegar e dizer que não gostamos disso”, disse Carl Fleming, sócio do escritório de advocacia McDermott Will & Emery, que assessorou a Casa Branca de Biden na política de energia renovável.

Muitos dos aliados de Trump também se beneficiam da Lei de Redução da Inflação por meio de investimentos em tecnologias de energia limpa, informou a Reuters anteriormente.

Fleming disse que Trump poderia, no entanto, desacelerar as coisas nas margens, dificultando que órgãos federais concedam subsídios e empréstimos da Lei ou reduzindo o arrendamento federal para projetos como os de energia eólica offshore.

“É possível que um novo governo chegue e comece rapidamente a cortar orçamentos, restringir verbas ou minar a liberdade dos órgãos de fazer certas coisas que estão ligadas ao financiamento”, disse ele.

“Mas penso que é uma fatia relativamente pequena do grande mercado de energias renováveis que realmente depende de financiamento, então não acho que o efeito seria tão impactante.”

O governo Biden se apressou para gastar a maior parte dos fundos de subsídios disponíveis na Lei de Redução da Inflação antes da chegada de um novo presidente, informou a Reuters anteriormente.

Uma maneira de Trump retardar a transição seria por meio de ações como alterar o arrendamento de terras públicas, disseram os analistas. O governo Biden procurou expandir os leilões de arrendamento para energia eólica offshore em águas federais, juntamente com energia solar e eólica em terra.

“Acho que seria dada mais preferência à extração de combustíveis fósseis em terras e águas públicas”, disse Tony Dutzik, diretor associado e analista sênior de políticas do Frontier Group, um think tank de sustentabilidade sem fins lucrativos.

Isso poderia ter um impacto enorme sobre o setor eólico offshore, que tem como objetivo instalar projetos em águas federais. A maioria dos projetos solares e eólicos em terra está localizada em propriedade privada, assim como grande parte das perfurações de petróleo e gás.

Trump disse que pretende acabar com o setor eólico offshore “no primeiro dia”, argumentando que ele é muito caro e representa uma ameaça para as baleias e aves marinhas, uma reversão drástica da política depois que seu primeiro governo apoiou o desenvolvimento eólico offshore.

A Bernstein Research disse que Trump provavelmente decretará uma moratória sobre novas vendas de arrendamento eólico offshore.

Enquanto isso, a produção de combustível fóssil dos EUA provavelmente permanecerá praticamente a mesma sob o comando de Trump, segundo especialistas. Os EUA já se tornaram o maior produtor de petróleo e gás do mundo sob Biden, graças a um boom de perfuração em campos como a Bacia Permiana, no Texas e no Novo México.

Trump abriu o caminho para esse boom ao reduzir a burocracia durante seu mandato na Casa Branca e pode expandir a produção de combustíveis fósseis dos EUA em um segundo mandato ao reverter as iniciativas climáticas de Biden, disse sua campanha. Trump pode, por exemplo, pressionar pela perfuração no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, no Alasca.

Biden bloqueou as concessões de perfuração no local, mas mesmo que Trump abra a área, cara aos ambientalistas, não se sabe se as empresas estariam dispostas a perfurar ali.

“Os presidentes podem fazer muito barulho sobre os planos para o petróleo e o gás dos EUA, mas, em última análise, são os indivíduos e as empresas que respondem aos preços de uma commodity global que tomam as decisões sobre quando perfurar”, disse Jesse Jones, chefe de Upstream na América do Norte na Energy Aspects.